Balanço e perspectivas: 2019 foi ruim? Prepare-se para 2020

Balanço 2019: angústia e desespero - O Grito, de Edvard Munch
Balanço 2019: angústia e desespero - O Grito, de Edvard Munch

Por Ricardo Melo, especial para os Jornalistas Livres

 

Não cabe se alongar muito neste balanço. O Palácio do Planalto foi tomado de assalto por uma famiglia de criminosos. Os métodos são conhecidos pela maioria: um impeachment fraudulento, um processo ilegal contra o candidato favorito nas eleições, uma enxurrada eletrônica de mentiras financiada a peso de ouro daqui e lá de fora para turvar a vontade popular. Jair Bolsonaro é um presidente ilegítimo.
Os fatos corroboram esta conclusão desde primeiro de janeiro de 2019. Nem é preciso relembrar a trajetória do capitão expulso do Exército acusado de tentar explodir quartéis e adutoras. Depois, a defesa da morte de “30 mil”, o ataque à comunidade LGBT, a apologia da tortura e do estupro.

Jair Bolsonaro é o chefe de uma quadrilha de malfeitores que construiu sua “carreira” roubando dinheiro público mediante rachadinhas e um pomar de laranjais. É sabidamente muy amigo de milicianos acusados de crimes hediondos como o assassinato da vereadora Marielle e do motorista Anderson. Empregou em seu gabinete a filha do infame Fabricio Queiroz, a qual recebia em Brasília, mas entregava o ordenado aos chefes em Brasília apesar de despachar como personal trainer de celebridades no Rio de Janeiro.

O resto do clã nada mais fez que seguir a trilha do pai. Flavio Bolsonaro é um mentiroso de ofício. Cínico. Com a ajuda do presidente do Supremo Tribunal Federal, José Toffoli, transformou chocolates em dinheiro vivo, e vice-versa. Eduardo Bolsonaro é um fanfarrão cujo intelecto (?) mal consegue fritar um hambúrguer ao ponto. Quanto a Carlos Bolsonaro, a parcimônia recomenda algum silêncio. Não passa de um meliante suspeito de manipular registros de condomínio para tentar salvar o pai da guilhotina, descontadas outras malfeitorias.
Este é o Brasil de hoje. Como esperado, a quadrilha montou um ministério à sua imagem e semelhança. Um condenado no ½ ambiente, uma desmiolada como Damares, um pré-símio na Educação, um alucinado no Itamaraty, um garoto propaganda de travesseiros na área de Ciências.

Na Cultura, então, nem se fale. O tal Roberto Alvim, para quem não o conhece, é um antigo adepto de drogas que hoje ele considera “indignas”. Enquanto tropeçava entre mesas de lugares badalados, professava ideias que ele imaginava de “esquerda”. Nesta época, sua presença em bares cariocas exibindo sua aversão à sobriedade era motivo de constrangimento mesmo para quem se achava progressista, para não dizer dos garçons. Mas nada que o dinheiro não compre, como se vê atualmente.

E chegamos a Paulo Guedes. Um especulador barato, truculento, acusado de tramoias com fundos de pensão, incapaz de escrever um paper ou apostila citados por qualquer acadêmico. Sua fama, ou infâmia, vem do tempo em que se transformou em pinochetista de carteirinha. No Chile, deu no que deu. Agora, Guedes tenta transportar sua alquimia para o Brasil, após provocar suicídios em massa de idosos chilenos sem condições de viver com migalhas de aposentadoria “capitalizada”. Falando sério: o que pensar de alguém que propõe taxar desempregados para criar “empregos”? Nem o lixo merece isso.

(Opa, ia esquecendo do Moro. Além de ignorante contumaz, o marreco de Maringá é um CRIMINOSO assumido. Grampeou um ex-presidente e uma presidenta sem ter autorização para isso. Convive com a corrupção como uma gazela inocente. Um bandido da pior espécie, que nem Al Capone aceitaria em suas fileiras tamanha sua capivara. Sustento isto em qualquer tribunal, inclusive na vara de Curitiba, valhacouto de delinquentes. Basta me chamar.)

Mas é esse o país que nos espera em 2020. A permanecer como está, 2019 foi apenas um ensaio. Assassinatos de políticos; chacina em Paraisópolis; massacre de indígenas; perseguição nas universidades e escolas; violência contra os movimentos LGBT; faroeste nas ruas, no campo e nas estradas; truculência contra os movimentos por moradia; licença para policiais matarem inocentes como baratas; atentado fascista contra o grupo “Porta dos Fundos”.

