Contra o sucateamento dos serviços públicos, servidores municipais seguem em luta.

Os funcionários públicos municipais de Campinas (SP) entraram, nesta Segunda-Feira(06),  na 3ª semana de greve contra a falta de valorização e o descaso da atual administração pública da cidade, comandada pelo prefeito Jonas Donizette (PSB), para com os serviços e servidores públicos. A mobilização começou no dia 23 de Maio.

Este processo teve como estopim a proposta de 0% de reajuste oferecida aos trabalhadores da categoria e a manutenção da mesma após 7 rodadas de negociação. Só no dia 25 de Maio, quando a greve já tinha sido deflagrada, a prefeitura acenou com uma proposta de reajuste de 6% parcelado (3% em Maio – 3% em Setembro), valor bem inferior a inflação acumulada, que gira na casa dos 10%. Esta contra-proposta voltou a ser rejeitada pela categoria, que manteve sua reivindicação de 23% de reajuste, índice que resultaria (descontada a inflação e outras perdas salariais não repostas) num aumento real de 1%.

Apesar de iniciada a partir de uma questão de valorização salarial, a greve também tem sido construída por pautas que transcendem esta fronteira, colocando na parede a política de investimento do dinheiro público adotada pela administração municipal atual, muito questionada por ter  aumentado o número de funcionários comissionados e denunciada por assinar contratos superfaturados.

Segundo informações do vereador Paulo Bufalo (PSOL), em 2014, o prefeito Jonas Donizette aprovou uma lei complementar que aumentou os cargos comissionados em 100, contradizendo a recomendação de corte de pelo menos 400 feita pelo Ministério Público. Isto impactou o orçamento em mais de 3 milhões de reais. O vereador também denuncia a prefeitura por superfaturamento em contratos com a iniciativa privada, caso da merenda escolar, que, mesmo com uma grande diminuição no fornecimento de alimentos por parte da empresa contratada(500 toneladas entre 2014 e 2015), teve um enorme aumento da verba pública destinada para a manutenção deste vínculo.

Esta soma de abusos e desmandos só poderia ocasionar na progressiva piora das condições de trabalho e, consequentemente, no sucateamento dos serviços prestados a população. Isto fica muito perceptível quando tomamos as áreas da saúde e da educação como exemplos. A lei federal 11.738/08, a “lei do piso”, que, dentre outras coisas, garante aos professores o aumento do tempo para o planejamento das aulas, não está sendo cumprida. Monitores e agentes da educação não são reconhecidos como profissionais da educação e valorizados como deveriam. Professores adjuntos são explorados nas atribuições de sua função, sendo constantemente deslocados de escola para tapar “buracos”. No que tange à saúde, o hospital municipal Dr. Mário Gatti e os postos de saúde, têm sofrido muito com a falta de médicos, técnicos de enfermagem, utensílios básicos para o atendimento (luvas, seringas etc.) e com a falta de remédios elementares como medicamentos para pressão, dipirona etc.

Na última sexta-feira (03), os servidores municipais ocuparam o Paço Municipal em grande número. A marquise da prefeitura foi tomada por cartazes que traziam as pautas e indignações dos trabalhadores. Nas escadarias, foi realizado o “Sarau da Greve”, que contou com uma expressiva adesão de servidores e de cidadãos apoiadores. Para Karina Vieira, professora de EJA e organizadora do Sarau: “o sarau foi muito bem recebido pelos servidores” e constituiu um espaço formativo e de protesto, criativo e inteligente. Como última atividade do dia, o movimento se reuniu em Assembleia Geral na qual, por ampla maioria, foi deliberada a continuação da greve. A luta dos servidores públicos municipais, portanto, continua!

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