Capitão Cloroquina e a estratégia genocida: como Governo Bolsonaro mandou ao matadouro o rebanho iludido

Para compreender a gravidade e a magnitude dos crimes cometidos pelo governo Bolsonaro durante a pandemia de covid19, Átila Iamarino propõe um exercício imaginativo: “Imagine que você quer mandar as pessoas para morrer. Se você enfiar estas pessoas num avião, chegar lá em cima e ordenar a elas que pulem,  elas não vão querer pular pois sabem que estão sem paraquedas. Você vai fazer mais gente pular do avião se você der uma mochila sem nenhum paraquedas dentro e mandar que pulem – porque agora as pessoas se sentem protegidas.” 

Para explicar que o Brasil tenha ultrapassado 400.000 vidas perdidas e ultrapassasse os EUA em mortos por milhão ao fim de Abril de 2021, tornando-se o pior país das Américas neste quesito, o exemplo de Iamarino é oportuno. Se alguém iludisse as pessoas dentro de um avião a acreditarem que estavam com paraquedas, fomentando nelas um falso sentimento de segurança, para depois incentivá-las à queda livre, sabendo que se estrebuchariam no chão e sofreriam uma morte horrível, dificilmente poderíamos evitar de chamar o sujeito que disse “pulem!” de serial killer (denominação que o governador do Maranhão, Flávio Dino, recentemente utilizou para se referir ao presidemente). 

Este sujeito hipotético do avião que manda as pessoas saltarem, mentindo para elas acerca de uma proteção inexistente de que elas gozariam, estaria fazendo algo bem semelhante ao que fez o Capitão Cloroquina, Jair Bolsonaro, diante dos rebanhos humanos que ele manipulou com tanta crueldade e estupidez durante a pandemia. Seguindo a risca sua estratégia da mentira compulsiva, o bolsonarismo iludiu as pessoas de maneira criminosa e com cataclísmicas consequências que continuaremos a sofrer por muito tempo ainda.

Click na imagem acima e leia a matéria de capa da revista Istoé

O governo Bolsonaro, tal como denunciado tanto pela pesquisa USP/Conectas coordenada por Deisy Ventura quanto pelo relatório da OAB que denuncia a “República da Morte” (click e acesse na íntegra), engajou-se deliberamente numa campanha de comunicação social que vendeu às massas a ilusão de que elas estavam protegidas. O “pulem do avião pois vocês estão com um paraquedas nas costas” é análogo ao discurso bolsofascista que infectou a sociedade brasileira com algo deste teor: “não fiquem em casa, nem usem máscara, não sejam maricas! Pois se vocês pegarem a gripezinha tem um remédio que a cura! E o Meu Exército inclusive está fabricando comprimidos aos milhões (e se me perguntarem sobre superfaturamento, eu encerro a entrevista e mando você ir perguntar pra sua mãe!)“.

(Sobre o tema, Repórter Brasil publicou em Junho de 2020: Laboratório do Exército já gastou mais de R$ 1,5 milhão para produção de cloroquina, alvo de investigação do TCU.)

As provas e evidências de tais atentados contra a saúde coletiva abundam. Ao contrário dos algozes de Lula, que usaram da lawfare golpista não tendo provas mas apenas convicções, nós queremos que Bolsonaro e seus cúmplices sejam punidos e temos provas fartas da delinquência reincidente do comandante-em-chefe do morticínio. Para além de utilizar-se reiteradamente de sua posição como figura pública ouvida pelas massas para fazer a defesa da cloroquina milagrosa, o governo gastou dinheiro público para promover e disseminar tal nefasta ilusão:

AGÊNCIA PÚBLICA – “Mais de R$1,3 milhão dos cofres do governo federal foram utilizados para pagar ações de marketing com influenciadores sobre a Covid-19. O valor foi investido pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria de Comunicação (Secom) e inclui R$85,9 mil destinados ao cachê de 19 “famosos” contratados para divulgar estas campanhas em suas redes sociais.” [SAIBA MAIS] – Veja também matéria do UOL

