Contra cortes, estudantes ocupam reitoria da UFFS em Chapecó

Universidade Federal da Fronteira Sul. Foto: Isadora Stentzler.

– A nossa universidade tem um tripé: ensino, pesquisa e extensão. Isso é o que significa o símbolo das três chamas. E no primeiro corte eles atingem exatamente esse tripé – reverbera Maurício Lorenzetti, que aos 22 anos termina sua tese no mestrado de Ciência e Tecnologia Ambiental na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). Ali no espaço do bloco A com mais 30 pessoas, ele dá início a assembleia pública para ocupar o prédio da reitoria de Chapecó contra o corte de 41% que atingirá bolsas de pesquisa em extensão na universidade.

O anúncio oficial dado na terça-feira (17) por meio de nota já rondava o campi desde março. Sabia-se que o corte aconteceria, mas restavam dúvidas do que seria poupado. Na nota, é dito que os cortes que atingiram todas as universidades federais devido ao baixo orçamento do Ministério da Educação impactariam a UFFS em 41%. “Perante esse cenário, a Reitoria e as direções dos campi estão trabalhando, desde os anúncios das restrições orçamentárias feitas pelo Executivo Federal, para racionalizar os gastos institucionais de forma a mantermos a UFFS em funcionamento durante o ano em curso. A realidade atual é sobremodo restritiva, impondo-nos sacrifícios de toda a ordem e afetando todas as áreas da Universidade”, diz trecho. Entre esses sacrifícios estariam a redução de postos de serviço terceirizados; rescisão dos serviços de copeiragem e café; suspensão do serviço de manutenção preventiva; suspensão de compras de equipamentos de tecnologia de informação, mobiliário e acervo bibliográfico; suspensão de bolsas de pesquisa, extensão, cultura, monitoria e dos auxílios de viagem; e o contingenciamento de diárias, passagens, transporte terceirizado e material de consumo.

Foto: Isadora Stentzler
Foto: Isadora Stentzler

– Isso vai virar uma instituição focada no diploma – critica o estudante de Geografia Wagner Weiand, 19, sobre os cortes em bolsa de pesquisa ao mesmo tempo em que cita os gastos com café e copeiragem que bem podiam ter sido cortados antes – Gera uma precarização intelectual e a universidade que deveria ser uma universidade se torna um colegião. A extensão é a construção do conhecimento. Quando você corta, é a cultura que se afeta. O mesmo em relação às viagens. Eu que faço Geografia não posso ter ciência apenas do relevo de Chapecó. Preciso conhecer outros, senão a minha capacidade como lecionador será questionável.

No ano passado Weiand, que veio de São José do Cedro para estudar em Chapecó (a 160 quilômetros de distância), teve benefício de R$ 400 do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) – que não foi afetado nesse corte, mas representa o quanto o valor destinado aos estudantes auxilia na continuidade do estudo.

Embora o valor seja um ônus, estudantes que o recebem utilizam em gastos pessoais. Em Chapecó, onde não há moradia estudantil, por exemplo, as repúblicas se tornam mais comuns e as bolsas arcam com alugueis e alimentação.

Por isso os corte desses repasses representam, além da inexistência de novas bolsas de pesquisa, a evasão da universidade. Já que estudantes que contavam com os possíveis valores da pesquisa agora não terão algum.

Na quinta-feira (19) a fala de Lorenzetti lembrou esses problemas e levou os estudantes ao frenesi da ocupação.

Às 22 horas, quando a universidade ficou praticamente vazia, os pouco mais de 30 estudantes dirigiram-se ao bloco B onde montaram barracas e definiram as estratégias. A ocupação aconteceria no dia seguinte.

Foto: Isadora Stentzler.
Foto: Isadora Stentzler.

Ocupação

A reitoria da UFSS em Chapecó fica no centro da cidade, em um prédio onde até 2010 funcionou a Escola de Educação Básica Bom Pastor, do estado de Santa Catarina. O espaço remendado é alugado para a parte administrativa e para cursos – outros são realizados em um prédio na saída da cidade, onde o grupo de 30 se mobilizou para ocupação.

Na sexta-feira (20), por volta das 16h30, o reitor Jaime Giolo já sabia que os estudantes chegariam e esperava do alto de sua sala a chegada dos alunos. Pouco mais de 40 entraram pela rampa principal carregados de colchonetes e barracas enquanto uma chuva caía na cidade. O primeiro diálogo aconteceria só às 19 horas onde, pela primeira vez, alguns veriam o rosto do reitor.

Em uma roda no pátio coberto da instituição os estudantes reforçaram que eram contra os cortes. Do outro lado, eufemismo para abrandar a luta por alguém que não se despossou do seu trono.

– Para ele é fácil – acrescenta Lorenzetti – ele já ganha seus pares de mil por mês e não precisa se preocupar. No meu caso faço vaquinha com alunos do curso pra comprar materiais que não têm.

Embora a ocupação venha contra os cortes, ela traz a tona problemas que os estudantes convivem há tempos. Para quem deixa a universidade este ano, a luta é pelos outros. E para quem está nela é para seguridade de que terminará nela.

Tempo indeterminado

Até segunda-feira (23) a comissão geral da ocupação deve encaminhar um documento à reitoria com os pedidos dos alunos. Por ora as aulas na instituição devem seguir normalmente. Enquanto isso, comissões dentro da ocupação foram organizadas para manter a ordem do espaço. Homens, mulheres, negros, negras, brancos, brancas, cis, homossexuais, bissexuais e lésbicas fazem o coro dos quase 50 que resistem:

“A educação não vai pagar pela crise!”

 

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