Em 1992, durante o Primeiro Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas na República Dominicana, instituiu-se o 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha. Em 2014, a Presidenta Dilma sancionou esta mesma data como Dia Nacional Tereza de Benguela e da Mulher Negra.
Desde o estabelecimento da comemoração na década de 1990, tem crescido no Brasil o volume de eventos políticos e culturais que objetivam discutir questões caras às mulheres negras, ao tempo que também fazem circular sua produção intelectual e artística. Dessa forma, afirma-se o mês de julho como mês das mulheres negras brasileiras, pautado por programação ativa, crítica e reflexiva que as tem como grandes timoneiras. Tanto aquelas oriundas de organizações mais convencionais, quanto as outras, integrantes de novíssimos coletivos políticos. Também aquelas que se juntam para propor um programa exclusivo no Julho das Pretas.
Mais do que fazer uma cartografia dos eventos, nomeando-os e localizando-os no espaço político-geográfico, interessa-me registrar e agregar algumas características gerais, muito positivas, cuja sistematização pode vir a ter alguma utilidade para o futuro. Interessa-me mais o tempo político desses acontecimentos.
A primeira característica que me move é geracional. Noto um protagonismo de mulheres negras que estão entre trinta e quarenta anos e que têm se responsabilizado por estabelecer pontes entre sua própria geração e as mulheres de menos de trinta, bem como entre as maiores de quarenta, cinqüenta, sessenta, setenta anos…
As mais velhas, principalmente, as bem mais velhas, têm sido tratadas nesses momentos como sábias senhoras. Isso vai da designação de espaços, assentos especiais, aos cuidados carinhosos e destaque aos lugares de fala das mais experientes.
As juventudes, por sua vez, têm sido instadas a interagir com as mais velhas e a aprender pela troca, pela experiência e pelo exemplo.
Essa posição de ponte exercida pelas balzaquianas tem sido fundamental para promover um diálogo fluido, pleno de frestas e sem arestas, que se vale também de manifestações culturais e de apresentações artísticas para promover e discutir política, além dos necessários debates temáticos.
Existe um diálogo freqüente e profícuo com as novas tecnologias de comunicação. Os registros são de alta qualidade no formato de livros bonitos, leves e dinâmicos; áudios igualmente bem feitos, alguns curtos, outros longos, disseminados pela Web. Não raro, podemos acompanhar os eventos em transmissões feitas em tempo real, em qualquer parte do país, quiçá do mundo.
Por fim, as organizadoras do Julho das Pretas, por todo o país, têm sido capazes de mobilizar significativos públicos negros, não necessariamente filiados a organizações políticas, nem mesmo aos novíssimos coletivos políticos ou culturais formados para atuar na Web ou a partir dela.
Trata-se de mulheres negras, jovens, a maioria, interessadas em processos de afirmação identitária, discussão política, arte, estética e cultura negras, aprendizados múltiplos, trocas entre pares e sustentação ao protagonismo de mulheres negras.
O Julho das Pretas veio para ficar e para transformar.