Demi Lovato no Brasil: uma discussão sobre saúde mental

Após 4 anos sem pisar nos palcos, Demi Lovato inicia sua turnê em São Paulo e levanta pautas sobre transtornos psicológicos
Demi Lovato em show do dia 31/08/2022, em São Paulo. - Foto: Kritikos

Na última semana, o Brasil foi palco de shows de artistas internacionais e pelo festival do Rock in Rio. Entre os grandes nomes, estava a cantora Demi Lovato, que abriu sua turnê no país e se apresentou no evento carioca. Em São Paulo, foram realizadas duas performances, com direito a fãs acampando para conseguir ficar perto de sua ídola. 

 Demi Lovato estava desde 2018 sem pisar nos palcos após uma overdose, que quase causou sua morte. Ela sofreu um ataque cardíaco e três derrames durante o episódio e, quando acordou, teve que lidar com sequelas como cegueira. Atualmente, a artista não consegue dirigir devido aos pontos cegos que ainda possui em seu campo de visão. 

Além de falar abertamente sobre seus vícios, Demi também incentiva discussões sobre a população LGBTQIAP+, uma vez que se identifica como gênero fluido; sobre transtornos psicológicos, como depressão, ansiedade e bipolaridade; sobre abusos sexuais, por ter passado por essas violências desde nova; e sobre bullying, com o qual Demi sofreu durante seu período escolar, causando sua saída da instituição onde estudou. 

Para além de seus álbuns, por levantar tantas bandeiras que são consideradas tabus na sociedade, a cantora conquista esse público, que estava presente antes das nove horas da manhã na porta do espaço Unimed para ver sua apresentação. Suzane, que fazia parte do grupo, conta que passou por bullying por ser uma menina negra e gorda, chegando a ser obrigada a comer areia por seus colegas de escola. Com 12 anos, foi diagnosticada com bulimia e depressão severa. Suzane conta como a relação com a música de alguém como Demi Lovato, que entendia sobre o que enfrentava, a ajudou: “Ela (Demi) não salvou minha vida, esse crédito é meu. Mas ela com certeza me ajudou a salvar minha vida”, afirmou a fã.

Apesar de termos campanhas como Setembro Amarelo, transtornos psicológicos ainda são pouco discutidos na sociedade. Vemos atletas e artistas abandonando suas carreiras para cuidar da saúde mental, mas o assunto raramente é abordado de forma tão honesta quanto a feita por Demi Lovato. Durante o show em São Paulo, a cantora conversou com o público sobre seus traumas e a importância da troca de histórias entre ela e seus fãs. Em especial através da sua canção “29”. A música conta sua relação abusiva com um homem 12 anos mais velho quando Demi tinha apenas 17. 

Apesar de ter uma história de vida considerada incomum, a forma como suas letras representam tantas pessoas que têm uma trajetória de luta e resiliência mostra o quanto as bandeiras que Demi levanta ainda precisam ser discutidas. Gabriel Vilela, escritor que também aguardava pelo show, relatou como se sente conectado com a artista. Vilela passou por um abuso ainda quando criança e, assim como Demi, teve sua primeira experiência sexual através de uma violência. 

Além disso, Vilela foi diagnosticado com transtorno de bipolaridade borderline, ansiedade generalizada e depressão, o que o levou a ser internado em clínicas psiquiátricas cinco vezes no período de outubro de 2020 até dezembro de 2021. Saber que existem outras pessoas que enfrentam o mesmo que ele ajuda na sua própria batalha: “Cada letra de música dela, cada vez que ela canta uma música de superação tipo ‘Skyscraper’, eu fico pensando ‘ela tá(sic) lutando todos os dias, assim como eu’”, relatou o fã.

A conexão com a comunidade LGBTQIAP+ também é intensa. Demi conta em suas canções sobre as descobertas sobre sua sexualidade e gênero. Como está no ramo desde a infância, a artista teve que passar pelo processo sob o olhar dos tabloides e aproveitou para dar voz a essa parcela da população através de suas músicas. Em hits como “Cool for the summer”, performada no show, Demi relata como foi o processo para também se relacionar com mulheres e para se aceitar. 

A passagem de Demi Lovato no Brasil foi repleta de muita emoção, representatividade e rock n’ roll.

COMENTÁRIOS

5 respostas

POSTS RELACIONADOS