Mas eis que chega o Roda Viva,
e bota Jair Bolsonaro a falar.
A última edição do programa Roda Viva, da TV CULTURA, teve como convidado entrevistado o deputado federal e candidato à presidência da República, Jair Messias Bolsonaro (PSL). Um dos programas de entrevistas mais importantes da televisão brasileira teria uma grande responsabilidade ao receber o candidato mais bem colocado nas pesquisas (quando não aparece o nome do ex-presidente Lula).
De um lado, um candidato arredio aos debates públicos, com uma relação conturbada com a imprensa, que tinha como maior estratégia falar pouco ou nada sobre certos assuntos, como economia e políticas públicas, e que se viu obrigado a comparecer, dado ao fracasso em conseguir coligações partidárias que garantissem mais que 8 segundos de televisão (com o PRTB, de Levy Fidélix do “aerotrem” pode conseguir mais 4 segundos).
Por outro, a suposta credibilidade de convidar para entrevistas jornalistas experientes, ligados a diversos jornais de expressão no país, além de outros convidados, com suposta pertinência temática em relação aos entrevistados. Dentre os presidenciáveis, Bolsonaro seria o último. Teria ele o mesmo tratamento dispensado à candidata Manuela D’Ávila (PCdoB)? Poderia Bolsonaro ser desmascarado publicamente, mostrando sua completa incapacidade de falar dos assuntos mais urgentes de um país em crise?
Não foi o que aconteceu. Como bem salientou o doutor Hugo Albuquerque, em um texto intitulado “Bolsonaro e o Discurso do Rei”, postado em seu blog “O Descurvo”, desta vez, contudo, Bolsonaro falou com mais autoridade do que costume para uma bancada passiva, fria, pouco ágil — a qual no máximo esboçava algum absurdismo. Muitos apontaram a fragilidade dos entrevistadores. No entanto, a bem da verdade, o Roda Viva que acossou Manuela D’Ávila, foi antipática com Boulos, morna com Ciro e doce com Marina e, sobretudo, com Alckmin é aquela que, se utilizando de um discurso liberal, permitiu Bolsonaro falar à vontade. Todos os Roda Vivas com os (pré) candidatos constituem uma série coerente entre si.
Bolsonaro foi eficiente em seu propósito por três razões: (I) a leniência da bancada do programa; (II) a postura não acuada do candidato entrevistado e (III) a incapacidade crítica de todos os seus eleitores em perceber nele as suas deficiências morais, políticas e teóricas (generalizo com a tranquilidade de quem sabe que se alguém prestar atenção no que ele fala, não será seu eleitor). Quando confrontado com perguntas que era incapaz de responder, recorria a acusações contra a esquerda e as minorias, cheias de lugares-comuns, preconceitos, notícias falsas e falsificação da história.
O que conseguiu foi, nas quase duas horas de programa, muito mais tempo de televisão (para falar suas boçalidades ideológicas) do que terá em todo o período eleitoral do primeiro turno com seus 8 ou 12 segundos de televisão na campanha eleitoral gratuita (basta multiplicar estes números pelos 15 dias de campanha eleitoral). A TV CULTURA, se tornou instrumento para que ele disseminasse a cultura do ódio, com discursos racistas, machistas e desumanos, orgásticos para seguidores que veem nele toda a possibilidade de expressarem seus preconceitos no sistema representativo de uma democracia burguesa. A defesa da Ditadura Militar e do racismo se tornou “legal”. Como bem sintetiza Hugo Albuquerque,
Não, Bolsonaro não oferece nenhuma resposta estrutural a nenhum problema sério do Brasil, mas catalisa na forma de violência, e de violência contra os mais fracos, os pobres, oprimidos, a indignação contra o sistema — mas a violência de Bolsonaro é inofensiva ao Poder, à oligarquia nacional. Bolsonaro é, portanto, o freio de mão do sistema, ele não é o establishment, mas é também manobrado por ele. Tudo isso causa um bojo de normalização da sua presença no debate público.
O histórico da direita brasileira, já conhecido há muito tempo, teve revelado neste programa, a sua “janela anônima”, onde se revelam todos os fetiches autoritários que se busca esconder até aqui em campanhas onde gente como Aécio era considerado baluarte da moral e dos bons costumes. Não por acaso, será na internet que Bolsonaro encontrará a sua maior base de sustentação propagandística.
Uma resposta
Prezado Jornalista Hermínio Porto,
Li a matéria e não vi imparcialidade nela. Procurei este site, pois a Globo, O Estadão, A Folha e até a Jovem Pan (Marco Antonio Villa) não são imparciais. O Reinaldo Azevedo debaixo de toda sua arrogância, ainda usa a lógica pelo menos. 80% dos brasileiros são conservadores, enquanto os jornalistas são mais de 90% socialistas ou comunistas, como são também os artistas. Onde vamos parar. Precisamos de jornalistas que publiquem e escrevão no mesmo artigo para a direita e para a esquerda, mas falta conhecimento dos dois lados, como o é nas escolas. Pobre Brasil.