Por Luciano Maluly
A frase acima foi enviada por um colega a outro que tentava propor o diálogo para a resolução de um problema que estava ocorrendo em um grupo. O questionado, como jornalista, desejava apenas ouvir todos os lados, sem tomar decisões precipitadas ou virar um inquisidor. Já tinha passado pela mesma situação em anos anteriores e as consequências foram o medo e o silêncio.
A patrulha ideológica nunca o deixou respirar, ou melhor, refletir sobre o momento. Sem contar que essa tensão sempre esteve presente em diversos ambientes, da mídia ao trabalho. A discussão revelou o monstro do mal travestido de bem. O falante determinou o que era certo e, desta forma, culpou o rival pelas mazelas do mundo. “O inferno são os outros”, já dizia Sartre.
O falso profeta talvez não conhecesse o filósofo francês. Ele escolheu seus modelos em outros lugares. Com orgulho, dizia que seus líderes propunham o novo e “chutavam tudo” porque desejavam mudanças.
Seguir a tarefa foi fácil para o reaça, pois o script (para não dizer, as palavras) estava pronto. A escolha dos adversários a serem batidos, ou melhor, banidos, já estava decidida. Assim, o inquisidor fez a limpeza étnica, social, cultural, política e moral.
O inimigo foi excluído sem dó. O estímulo ao derramamento de ódio até a morte era uma constante. As pessoas que estavam no poder destruíram os adversários em comum. Em seguida, como era previsível, foram também classificadas assim e eliminadas em um ciclo interminável de perseguição.
Todos saíram machucados. O debate franco nunca foi estabelecido. Tentaram calar a boca dos sujeitos que escolheram o diálogo, mas aquela ignorância não conseguiu destruir a luta coletiva pela vida. Como muitos amigos pacifistas e adeptos da não-violência, ele estava armado de poesia. E com cultura (educação, saúde e muito amor) estava preparado para vencer o terror.
Em resposta à pergunta do começo dessa história (De que lado você está?), o jornalista reproduziu a mesma réplica ao questionamento de um velho professor de jornalismo: O LADO DA VERDADE.
Para ele, liberdade era um direito de expressão (e de imprensa). Ele realmente acreditava que a arte venceria! Pintariam o set, fariam muitas danças, exposições, shows, plantações, peças, filmes, posts e outras alegrias que ajudavam a combater a fome e a dor extra do corpo e da alma.
No final, antes da última torção, ainda ouviu uma frase do torturador: VOCÊ É MUITO INOCENTE.
2 respostas
UM APARTE AO JORNALISMO ALTERNATIVO – DE QUE LADO VOCÊ ESTÁ?
No jornalismo, aprende-se que a verdade é uma construção social, com cenários, contextos, tempos, personagens, dentro de certas definições.
Lembro da palestra “A construção social da pauta ambiental” que ministrei na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, em 2010, quando debatemos, com alunos e pesquisadores, o uso das notícias para a construção das realidades sociais.
O jornalista não está ali para tomar partido, a não ser da narrativa.
Mas como não se posicionar se até o arroz e feijão que ele comerá após a entrevista já foi definido como seu prato predileto pela construção social de outros atores?
E as ideias? Acha que não são construídas? Como assim? Pensamos pelos outros, e os outros pensam por nós. Isso significa estar em sociedade, nessa psique coletiva.
O jornalismo sem cultura é impossível, pois o jornalista é fruto dela, ou mais, das suas referências, como a escola de comunicação que frequentou.
Seria possível escrever sobre ciência para um grupo de não cientistas, independente de posição ideológica? Mas é claro que sim, porque o jornalista também é cidadão.
E o jornalista científico tem quase que virar sociólogo pra entender o mundo.
Então me perdoe a devolutiva: de que lado você está?
Eu estou do lado da jornalista Carina Paccola, também assessora de imprensa da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), e do professor Dennis de Oliveira, do Grupo de Pesquisa em Jornalismo Popular e Alternativo (Alterjor) da USP.
POR: José Luiz Fernandes Cerveira Filho é professor de Sociologia na Universidade Federal do Paraná
Excelente, professor. Obrigado pela contribuição