Por: Valéria Jurado e Ale Ruaro * EXCLUSIVO para os Jornalistas Livres
Em 2021, 17 pessoas em situação de rua entraram para as estatísticas da prefeitura. Os registros informam que a pessoa “morreu do coração”. Para morrer de frio há que se ter um ataque cardíaco segundos antes, e posso garantir, tendo presenciado dois mortos ano passado, é uma morte horrível. Nos dois casos, os corpos pareciam “gárgulas” enrijecidos na figura da dor.
Por isso, como já tinha feito antes, montei uma RONDA para distribuição de cobertores aos vulneráveis ontem e farei novamente hoje. Venho me atualizando sobre a onda de frio polar há pelo menos dez dias, me organizei, chamei amigos voluntários, consegui doações para a compra de 300 cobertores no primeiro dia.
Pensei, com toda a estrutura que assisti e li sobre as ações da Secretaria e da Prefeitura, vai sobrar muito cobertor. Engano meu.
Saímos do ponto de encontro em comboio de seis carros. Na primeira parada, Pátio do Colégio, LOTADO. Estacionamos os carros e uma fila gigantesca se formou. Lá no meio, famílias com crianças pequenas e bebês que foram expulsas pela manhã da Okupa Rua Augusta, amplamente televisionada e também noticiada pelos Jornalistas Livres. Segundo os representantes do poder público presentes na desocupação, os moradores foram completamente assistidos na guarda dos pertences e encaminhamento aos hotéis sociais e vagas nos CTA’s. MENTIRA!
Encontrei amigos das ruas a quem já havia entregue algum tipo de assistência/produto, nas ações do inverno de 2021. Nada mudou na assistência do poder público em um ano. Tudo só PIOROU!
Seguimos em comboio para Praça do Patriarca, onde um corredor de vento se forma e o frio é bem maior do que mostra o termômetro, a tal sensação térmica. Um caminhão da Prefeitura servia marmitas, dezenas de pessoas dormindo no chão puro, estendemos cobertores sobre muitas delas.
Última parada, Praça Ramos Teatro Municipal, dezenas de SERES HUMANOS dormindo no chão gelado. Pessoas dizendo ter tuberculose nos pediram cobertor extra.
Acabou, zeramos os cobertores.
Nenhum dos vulneráveis que abordamos sabia dos abrigos improvisados no metrô ou qualquer um dos pontos anunciados nas TVs pela Prefeitura.
Morador em situação de rua não tem televisão.
As pessoas das ruas estão esquálidas, subnutridas, com sintomas gripais. Os turbeculosos ao abandono aguardando a morte. O SAMU não chega para eles. Quanto à COVID19, vai saber…
Mais um ano de tragédias anunciadas e continuamos “enxugando gelo”, segundo um morador/proprietário da região que acha inútil nossa RONDA DOS COBERTORES, afinal, “esses DORME SUJO só enfeiam a cidade”. Típico pensamento do cidadão de bem paulistano classe média, bem agasalhado e alimentado…
Sigo acompanhando os pronunciamentos sobre assistência à POP RUA que vêm do Secretário da Assistência Social Carlos Bezerra Junior e do Prefeito Ricardo Nunes, ambos muito criativos nas fanfics que vomitam em nossos ouvidos.
Enquanto aguardo o final da contagem de MORTOS DE FRIO, continuo a RONDA distribuindo quantos cobertores conseguir arrecadar para doar aos INVISÍVEIS, levantar a bunda do sofá é o mínimo no Brasil do Verme no poder.
*TEXTO : Valéria Jurado
Jornalista e Ativista de Direitos Humanos
Twitter @Valeria_Jurado6
Desde o início da pandemia reportando como voluntária às causas da POP RUA divulgando e atuando em várias frentes.
FOTOS : Ale Ruaro
Fotógrafo de Arte e Lifestyle
Twitter @aleruaro
Instagram @aleruaro
Registrando como Fotojornalista a situação da POP RUA durante toda pandemia.
Nota do editor: no twitter @Valeria_Jurado6 estão disponíveis informações para doações em dinheiro para compra de cobertores para a população em situação de rua .