Na vida cotidiana de quem rala para ganhar a vida, a situação não é melhor, muito pelo contrário. Essa história de criação de empregos é MENTIRA. Qualquer um disposto a enxergar percebe, após as tais “reformas trabalhistas”, a multiplicação desenfreada de mendigos transformados em “empregados informais”. Arriscam a vida em bicicletas para entregar sanduíches, negociam panos alvejados como “microempreendedores”, vendem cafés e bolos de nada madrugada afora para pagar o aluguel em cortiços. Quando têm um pouquinho de reservas, alistam-se nos Uber da vida sem direitos ou garantias mínimas de sobreviver. Aposentadoria, nem pensar –para eles e para a massa de trabalhadores.

Muito se apostou com a saída de Lula da cadeia. Não livre, apenas solto. Poucos se dão conta da campanha e das iniciativas dos poderosos para recolocarem-no de novo atrás das grades.

É inegável que a liberdade, mesmo provisória, de Lula ofereceu um ânimo espetacular aos que pretendem liquidar esse período de trevas. Porém é injusto colocar sobre suas costas a responsabilidade de inverter tamanho desastre.

Lula é a maior liderança popular que o país já produziu. Mas uma andorinha apenas não faz verão. O PT, maior e mais importante partido do Brasil, está sendo chamado a sair da toca e colocar em prática os discursos memoráveis do ex-presidente após sua libertação provisória.

O fato é que o PT hoje está contaminado por uma aristocracia burocrática, que se digladia por cargos e disputa a condição de “quem é mais amigo de Lula”. Uma tragédia. A diferença, contudo, está em quem é mais amigo do povo, daqueles que, na chuva ou no sol, nunca deixaram de lutar pela liberdade incondicional do ex-presidente sobretudo pelo que ele representa na defesa dos pobres e desvalidos.

Socialismo ou barbárie, esta é a opção. Por enquanto a barbárie está várias casas à frente. Inverter este jogo vai depender muito do próprio PT e, junto com ele, das forças democráticas sinceras. Não das que hoje posam de viúvas dos Bolsonaros que ajudaram a eleger.

 

Leia mais Ricardo Melo

 

Lula está solto, mas ainda não livre

 

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

COMENTÁRIOS

18 respostas

  1. Adorei a reportagem . É um resumo da bolha em q alguns de esquerda se enfiaram . No mundo real , é rizivel . Ainda bem q só 8 % da população está nessa bolha . Será q com o $ ganho antes será o suficiente para durar 8 anos de Bolsonaro e mais 100 anos de direita ? Até lá, rezem pra familia continuar viva e sustentando vcs ou , vão ter q trabalhar .

  2. Turvar a vontade popular: artigo como este é o instrumento cultural que podemos usufruir para impedir ou, diminuir, o cenário caótico deste periodo da historia do Brasil. Águas turvas pelo suor do trabalho escravo, pelas lágrimas da infinita dor da perda da coerência e da falta de resposta sobre o que será nosso país, pelo sangue derramado e vida sem volta.
    Belissima contribuição. Obrigado, Ricardo Melo.

  3. Achei interessante o posicionamento quanto ao aumento de empregos, ou melhor, bicos.

    A situação está tão caótica que qualquer aplicativo que seja lançado que ofereça uns trocos para alguém está colando de tão desesperadora está a situação.

    Sem falar ainda no projeto da casa própria que acho que o povo nem sonha mais com isso.

    Porém sobre o PT, então… se o PT continuar com esse discurso de paz e amor, estará trilhando exatamente o PT de perda total.

    Entenda, quando começa faltar as coisas, o ser humano passa a agir por instinto, isso porque somos animais, e a racionalidade dá lugar a necessidade, logo dizer que Bozo, mente é o mesmo que dizer que macaco não gosta de banana, ninguém acredita, o imediatismo é mais forte do que a promessa de dias melhores.

  4. Não sou bolsonarista e nem petista, mas ler esse texto é horroroso. A forma tendenciosa de escrever e as colocações de algumas palavras torna o texto seletivo apenas para esquerdistas. Infelizmente, não consegui terminar de ler, muito ruim. Acho que o bom jornalismo mesmo que parcial, deve usar palavras selecionadas fugindo desses textos discriminatórios, chulos ou provocativos. Jornalista que faz uso disso, não é um jornalista, é um militante, e isso faz toda a diferença para quem lê.

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