BORBA GATO, A MÍDIA E O CORINTHIANO ESTIGMATIZADO

Artigo de WALTER FALCETA: Mídia tradicional honra assassinos como Borba Gato, e sistematicamente criminaliza os pobres e os corinthianos
Ato fora Bolsonaro de 19 de Julho de 2021. Por Kleber Coletivo Foco

Por Walter Falceta especial para os Jornalistas Livres

O bandeirante Borba Gato, figura sinistra da história brasileira, foi nada mais que um assassino. À parte o debate sobre os ciclos de apresamento e mineração, é certo que a busca, extração e acumulação de riquezas trouxe imenso dano às populações nativas e aos escravizados das volantes coloniais

Borba é figura traiçoeira. Vale aula “de grátis” aos nossos impolutos funcionários da lei, representantes fiéis da elite quatrocentona. Em 28 de Agosto de 1682, nas cercanias da atual Pedro Leopoldo (MG), Borba lançou a profundo sumidouro o eminente Dom Rodrigo de Castelo Branco, superintendente-geral das minas, que sofreu gravíssimos ferimentos e veio a falecer.

Metidos em togas complacentes, os antepassados perdoaram o criminoso, posto que este se dispunha a revelar à Coroa a localização de ricas grutas douradas.

Durante longo período, o bandeirantismo foi visto como ofício cruel de mercenários. O baronato paulista, no entanto, decidiu ressuscitar esses delinquentes como referência da geração mágica de riqueza, considerada virtude pela “gente de bem” da “locomotiva do Brasil”.

Citamos a mídia, tanto a de direita quanto a de esquerda, porque tem sido incansável o esforço em atribuir aos inimigos de Borba Gato um caráter funesto, oportunista e incivilizado.

Há portal de esquerda apontando um esquema maquiavélico do PSOL para justificar uma rendição ao tucanato, o que se daria por meio de uma coalizão em favor do PL 0047/2021, que dispõe sobre a substituição de monumentos, estátuas, placas e homenagens a escravocratas e higienistas.

Mas “fazfavô”, hein, causa! Quer dizer que, se o PSDB defender a vacina e a terra redonda, a ordem é aderir ao negacionismo e ao terraplanismo?

No caso da grande mídia, é impressionante o rótulo de estigmatização que se lança sobre o motorista Danilo Silva de Oliveira, o Biu, apontado como “o corintiano” que faz parte do grupo que ateou fogo à estátua.

Esse “bonde” de criminalização por rótulo é puxado pela Folha de S. Paulo e pelo portal UOL, veículos de comunicação agregados ao um grupo que, no passado, prestou generosos serviços aos órgãos de repressão da Ditadura Militar.

Desde sempre, a Folha e o UOL buscam desesperadamente criminalizar o Corinthians e os corinthianos. Quando detido por furto a caixa eletrônico, o atleta Piá, com longa passagem pela Ponte Preta, foi insistentemente citado como ex-corinthiano pelos informativos da família Frias. O mesmo ocorreu, por exemplo, quando da prisão do ex-goleiro chileno Johnny Herrera, que teve passagem relâmpago pelo clube de Parque São Jorge. 

Quando surgiu, em 1910, da base anarquista e operária do Bom Retiro, o Corinthians causou pavor na garotada janota que praticava o esporte bretão. Os bacharéis e os filhos da elite cafeeira-industrial tentaram de todas as formas expelir o Time do Povo de suas ligas. Não lograram êxito.

Desde aquela época, no entanto, procuram caluniar, difamar e criminalizar o clube e seus fiéis. Há cem anos, o Corinthians era tido como o clube dos “suados”, dos “braçais”, da “pretalhada”, dos “anarcas” e dos “carcamanos”, termos utilizados sempre em tom depreciativo.

Biu se apresenta para dar esclarecimentos junto com Paulo Galo. Por Fernando Sato

Mais de um século depois, nenhuma novidade no front. Biu é tratado nos títulos da grande mídia como o envolvido no incidente que matou o jovem Kevin Espada, em 2013, em Oruro, na Bolívia. 

Em alguns desses textos, é preciso avançar vários parágrafos para se descobrir que Biu permaneceu trancafiado injustamente por 106 dias, pois nem mesmo se encontrava no estádio quando do disparo fatal do sinalizador. Em outros panfletos da grande mídia, a inocência do motorista nem mesmo é citada.

O objetivo dos modernos capatazes de Borba Gato é associar Biu ao corinthianismo e, por tabela, a uma conduta naturalmente criminosa. Trata-se, pois, de propaganda destinada à destruição de reputações, do cidadão citado e da instituição à qual está simbolicamente associado.

Hoje, o entregador Galo e o motorista Biu enfrentam a fúria da Inquisição, à esquerda e à direita. A imprensa se lambuza do marketing ideológico de censura aos diferentes e divergentes. Lá de cima do pedestal, Borba Gato, bandido de estimação da elite paulista, afaga seus capangas e faz troça de suas novas vítimas.


Walter FalcetajornalistaCorinthiano e militante político, e está à frente do Coletivo Democracia Corinthiana

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

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