Comunidade Yanomami é forçada a se refugiar na floresta após estupro e assassinato

Cerimônia de cremação do corpo e retirada do território faz parte dos costumes e tradições da Comunidade Yanomami Aracaçá
Foto: Júnior Hekurari

Os 24 indígenas da Comunidade Aracaçá, na Terra Indígena Yanomami em Roraima, tiveram que abandonar o território e adentrar na floresta em busca de um novo lugar de morada. 

A retirada aconteceu depois que uma criança de 12 anos que vivia na comunidade foi sequestrada, estuprada e morta por garimpeiros ilegais que atuam na região do Rio Uriracoera no último dia 25 de abril. Uma outra criança de 3 anos também foi levada pelos invasores, mas desapareceu após cair no rio e ainda não foi encontrada. 

“Ao chegar ao local avistamos a comunidade em chamas e sem a presença de moradores indígenas no local”, relatou Júnior Hekurari Yanomami, presidente do CONDISI-YY. 

De acordo com Hekurari, os indígenas daquela comunidade realizam um ritual de queimar o corpo quando um parente [forma como os indígenas se chamam] morre. Durante a visita foram constatadas marcas da queima de um corpo, possivelmente o da menina violentada e assassinada pelos garimpeiros. 

“Culturalmente nós queimamos o corpo para fazer o ritual e a despedida. Esses são nossos costumes para lidar com o luto dentro da floresta”, explicou o presidente do Conselho ao Jornalistas Livres. 

Lideranças indígenas também se reuniram, segundo a nota divulgada pelo Condisi-YY, e atestaram: “é um costume e tradição que após a morte de um ente querido, a comunidade em que residia é queimada e todos evacuam para outro local”.

Ainda não se sabe como começou o fogo, se foi por parte dos indígenas, dos garimpeiros ilegais ou um acidente por conta do ritual.

Foto: Júnior Hekurari

A retirada forçada dos Yanomami de seu território escancara a violência do garimpo na terra indígena. Além da parte de um ente querido, do luto e do medo, os povos originários também precisarão reconstruir a comunidade do zero em outro local, deixando para trás suas casas, rotina e lembranças.  

Mudas, plantas, rotina de caça, pesca e colheita de frutas, legumes e verduras também são deixadas para trás quando uma comunidade é obrigada a deixar o território. Há 500 anos os indígenas no Brasil se veem obrigados a se refugiar cada vez mais dentro das floresta à medida que o homem branco se aproxima trazendo ameaças, violências física e psicológica, além de doenças e uso de drogas e álcool. 

A Frente de Expansão, como chamam os estudiosos sobre o tema, faz com que os povos originários migrem lentamente, por longas distâncias, para o interior do país por consequência de pressões daqueles que invadem suas terras. 

Os crimes aconteceram na segunda-feira (25) e imediatamente os indígenas, através do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Condisi-YY), informaram o Distrito de Saúde Indígena (DSEI), a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), a Superintendência da Polícia Federal e a Procuradoria da República.  

Após visitar a comunidade e constatar que um ritual de despedida foi realizado, que um corpo foi queimado e que a comunidade se retirou do local, a FUNAI divulgou uma nota dizendo que “Autoridades federais não encontraram indícios de crimes contra mulheres e crianças na Terra Indígena Yanomami”. 

Veja a íntegra na nota abaixo: 

“Após extensas diligências e levantamentos de informações com indígenas da aldeia Arakaça, na Terra Indígena Yanomami (RR), a Polícia Federal, o Ministério Público Federal (MPF), a Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), com o apoio do Exército e da Força Aérea brasileira, não encontraram indícios da prática dos crimes de homicídio e estupro ou de óbito por afogamento, conforme denúncia do Conselho Distrital de Saúde Indígena. 

As equipes se deslocaram para a Região do Waikás na quarta-feira (27) para averiguar relatos de eventuais crimes dos quais teriam sido vítimas mulheres e crianças indígenas da localidade, conforme narrado em ofício encaminhado pelo Conselho Distrital de Saúde Indígena. Os órgãos ainda estão em diligência em busca de maiores esclarecimentos. 

As instituições reafirmam o comprometimento no cumprimento de suas atribuições e ressaltam que todas as denúncias recebidas são devidamente apuradas”.

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