Bosque da Vida refloresta ocupações urbanas em Goiás

Ocupações urbanas de Goiânia e região metropolitana plantam árvores nativas e frutíferas para celebrar o Dia Mundial do Meio Ambiente

As comunidades que vivem em ocupações urbanas de Goiânia e região metropolitana plantaram mudas de árvores para afirmar o contrário do que os Poderes Executivos Municipais vêm tentando criminalizar: a luta pelo direito à moradia é também a luta pela preservação do meio ambiente.

Assim, surgiu o Bosque da Vida, construído em conjunto com o Movimento de Trabalhadores por Direitos (MTD), organização que tem acompanhado a rotina de sete comunidades que lutam pelo direito à moradia no estado de Goiás. Foram plantadas árvores nas ocupações Alto da Boa Vista, Jatobá e Beira da Mata, no município de Aparecida de Goiânia; Solar Ville e Nova Canaã, ambas em Goiânia; e Residencial Povo Trabalhador, em Terezópolis.

Arcebispo de Goiânia, Dom João Justino, participou do plantio do Bosque da Vida na ocupação Beira da Mata. Foto Alex San

A dirigente do movimento e educadora popular, Angela Cristina, relata que quando a reflexão sobre o porquê de plantar árvores foi levantada durante as rodas de conversas com as comunidades, um dos moradores da ocupação Solar Ville, o sr. Lindomar, confirmou que a ação era importante não só para manter a harmonia com a natureza, mas também provar o contrário do que a sociedade pensa de moradores de ocupação: “Eles pensam que nós destruímos, mas a gente planta também”.

Adriana e Jaqueline na Ocupação Alto da Boa Vista

“Queremos fazer o bosque ao longo do córrego, queremos reflorestar para ver se a água volta, o córrego está secando. Antes de chegarmos aqui, o local servia para descarte de lixo, agora estamos plantando para dar uma outra cara. Plantar árvores é vida e para nós também esperança de ver as crianças brincando no córrego, na sombra”, afirma Dione, trabalhador da construção civil, também liderança de outra comunidade, a Beira da Mata.

Já foram plantadas cerca de trezentas  mudas nativas do cerrado e frutíferas, a meta é plantar outras trezentas até o fim de junho, em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado neste dia 05.

“Nesses dias de mutirão temos falado sobre plantar sonhos, semear a esperança e colher vida. Somos parte da natureza e reflorestar é uma atitude de autocuidado que as comunidades estão colocando em prática. Isso prova que acusar as comunidades por crime ambiental é uma incoerência enorme, como tem acontecido no Solar Ville, onde três moradores receberam autuação da Amma e  sofrem  criminalização. Eles receberam multa de dez mil reais e ameaça de despejo em plena pandemia  ”, conta Angela.

Seu João e Lindomar constroem o Bosque da Vida na ocupação Solar Ville. Foto Ângela Cristina

A comunidade do Solar Ville localiza-se em uma área limítrofe a outra de preservação ambiental, contudo, os próprios moradores e vizinhos denunciam que esse espaço, onde hoje moram 50 famílias, tinha muito lixo e nunca recebeu atenção da Prefeitura de Goiânia, cidade que conta com 30% de vazios urbanos, conforme relatório da própria gestão, apresentado no novo Plano Diretor de Goiânia, aprovado em janeiro de 2022.

“A Prefeitura de Goiânia colocou em xeque as Áreas de Preservação Permanente do município com o novo Plano Diretor, permitindo a construção e a exploração pela especulação imobiliária, mas quando se trata de pessoas pobres e em sua maioria negras, como é o retrato das ocupações, o poder público multa as famílias com um valor totalmente descolado da realidade econômica delas. A situação de lá é o reflexo da crise nacional, em que 33 milhões de brasileiros vivem na miséria e passam fome”, afirma Pedro Henrique Albernaz, um dos dirigentes do MTD em Goiás. 

Terra, teto e trabalho

Localizadas em áreas com acesso precário a lazer, saúde, saneamento básico, água tratada, as ocupações envolvem desde crianças recém-nascidas a idosos no mutirão de plantio.  O Arcebispo de Goiânia, Dom João Justino, foi um dos visitantes que colocou as mãos na terra e plantou uma muda de Ipê, em sua passagem pela Beira da Mata, em 21 de maio. 

Outros parceiros também se envolveram nas atividades, como o vereador da capital, Mauro Rubem (PT), também o diriginte do Movimento de Trabalhadores Sem Terra (MST GO), Valdir Misnerovicz, que incentivou a ação doando alimentos da produção orgânica do assentamento Canudos para as famílias e compartilhou técnicas de plantação.

Plantio na ocupação Nova Canaã

O Bosque da Vida ainda contou com a participação do  Comitê Goiano de Direitos Humanos Dom Tomás Balduíno, que esteve presente no plantio; a Universidade Federal de Goiás (UFG), que doou mudas nativas; Arca Goiás, ONG que trabalha em prol da recuperação e conservação do meio ambiente; além de pessoas que se encantaram pelo projeto e doaram mudas feitas em seus próprios quintais.

Ocupação Nova Canaã. Foto Alex San
Ocupação Residencial Povo Trabalhador, em Terezópolis de Goiás

COMENTÁRIOS

2 respostas

  1. Brilhante!
    A luta por moradia nunca será crime.
    Crime é o Estado aceitar pessoas sem um lar.

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