Cartas da Resistência: a luta contra a escravidão e pela liberdade

“Não serei o poeta de um mundo caduco
Também não cantarei o mundo futuro
Estou preso à vida e olho meus companheiros

Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças
Entre eles, considero a enorme realidade
O presente é tão grande, não nos afastemos
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas”

Mãos Dadas- Carlos Drummond de Andrade

Amados e amadas,

Eu sou branco de olho azul, mas irei caminhar com os negros e as negras no dia 20 de novembro.

Algum desavisado vai me dizer o que faço lá e direi que aprendi que no capitalismo somos todos escravos dos donos do dinheiro, e não importa se meus olhos são azuis, pois para esta gente eu sempre serei um escravo.

Neste dia voltarei a usar o meu anel de coco símbolo da aliança com o Deus dos pobres. Vou seguir os passos de D. Helder, de D. Paulo, de meu irmão de fé Leonardo Boff e frei Betto. Estarei lá para dizer aos negros e negros, os pobres e todos os perseguidos pelos poderosos que vocês são meus irmãos e irmãs.

Neste dia, o sorriso de Dom Luciano Mendes de Almeida me acompanhará e a luz da esperança dos olhos de Dom Paulo iluminará nossa resistência, pois  a turma do ódio planeja maldades e brutalidades contra pretos e pretas, para aqueles que não são hétero como eu, contra os que insistem em ter direitos trabalhistas e contra aqueles que ousam defender a igualdade entre os seres humanos.

Neste dia, estarei lá com Martin Luther King e Rosa Parks, pois sei que o tempo da desobediência pacifica é chegado. Sei que teremos que fazer muitas marchas para defender o direito de ser tratado como gente.

Que teremos de seguir os passos de Gandhi para não sermos novamente colônia e não ser tratados como seres de segunda ou terceira classe.

E neste tempo em que a brutalidade se instala, em que o ódio se espalha pelas ruas, em que a liberdade está por um fio em nosso país, e que devemos de estar de mãos dadas para dizer que não aceitamos ser escravos e vamos defender a liberdade herdada da luta dos quilombos.

Nossa luta vai resgatar os poemas de Castro Alves  para defender a abolição da escravidão. Vale lembrar o movimento dos caifazes que libertaram os escravos das senzalas e junto com os ferroviários os levava para o quilombo do Jabaquara. Lembrar dos índios e brancos pobres marginalizados viviam nos quilombos e dividiam a alegria de viver numa sociedade igualitária.

Agora seguimos todos os passos de Zumbi, em que cantar a liberdade é obrigação e condição de celebrar nossa existência e preparar a resistência.

Caminhar juntos com negros e negros neste dia é a imagem que os que vão assumiram o poder menos querem ver.

Encontro vocês na tarde do dia 20 de novembro lá no MASP.

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