Em outros termos, o governo pagou mais de um 1 milhão de reais para que influenciadores digitais mentissem à população: eles queriam que o gado, infectado com ilusões, sentisse que era seguro seguir normalmente com a vida, desdenhar de máscaras, desrespeitar o distanciamento, pois afinal de contas a cloroquina poderia tranquilamente curar a “gripezinha” desde que administrada precocemente. Em seu primeiro episódio da 5ª temporada, Gregório Duvivier em seu Greg News expôs muito bem a execrável covardia do Bolsonarismo ao mandar ao matadouro o rebanho de crédulos cidadãos que, de maneira ingênua, foram levados a acreditar em falsas soluções simples para a pior crise sanitária do século 21: 

Analisando 98 países, o instituto Lowy da Austrália colocou o Brasil em último lugar pela (falta de) qualidade da resposta governamental à crise pandêmica. O principal responsável por estarmos nesta lanterninha é, evidentemente, o genocida que habita o Palácio do Planalto. Chefiando um governo obscurantista, negacionista, teocrático, desprezou a ciência e desdenhou das vidas, de maneira ostensiva e deliberada. A conclusão não pode ser outra, como soube bem argumentar uma das melhores jornalistas do Brasil, Eliane Brum, em El País: governo promoveu uma “estratégia institucional de propagação do coronavírus”.
 

Aos que não gostam da palavra genocídio, fiquem à vontade para chamar o fenômeno por termos que lhes agradem mais: morticínio, carnificina, serial killing. O que não é suportável, nesta conjuntura já repleta de insuportabilidades, é que se continue a “passar pano” sobre as cachoeiras de sangue que o Bolsonarismo já derramou. São centenas de milhares de mortes evitáveis que tais estratégias já acarretaram. Até quando seu perpetrador-mor e seus principais cúmplices, no topo da pirâmide hierárquica, continuarão empoderados, impunes e promovendo a continuidade da mortandade sem fim?

 

BRUM, Eliane. Em El País. Click acima e acesse a matéria completa.

 

 

A FRAUDE NEFASTA DA “IMUNIDADE DE REBANHO”

Entre as razões para a delinquência mortífera do desgoverno Bolsonarista figura certamente a aposta na “imunidade de rebanho”, “uma perigosa falácia sem respaldo científico”: “Em carta aberta, 80 pesquisadores clamam contra a proposta de permitir a livre infecção da população, o que, segundo a OMS, causaria 77 milhões de mortes.” (El País)

A aposta dos negacionistas governistas, como Osmar Terra, era de que a pandemia iria desaparecer magicamente após algumas semanas de infecção viral deliberadamente incentivada pela estratégia cloroquínica: convencer os crédulos de que a gripezinha não merecia maiores preocupações, que já havia um remédio eficaz para ela, desde que administrado precocemente. Era tudo mentira. E algumas centenas de milhares de pessoas pularam do avião crentes no Mito que garantiu que tinham nas costas uma mochila com um perfeito paraquedas, quando na verdade estavam sendo empurrados para uma infecção terrível que mata por sufocamento.

Não surpreende que a ideologia obscurantista que é o Bolsonarismo, que tem  afinidade com teocracias fundamentalistas e explícitas ligações com os pastores neopentecostais que ficam ricos mercadejando ilusão, tenha preferido ignorar os cientistas que em coro se manifestaram, em artigo publicado pela The Lancet, em sublinhar a fraude nefasta da “imunidade de rebanho”. Esta estratégia genocida, que levaria a quase 80 milhões de pessoas mortas mundo afora caso fosse adotada pelos governos do planeta, foi justamente a tática que o Bolsonarismo abraçou sem voltar atrás.

 “O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, que declarou: ‘nunca na história da saúde pública se utilizou a imunidade coletiva como estratégia para responder a um surto, e muito menos a uma pandemia. É científica e eticamente questionável'”, como relata esta matéria da Tech Mundo

Também vale notar que a “American Public Health Association (APHA) e outras 14 organizações de saúde pública disseram que a sugestão não é ‘uma estratégia, mas uma declaração política’: ‘se seguidas, as recomendações sacrificariam vidas aleatória e desnecessariamente. Ela ignora conhecimentos sólidos de saúde pública. Em vez de vender falsas esperanças que previsivelmente sairão pela culatra, devemos nos concentrar em como gerenciar essa pandemia de forma segura, responsável e equitativa'”. (TechMundo, op cit)

