Cuba libera investimento estrangeiro e transnacionais para abastecer mercado interno

Anúncios fazem parte da "Tarefa Ordenamento", reforma econômica iniciada em 2021
Novas medidas econômicas buscam abastecer mercado interno
Novas medidas econômicas buscam abastecer mercado interno - Yamil Lage / AFP

O governo de Cuba anunciou novas medidas econômicas para incentivar o investimento estrangeiro no mercado interno do país. A ilha irá autorizar a abertura de lojas atacadistas para atender a demanda nacional e também promoverá a criação de empresas mistas, com participação privada e estatal, para o varejo. As medidas fazem parte da Tarefa Ordenamento, um projeto reforma econômica iniciado em 2021. 

Por Michele de Mello, via Brasil de Fato

A vice-ministra de Comércio Exterior, Ana Teresita González Fraga, anunciou a criação de empresas estatais destinadas a prestar serviços de comércio exterior com “disposições mais flexíveis” do que as demais empresas gerenciadas pelo Estado. 

Há uma semana, o governo cubano já havia anunciado uma nova política cambial que desvalorizou o câmbio peso-dólar em 500%. O objetivo é equiparar a cotação oficial com a cotação do mercado paralelo e arrecadar moedas estrangeiras para os cofres públicos. 

Fraga ainda destacou que o objetivo é gerar impactos imediatos nas ofertas das lojas que vendem em dólares e em moeda nacional. 

“As ações adotadas até agora foram insuficientes pra frear complexa situação econômica do país. Ainda há desabastecimento no mercado interno e não houve impacto no comércio atacadista”, destacou a vice-ministra.

O governo espera que os investidores estrangeiros também atuem como financiadores de agentes nacionais que possam converter-se em fornecedores de produtos. A prioridade é abastecer o mercado com produtos alimentícios, itens de higiene pessoal e equipamentos para a geração de eletricidade com fontes renováveis de energia. 

“Hoje temos capacidades instaladas no país que por falta de financiamento não podem produzir bens de consumo”, explicou Fraga. 


O porto de Mariel, inaugurado em parceria com o Brasil em 2014, é a maior zona econômica especial de Cuba / Yamil Lage / AFP

A partir dos anos 2000, Cuba autorizou a criação de empresas mistas ou investimento estrangeiro somente em zonas especiais de desenvolvimento econômico, no setor de serviços e turismo. Antes disso toda estrutura de comércio e serviços era financiada pelo Estado. 

“O efeito da medida, que deverá começar com vendas em dólares, é incrementar a oferta em pesos cubanos e, com isso, conter o aumento dos preços e estabilizar a oferta, uma das maiores dificuldades que temos hoje”, explicou a ministra de Comércio, Betsy Díaz Velázquez.

As medidas buscam aquecer a economia cubana, que teve um crescimento de 0,5% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em 2021, como reflexo da pandemia de covid-19. A dívida pública representa 24,5% do total de US$ 2 bilhões do PIB cubano. Apesar da vigência da Tarefa Ordenamento, com a unificação das moedas cubanos e a liberação da circulação dólar, os preços da cesta básica alimentar, transporte e serviços tiveram reajustes superiores aos 60% planejados pelo governo em 2021, segundo levantamento da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal).

A inflação acumulada em 2021 foi de 500%, ainda de acordo com a Cepal. No entanto, a reforma gerou cerca de 200 mil novos postos de trabalho. A previsão da Cepal é de que a economia cubana cresça cerca de 4% neste ano. 

Desde 1961, Cuba enfrenta um bloqueio econômico aplicado pelos Estados Unidos que já gerou US$ 147,8 bilhões em prejuízos, segundo relatório do governo. 

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