No último dia 29 de janeiro de 2023, Adriana Dias prematuramente nos deixou. Ela tinha 52 anos e foi vítima de câncer no cérebro.
Em outubro de 2022, Adriana Dias realizou uma série de quatro aulas públicas buscando alertar os eleitores brasileiros sobre os perigos da ascensão e consolidação do fascismo no Brasil, inclusive por seus reflexos no empoderamento da extrema-direita mundial.
Ela afirmava: "O meu trabalho tem como pressuposto honrar as vítimas".
As quatro aulas públicas foram promovidas e transmitidas por um inédito pool de canais jornalísticos em defesa dos Direitos Humanos e da Democracia: Jornalistas Livres, Ciranda, GGN, Jornal Empoderado, Barão de Itararé, Iaras e Pagus e Instituto Hori Educação e Cultura. As aulas foram retransmitidas pelo DCM.
Em 21.10.2022, às 17h, aconteceu a primeira live: O que é o fascismo/nazismo e como ele se consolida nas sociedades.
Em 24.10.2022, às 17h, a segunda live acontece com o tema: Como mostrar às igrejas neopentecostais que o bolsonarismo não é de Deus.
Em 26.10.2022 no mesmo horário (17h), o assunto da terceira live foi Bom Retiro, as bestas do mar e o perigo do fascismo em São Paulo.
Em 28.10.2022, encerramos o ciclo explicando Porque o bolsonarismo é nazista e quais suas ligações históricas no Brasil e no exterior.
Quem era Adriana
Mulher com deficiência e várias doenças raras, ativista, cientista, pesquisadora, mestre e doutora em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Adriana foi uma aguerrida defensora dos direitos humanos. Participou de diversos coletivos e movimentos, entre eles o “partidA”, movimento que defendia um “feminismo dialógico”, cujo lema é defender que “feminismo é uma luta material e concreta, bem como uma luta no campo da linguagem”. Também integrou a Frente Nacional de Mulheres com Deficiência.
Militante, participou do Grupo de Trabalho sobre Doenças Raras do Ministério da Saúde entre 2012 e 2014, ajudando a construir a Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras, aprova as Diretrizes para Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) e institui incentivos financeiros de custeio. Foi também coordenadora da Associação Vida e Justiça de Apoio às Vítimas da Covid-19.
Já com Lula eleito, colaborou com o grupo de transição. Ao saber de sua morte, o Ministro de Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, emitiu nota de pesar. Nela destacou que “Adriana foi figura importante na composição da nova gestão”.
Adriana fazia da sua vida uma luta diária contra os preconceitos e pela inclusão de todas as diversidades nos direitos, na educação e na sociedade.
Combatente do Neonazismo
Filha de humilde família evangélica, Adriana cresceu no miscigenado bairro do Bom Retiro em São Paulo e se converteu ao judaísmo a partir das perseguições que viu e sofreu por suas pesquisas.
Seu trabalho de doutorado denominado “Observando o ódio: entre uma etnografia do neonazismo e a biografia de David Lane”, concluído em 2018, abordou pensamentos e ações de integrantes de grupo de extremistas.
Seu mestrado “Os Anacronatuas do Tetonismo Virtual: uma etnografia do neo-nazismo na Internet”, concluído em 2007, foi premiado em Israel em 2009. Ele foi um dos primeiros a tratar do tema dos movimentos neonazistas no país, suas ligações e participação em redes internacionais.
Nos últimos 15 anos, Adriana Dias destacou-se por pesquisar, monitorar e etnografar o movimento neonazista, com foco em seu uso político na web. Foi a partir deste trabalho fundamental que o Brasil se deparou com o surpreendente crescimento de 270,6% de células de grupos neonazistas no país entre janeiro de 2019 e maio de 2021, identificando mais de 300 células extremistas.
Suas pesquisas são reconhecidas pela Liga Anti Difamação (ALD), principal entidade internacional de antisemitismo e de proteção a minorias vítimas do discurso de ódio. As metodologias de mapeamento construídas por Adriana Dias estão sendo traduzidas como referência metodológica para busca de células nazistas no mundo.
Ameaçada de morte desde que denunciou a preparação de ataques terroristas neonazistas no Brasil em 2009, Adriana provou em 2021 as ligações diretas entre Bolsonaro e os grupo neonazistas desde 2004.
Uma das descobertas de Adriana foi uma carta de Jair Bolsonaro publicada em sites neonazistas, em 2004, enviada pelo então deputado federal.
Mesmo lutando com o câncer, Adriana não parou de trabalhar.
Fica aqui a nossa homenagem a essa batalhadora pelos direitos humanos no Brasil e no mundo.
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