Cracolândia em Emergência, Caminhos e Ações.

Por: Amanda Amparo, antropóloga, pesquisa do território, USP.

Foram 3 dias de seminário, onde foi possível articular uma série de elementos informativos de outros modos de produção de conhecimento. Tanto do ponto de vista, de quem produz, como das maneiras de se produzir. O evento apostou em mesas de conversa com múltiplos atores, privilegiando a pluralidade das vozes a soar, onde tinha como ponto de partida a voz de quem vive e convive com as complexidades do território conhecido por “cracolândia”.


A intenção ao construir o seminário, foi em primeiro lugar dar visibilidade às emergências, assim como traz o título, as lógicas de infração de direitos humanos sistemáticas agora em uma crescente escalada, onde muitos atores estão envolvidos. Nesta mesma urgência, a possibilidade de um debate amplo e rico, que possa ser capaz de discutir diversos temas que vêm sendo colocados como importantes para se pensar na questão. Bem como a criação de uma agenda e elaboração de um discurso coerente que possa a vir a colaborar na proposição de políticas públicas que realmente sejam capazes de impactar positivamente a vida das pessoas que convivem na região.
As atividades foram abertas com a mesa de conversa “ O que é Cracolândia” onde foi trazido a um histórico do território, e sua lógica de acontecimentos, projetos tanto do Estado quanto dos coletivos da sociedade civil que já atuaram e os que continuam atuando no território, quanto um panorama da atual situação. Conformando entre muitas vozes, trabalhadores do território, ativistas, pesquisadores e pessoas que hoje convivem no conjunto de pessoas e relações chamado de “ fluxo”. Logo após esta atividade houve uma apresentação artística, que trazia à tona muito humor na linguagem de circo que também dialogava com as tantas questões que perpassam a realidade do espaço e também uma apresentação musical.

Foto: Lucas Martins


No sábado a mesa de conversa foi a um debate sobre as problemáticas em torno do direito à cidade, as lógicas de gentrificação que tem se tornado motor dos muitos conflitos e a necessidade de pensar a moradia como o grande vetor inicial das possibilidades da criação de uma saída digna para as pessoas que sem este recurso convivem no território. Continuando com uma performance, que levava as pessoas para o lado de fora, transitando pelo território junto a quem quisesse se somar, onde foi possível perceber a importância dos múltiplos corpos e atuação para a construção de uma outra linguagem sobre a elaboração do fazer político. Com o apoio de um carro, a artista conduziu não apenas quem estava no seminário, mas a própria rua até o próximo local onde continuaria a programação do seminário.

A transição de um espaço cultural, já tão conhecido como espaço de resistência, Teatro de container Mungunzá, para o Bar da Nice, somando-se a própria rua, que foi fechada para a circulação dos carros, favorecendo a circulação de todas as pessoas, no caminho entre os espaços foram distribuídas marmitas para o almoço de todos que estivesse com fome, inclusive esta foi uma medida adotada em todos os dias das atividades, refeições para todos.
A mesa de debate se debruçou sobre a questão da Redução de Danos, o que seria reduzir dano? A diversidade da conversa mostrou que a experiência daquele próprio momento já era capaz de tal feito. Muitas vozes ecoavam sobre o tema, e dali muitas possibilidades surgiram. Logo após a discussão houve a apresentação artística da mulher que soprava fogo, junto ao ecoar dos berimbaus e os jogadores de capoeira, assim mais uma vez de modo itinerante o grupo ganhou a rua até o “fluxo”, onde puderam compartilhar a música e o jogo.

Foto: Lucas Martins


No último dia de atividade, no domingo, a conversa se deu em torno do Espaço de Uso Seguro, o que poderia ser? Esta, já é uma medida utilizada por tantos países que tiveram sucesso em reduzir o dano social em relação ao consumo de substâncias psicoativas. A discussão se deu de maneira a imaginar diversas possibilidades de locais onde de forma segura se pudesse fazer uso, mas também articular a própria dimensão da festa e necessidade de outras experiências, na construção deste espaço seguro. A festa então passou a ser mobilizada, enquanto ferramenta de outros êxtases, o samba, a dança, a alegria, o churrasco, que se iniciou na sequência ao debate, se contrapunha a dimensão de violência e repressão em que se tem estruturado as políticas voltada a esta população.

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