BANCÁRIO ASSASSINADO NA DITADURA É IDENTIFICADO NA VALA DE PERUS

Por Cecília Capistrano Bacha e Martha Raquel Rodrigues, dos Jornalistas Livres

Por Leandro Chaves e Michelle Gomes, da Rede TVT

 

O Grupo de Trabalho do Cemitério de Perus acaba de informar a identificação do corpo de mais um de militante da oposição assassinado pela Ditadura Civil Militar cujo corpo foi depositado no Cemitério Clandestino de Perus (SP). Trata-se de Aluízio Palhano Pedreira Ferreira bancário, sindicalista e militante da Vanguarda Popular Revolucionária, desaparecido desde 1971.

 

A identificação ocorreu no último dia 27 de novembro. O anúncio aconteceu no I Encontro Nacional de Familiares promovido pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos que está acontecendo nestes dias 3 e 4 de dezembro em Brasília.

Quase três décadas depois da abertura da vala, apenas 5 das 1.047 ossadas de desaparecidos políticos foram identificadas: Denis Casemiro e Frederico Eduardo Mayr em 1991, Flávio Carvalho Molina em 2005 e Dimas Antônio Casemiro em fevereiro deste ano, após 47 anos da sua morte, e agora Aluízio Palhano Pedreira Ferreira.

Essas valas simples, no cemitério de Perus, normalmente são usadas para enterrar corpos não identificados, de indigentes, mas durante duas décadas sepultaram uma parte vergonhosa da história do Brasil. Em uma delas estavam escondidos corpos de militantes que lutavam contra a ditadura. Somente em 1990 a vala clandestina foi descoberta com mais de mil ossadas de vítimas do regime militar. Os remanescentes ósseos foram recolhidos e levados para análise em algumas instituições.

 

Aluízio Palhano é a quinta identificação desde o descobrimento dos restos mortais no ossuário, em 1990, mas é a segunda após a retomada dos trabalhos de análise das ossadas, em 2014, quando o material foi enviado para um laboratório especializado, na Bósnia. O grupo de trabalho ainda busca identificar outros 40 desaparecidos políticos.

 

Veja a reportagem da quarta identificação, de Dimas Antônio Casemiro, no início deste ano:

 

 

Foram 15 anos como administrador do Cemitério Dom Bosco, em Perus, extremo da zona norte de São Paulo. Antônio Eustáquio, conhecido como Toninho, revela que assim que foi transferido para o cemitério na década de 1970 percebeu que havia algo estranho no enterro dos corpos de alguns indigentes.

 

A desconfiança da ocultação de cadáveres de militantes políticos se tornou uma certeza em 1976, quando ele descobriu a falta de registros de corpos de mil e quinhentas covas.

 

“Quando eu fui perguntar do destino desses ossos, funcionários da época, não ouviam, n]ao enxergam e não falavam. E as vezes até se ausentavam da minha presença porque eles percebiam que eu tava procurando alguma coisa grave. Eles já eram orientados. Na época dos sepultamentos eles diziam que quando vinham esses militantes, na verdade eram terroristas, que se comentasse e não se falasse nada. Como foi dito a minha pessoa várias vezes, sofri várias ameaças, inclusive na reta final fui ameaçado de morte”, conta Antônio Eustáquio, ex-administrador Cemitério Dom Bosco.

 

Foram mais de 10 anos de investigação para a descoberta da vala clandestina no final da década de 1980, que hoje abriga este monumento. A abertura da vala só aconteceu na gestão da prefeita Luiza Erundina, no dia 4 de setembro de 1990, graças a pressão da Comissão dos Familiares dos Desaparecidos Políticos. Havia 1049 sacos com ossadas não identificadas.

 

Antônio Eustáquio contou à reportagem que “começaram a tirar os sacos, saíam aos poucos e levavam pra cima, na carretinha. Quando foram exumados da quadra, foram exumados em massa. Tudo que dava pra exumar em um dia, era feito, e traziam pra vala de Perus rapidamente pra poder enterrar, né?! E o desenterro também foi gradual. Tinham 3 salas de velório que não estavam sendo usadas e foram enchendo as três salas até encher até o teto de ossos”.

Para Rogério Sottili, diretor do Instituto Vladimir Herzog, a vala clandestina de Perus é mais um capítulo terrível da nossa história para ser investigado e os responsáveis, punidos. Mas para isso é fundamental a revisão da Lei da Anistia.

 

“Crimes de tortura são crimes políticos e internacionais, e o Brasil assinou um tratado internacional que diz que vai seguir todas as determinações deste pacto internacional de direitos civis e políticos. Isso significa que quem cometeu tortura e quem matou não pode ser contemplado pela lei da Anistia. E o Supremo Tribunal Federal, com o parecer do Eros Grau, fez uma interpretação diferente, de que isso eram crimes anistiáveis. Nós queremos a reinterpretação da Lei da Anistia, não precisa mudar a lei, nós não queremos a revisão porque a lei que está aí hoje ela é suficiente pra gente abrir os processos e fazer justiça”, destacou Rogério Sottili.

 

 

 

 

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