Beyoncé em Salvador: Camadas Invisíveis

Beyonce em Salvador, ato Político e as Camadas Invisíveis a Branquitude Acrítica Brasileira
reprodução internet

Beyonce em Salvador, esta cidade onde ressoam as histórias e resistências da maior diáspora negra do mundo, viu suas ruas e palcos iluminados por figuras de destaque global em 2023. Beyoncé, Angela Bassett e Viola Davis escolheram Salvador não apenas como cenário para suas apresentações. A cidade foi tratada como um ponto focal para projetos de mobilidade social que visam transformar a comunidade local. No entanto, em meio a essas ações positivas e visíveis, paira a persistência da branquitude acrítica brasileira. Essa, que possui camadas invisíveis à sua construção, alheia às subjetividades e impacto simbólico a negritude.

Salvador como palco.

A escolha de Salvador como palco para artistas de renome internacional ressoa como uma celebração da diversidade cultural e um reconhecimento de sua importância. A cidade é a maior diáspora negra global. Cada uma dessas artistas não apenas trouxe sua arte para o público de Salvador, mas também se comprometeu ativamente com projetos de mobilidade social. Ações que investem não apenas em apresentações, mas na construção de um legado transformador. “Salvador, vocês são únicos, disse a cantora”.

Além das notas musicais e das narrativas cinematográficas, essas artistas trouxeram consigo camadas subjetivas de impacto à comunidade negra brasileira. A presença de Beyoncé, em particular, transcendeu o simples entretenimento, provocando uma experiência de validação para uma comunidade que é constantemente invisibilizada. As ações de mobilidade social, como investimentos em afroempreendedores, constituem alicerces para uma transformação social mais profunda e duradoura.

Beyonce em Salvador: Camadas invisíveis

Enquanto as camadas de impacto se desdobram dentro da comunidade negra brasileira, é notável a invisibilidade e a completa ignorância dessas ações para a branquitude acrítica brasileira. Desde sudestinos reclamando pelos eventos serem locados em Salvador até a não compreensão de não serem convidados. “Racismo reverso”

Acostumados a um país que historicamente estende tapetes vermelhos para a presença de personalidades brancas, essas pessoas jamais conseguiram compreender ou sequer sabem o significado histórico de construir eventos afrocentrados.

A perspectiva branca falha em reconhecer as nuances e as transformações subjetivas que estão ocorrendo. O foco estreito na narrativa de entretenimento eclipsa as dimensões mais profundas dessas ações, perpetuando uma visão limitada da realidade social do Brasil. Isso é o que o que Beyonce em Salvador gera: camadas invisíveis.

Necropolítica e Soft Power

O que parece é a ideia estruturante de persistir em um projeto necropolítico. Esse projeto, marcado pela perpetuação da desigualdade e da injustiça, cria uma barreira entre a compreensão e a ação efetiva. O contraste entre a visibilidade dessas iniciativas em Salvador destaca a urgência de uma revisão crítica por parte da sociedade brasileira.

O evento era composto por uma grande porcentagem de pessoas negras, com as principais mídias negras cobrindo, na maior diáspora africana do planeta terra, com a maior personalidade negra mundial e que se mobilizou exclusivamente para este feito. No entanto, o debate mainstream ainda regionaliza a questão, pois enegrecer as narrativas ainda é ficção no país que ainda não possui uma elite preta dominando os meios de produção.

Enquanto o próprio Brasil e suas alta lideranças brancas seguem inertes a urgência da questão racial no Brasil vemos a elite mundial da Negritude entendendo o Brasil como o futuro intelectual e simbólico da negritude. Ate quando?

(*) Antonio Isuperio é arquiteto brasileiro, negro, periférico, lgbt+ que mora em New York. Ativista de direitos humanos por quase 15 anos, é filho de empregada doméstica e graduado em Arquitetura pela Universidade Estadual de Goiás, com MBA em varejo pela FGV-SP. É especialista em Design de Varejo e pesquisa e tendências de futuro e membro do Núcleo Negro do Jornalistas Livres.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

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