Ao sabotar as iniciativas de lockdown (como aquelas adotadas pela prefeitura de Araraquara/SP, sob gestão petista, tida como exemplar no salvamento de vidas), o governo Bolsonaro apostou na disseminação do vírus para que milhões se infectassem logo e se pudesse atingir velozmente a lendária imunidade de rebanho. Este conceito espúrio, sem fundamentação científica, esteve na base da tática deliberada de sabotagem das medidas de isolamento social, na crítica ao uso de máscaras e no grotesco atraso na compra de insumos e vacinas, quadro piorado pela diplomacia estúpida capitaneada pelo Olavete do Itamaraty, Ernesto Araújo.

O governo preferiu desferir coices contra a China e o “comunavírus”, por exemplo, ao invés de ter a dignidade de reconhecer a exemplar competência dos poderes públicos e da sociedade civil chinesa que conseguiram a proeza de manter a pandemia sob controle: durante a pandemia inteira, a China contabiliza menos de 5.000 mortes em uma população que excede 1 bilhão e 400 milhões de pessoas.

artigo de Cesar Baima para Questão de Ciência destacou que outros governos, como Boris Johnson na Inglaterra, chegaram a apostar na imunidade de rebanho, mas foram logo dissuadidos e mudaram de estratégia. Jair Bolsonaro e seus cúmplices – entre eles, os pastores evangélicos, os megaempresários (Hangs, Wizars e quê tais) – insistiram no erro e produziram um genocídio ainda em curso.

 Com seu desejo de alinhar-se de maneira vira-lata ao Trumpismo, nosso “projetinho de Hitler tropical” acarretou uma catástrofe sanitária sem precedentes em nosso país: juntas, as administrações necrófilas de Trump e Bolsonaro, fundamentalistas do hipercapitalismo neoliberal, produziram 1 milhão de cadáveres evitáveis. Trataram pessoas como se não passassem de ovelhas em um rebanho sacrificável no altar do capital e dos triunfos eleitorais. O tiro saiu pela culatra e Bolsonaro cavou sua própria cova: com a CPI do Senado, provável antessala do impeachment, o presidemente delinquente vê delinear-se no horizonte a plausível transformação do Mito em um réu por crimes contra a humanidade.

 

 

OUTRAS LEITURAS SUGERIDAS:

BAIMA, Cesar. A ilusão da imunidade de rebanho na COVID-19, na teoria e na prática. Click acima e acesse o artigo na íntegra.

  • NATIONAL GEOGRAPHIC – Pensar em imunização de rebanho não funciona para pandemias. Nem uma vacina fraca. A cada surto surgem discussões sobre imunidade de rebanho e contágio natural. A vacinação eficaz sempre vence.
  • BBC – Coronavírus: apostar em imunidade de rebanho sem vacina é péssima ideia, alerta cientista. 
  • A CASA DE VIDRO – GENOCÍDIO PANDÊMICO – Pesquisa atesta estratégia de propagação da Covid-19 por parte do governo Bolsonaro. Por Renato Costa. Acesse.

COMENTÁRIOS

5 respostas

  1. Eu peço que saibas, qual é a principal origem da fé demente de Jair Bolsonaro, nos (falsos) poderes da cloroquina, contra o coronavírus. É o bruxo Olavo de Carvalho.

    Em meio à pior catástrofe de saúde pública da história do Brasil, Jair Bolsonaro baseia a saúde pública do Brasil, nas opiniões de Olavo de Carvalho que é um astrólogo e bruxo.

    Num vídeo do começo de 2020, o bruxo Olavo de Carvalho “provou” que, a hidroxicloroquina é um remédio milagroso, contra o coronavírus.

    O vídeo está neste site:

    https://www.youtube.com/watch?v=pM9NuVXUGpo&t=1851s

    Segundo Jair Bolsonaro e inúmeros famosos pastores pentecostais, desde o Jejum Nacional de Oração, em 5 de abril de 2020, o coronavírus está completamente extinto do Brasil.
    Veja a “prova” da extinção do coronavírus, neste vídeo:
    https://www.youtube.com/watch?v=MV7vR1ZX19Q

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