Contra reforma da previdência, médicos municipais de São Paulo entram em greve

Oficio de greve encaminhado pelo Sindicato dos Médicos de São Paulo

Depois das manifestações realizadas em 2017 e 2018 contra o projeto SampaPrev que aumenta de 11% para 14% a contribuição da aposentadoria para servidores, o que é considerado pela categoria uma espécie de “confisco salarial”, os médicos municipais decidiram entrar em greve.

Inicialmente, falava-se em um percentual muito maior desse “assalto”: 19%, mas graças aos incessantes e gigantescos protestos realizados em 2017 e 2018, contra o PL 621/16, composto por médicos, professores e outras categorias de servidores municipais, o percentual foi reduzido. Apesar disto,  o SampaPrev não deixou de ser aprovado por vereadores de partidos aliados aos interesses do governo do prefeito Bruno Covas (PSDB).

Nesta quarta-feira, 30, recebemos um ofício datado de 28/01, vindo do Sindicato dos Médicos e endereçado ao Conselho Municipal de Medicina de São Paulo, o CREMESP, onde fica informado, que a partir de 4 de fevereiro, a categoria entra em greve. Por telefone, conversamos com Juliana Salles, médica dirigente do Sindicato e da CUT Nacional, para entendermos como se dará a paralisação. 

Juliana Salles, médica dirigente do Sindicato e da CUT Nacional

Jornalistas Livres: para que os paulistanos entendam como serão ou não afetados com a greve, achamos importante as pessoas entenderam onde estão atuando hoje os médicos do município. Onde trabalham esses profissionais?

Juliana Salles: trabalham na rede básica de atenção primária, em postos de saúde, as conhecidas unidades básicas de saúde e AMAS, aqueles equipamentos fechados em 2017, por Doria, atual governador, e em tese em unidades com tratamentos mais especializados em doenças infectocontagiosas com programas específicos, rede epidemiológica e hospitais.

Nessa realidade há uma lógica a ser esclarecida: toda a rede de atendimento já esta altamente terceirizada, por exemplo, na atenção primária. Estimo que mais de 50% já sejam profissionais terceirizados. Os hospitais têm passado pelo processo de terceirização da mão de obra, pois mesmo com o último concurso feito pelo ex-prefeito Fernando Haddad em 2016, o número de contratos foi muito aquém da reposição que seria necessária.

Há dados que do ano de 2013 para 2016, os profissionais que trabalham nessas unidades caíram em 10%, uma perda de 1000 médicos nesse período, sem reposição por concursos. A única substituição foi feita por terceirizados.

JL: Quantos são os profissionais na categoria no município de SP? A adesão a greve será de 100%?

JS: Somos 4800 médicos. A adesão não é de 100% dos profissionais, mas ao longo de 50 anos, segundo depoimentos de antigos sindicalistas, não há precedentes com médicos do município, inseridos e fortemente participativos de uma greve unificada com professores e outros servidores.

Sabemos que o direito de greve é o último recurso e os atos, tendo sido grandes em 2018, para não aprovar o projeto, a exemplo da manifestação dos 100 mil em 27 de abril de 2018 que nos coloca, junto com professores, na roda dessa luta. A educação no municipio não é terceirizada igual na saúde. Hoje você vai em qualquer estabelecimento de saúde e encontra terceirizados e concursados no mesmo posto com vínculos de trabalho diferente, além de setores completamente terceirizados. Na educação é diferente. Todo mundo sabe que a terceirização é maléfica por vários aspectos:

aumento de turn over (excessos de turnos), diminuição da permanência do profissional no local de trabalho, com isso a qualidade do serviço fica comprometida. Os salários são 70% menores comparados aos de concursados e não há estabilidade e nem previsão de carreira.

JL: Depois que vocês declararam greve a partir de 4 de fevereiro, houve alguma movimentação de abertura de diálogo com o prefeito Bruno Covas?

JS: Nenhum. Participamos das mobilizações contra o SampaPrev desde 2017 e todos os atos contra a reforma da previdência proposta por Temer. Mesmo agora, com a declaração de greve, a Secretaria Municipal de Saúde nunca nos chamou nem mesmo para apresentar um debate sobre a possibilidade de uma proposta de previdência que seja específica.

JL: Então como será a greve?

JS: O ofício já foi encaminhado para a Prefeitura e Secretaria Municipal de Saúde avisando em tempo hábil (72h antes da paralisação) que os médicos vão aderir à greve. Vamos manter os 30% dos serviços, e atendimentos de urgência emergência, tudo em consonância com o Sindsep, o sindicato dos servidões municipais.

Cada unidade vai avaliar o serviço que presta, quais tratamentos específicos deve continuar, por exemplo em locais com caso de febre amarela. Todo local vai ter comissão de esclarecimento para a população, oferecendo receitas médicas necessárias para quem não pode ficar sem medicação.

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