Foi divulgado que a população imigrante de origem indígena agora pode se autodeclarar com tal na coleta de informações do Censo 2022. Ao selecionar a opção “indígena”, outras perguntas, que não são feitas às demais categorias, serão disponibilizadas ao indivíduo. São elas: “Qual é a sua etnia, povo, grupo indígena?” e “Fala língua indígena no domicílio?”. Nessa parte, é possível selecionar três línguas, duas etnias ou até não preencher as linhas disponíveis – o que não anula a identificação como indígena. Vale ressaltar que a autoidentificação no censo não implica cadastro na Fundação Nacional do Índio (FUNAI). A medida visa a permitir a melhor identificação de latino-americanos que tiverem imigrado para o Brasil.
Por Camilla Almeida
De acordo com Marta Antunes, coordenadora do Censo de Povos e Comunidades Tradicionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Censo aplica o mesmo procedimento para imigrantes, refugiados e residentes do Brasil. Na cidade de Boa Vista (RR) e Pacaraima (RR) foi realizada uma coleta em abrigos indígenas nos quais residem indígenas de etnias venezuelanas, como por exemplo, a Warao. A coordenadora afirma que foram tomada medidas que objetivam o incentivo a autodeclaração indígena entre imigrantes e refugiados, como a tradução do formulário para espanhol e línguas tradicionais indígenas. Ela reforça que não existe a necessidade de documentação em dia para responder o Censo.
Karla Burgoa, jornalista de origem quechua, de Potosí, da Bolívia, relata a demora do governo em construir um censo abrangente com relação à população imigrante no Brasil. “Não existe qualquer preocupação em difundir informações nem políticas públicas para a população que vem de outro país e pouco existe acolhimento ou sensibilidade para os povos indígenas imigrantes”, relata Karla. A falta de dados gera um apagamento dessa parcela populacional, que sofre com a falta de direitos básicos e com a renegação de sua cidadania.
A jornalista frisa que a possibilidade de autodeclaração indígena é uma conquista para o povo imigrante, que antes se identificava no censo como pardos ou até mesmo amarelos. “Algo que antes tentávamos nos encaixar nas categorias coloniais que não refletem a diversidade do povo. A educação étnico-racial no Brasil é quase inexistente e não é difícil encontrar pessoas que sequer saibam o que significa ‘indígena’”, coloca Karla. Essa nova medida implica no recolhimento de dados sobre esse determinado grupo, o que possibilita a criação de políticas públicas e auxilia no mapeamento étnico-línguistico do Brasil.