Por Homero Gottardello, advogado e jornalista
Quem espera que Rafael Ferreira Birro de Oliveira, empresário musculoso e “cidadão de bem” de 35 anos, seja denunciado e pegue uma pena modelar pode “tirar o cavalinho da chuva”. Oliveira foi flagrado no último dia 16 pelas câmeras de segurança de um prédio do bairro de Lourdes, em Belo Horizonte, agredindo a faxineira Lenirge Alves de Lima, de 50 anos, aparentemente por causa de ela estar lavando a calçada em que ele iria pisar. Foi com da mesma forma cesarista que, anteontem, ele deu “o cano” na oitiva marcada para o período a manhã, na Polícia Civil, sob o argumento de que deseja depor de forma reservada, escondido da imprensa e fugindo das vaias.
(Obs. Rafael só se apresentou para depor a uma delegacia da Polícia Civil uma semana depois da agressão, na manhã do dia 23, sexta-feira, mas usou o direito de ficar calado.)
É uma sequência de prepotências que revela que, mesmo agora, o rapaz de tradicional família de Governador Valadares está preocupado com sua imagem – e mais nada. Seu advogado, obviamente, já o informou que a pena máxima prevista para o crime em tela (art. 129, do Código Penal) é de um ano de detenção – não confundir com reclusão – e que, em função disso, não ficará preso um minuto sequer, mesmo que seja futura e exemplarmente condenado.
Se bem conheço este tipo de gente, sua versão para os fatos será bem diferente da apresentada pela vítima e registrada em vídeo. Mais do que isso, tenho convicção de que o rapaz vai dizer que “só” tomou a mangueira das mãos de Lenirge, a sacudindo com força absolutamente desproporcional à resistência oferecida e jogando a vítima no chão, depois de ser ofendido pela faxineira. Pior, na hora que der sua primeira entrevista para a imprensa vai jurar por Deus – “em nome de Jesus” – que não tinha intenção de machucá-la. Muito provavelmente vai chorar e dizer que “perdeu tudo”, seguindo o roteiro de “Sessão da Tarde” que todo pulha deste país já sabe de cor.
Vai dar a mesma desculpa ordinária de sempre: a de um covarde, de um vil, de um mariola. Porque qualquer pessoa que se excedesse, mas que tivesse o mínimo de hombridade, ao ver Lenirge estatelar no chão, interromperia a ação que deu causa à queda e prestaria auxílio imediato a ela. Mas Oliveira não fez isso – em sentido contrário, pegou a mangueira e ainda jogou água no rosto da senhora, se aproveitando de ela estar caída. Portanto, quando alegar que foi insultado pela faxineira, o “empresário” estará, apenas e tão somente, revelando que não faz jus ao adjetivo de moleque, já que, gramaticalmente, ele está anos-luz acima do seu caráter.
Se tiver contratado um advogado dos mais experientes e tarimbados, capaz de conseguir um atestado médico para seu cliente, o ‘bombadinho’ poderá lançar mão de uma justificativa mais convincente, que até cola no meio aristocrático e preconceituoso em que vive: é o uso de remédios controlados. Daí, tentará convencer o delegado, o Ministério Público, os sogros e, por fim, a sociedade, de que está bom para tudo – para ir a festas, para dar uma corrida com o cachorro, para namorar e até trabalhar –, menos para ser contrariado por uma faxineira lavando a calçada. Fico pensando em um sujeito desse tipo com uma carteirinha de Colecionador, Atirador e Caçador (CAC) de armas. Um perigo!
Sobre o fato de ele ter agredido uma mulher, uma senhora, e dado no pé, fugido, saído correndo logo em seguida, provavelmente vai dizer que “apenas” seguiu seu caminho, já que estava praticando uma corridinha para manter a forma. Se já teve o desprazer de ver as filmagens em que aparece como o valentão que bate em faxineiras, Oliveira deve ter reparado na reação do seu cachorro, que ficou espantado com a violência do machão. Por duas vezes, o cão foge do animal, com medo de que sua cólera também o alcançasse. Seguramente, aquele que parece ser um golden retriever pediria, se pudesse falar ou tivesse como se fazer representar, uma medida protetiva contra o dono, já que trata-se de uma raça muito admirada pela amabilidade e pelo companheirismo.
É um cachorro que, decerto, precisa ser salvo do convívio com uma besta…