Ativistas protestam no Carrefour de Natal contra mortes de negros e cobram prática antirracista de brancos

Em Natal, o protesto aconteceu no sábado (21), na unidade da Zona Sul, ao lado do Natal Shopping. A manifestação foi convocada pelo Levante Popular da Juventude, DCE da UFRN, movimento Enegrecer, UJS e o coletivo Juntos.

Por Rafael Duarte, da agência Saiba Mais

O movimento negro e ativistas da pauta antirracista vêm organizando em todo o país protestos contra o assassinato de João Alberto Ferreira Freitas, 40 anos, na quinta-feira (19), véspera do Dia da Consciência Negra. Ele foi espancado e morto por seguranças do Carrefour, em Porto Alegre. A autópsia revelou que João Alberto morreu por asfixia. A vítima era negra.

Com a divulgação das imagens do assassinato, uma onda de protestos tomou conta das principais cidades do país. Na maioria dos casos, as manifestações foram realizadas em frente a unidades do Carrefour. Uma campanha de boicote às lojas e produtos do estabelecimento foi lançada nas redes sociais.

Em Natal, o protesto aconteceu no sábado (21), na unidade da Zona Sul, ao lado do Natal Shopping. A manifestação foi convocada pelo Levante Popular da Juventude, DCE da UFRN, movimento Enegrecer, UJS e o coletivo Juntos.

O supermercado fechou as portas e as duas entradas para veículos durante o ato. Policiais militares ficaram de prontidão no estacionamento da loja como se fossem seguranças privados.

Unidade Zona Sul do Carrefour foi a loja escolhida para o protesto / foto: Rafael Duarte

Um grande círculo foi aberto em frente a entrada principal para que ativistas se pronunciassem. Mateus Clementino, do coletivo Juntos, destacou que a sociedade age de forma diferente diante das mortes de branco e negros:

– Se eu morrer aqui eu não conto não, mas se um branco morrer conta, se um branco morrer tem caminhada da paz. Então, é preciso que vocês se organizem, é preciso que vocês tragam para somar na luta. E não é com tapinha nas costas ou com textão no facebook, não. É na luta, é na rua e é todo dia porque a gente não aguenta mais morrer”, disse.

– Se eu morrer aqui eu não conto não, mas se um branco morrer conta, se um branco morrer tem caminhada da paz.

Mateus Clementino, coletivo Juntos 

Manifestantes desceram e fecharam a BR-101 na altura do Carrefour por cerca de 1h30 / foto: Rafael Duarte

A deputada federal Natália Bonavides esteve no ato, mas não discursou. Vereadora eleita mais jovem da história de Natal e membro do coletivo Enegrecer, Brisa Bracchi chamou a atenção para a celebração do Dia da Consciência Negra e a importância da memória de Zumbi dos Palmares:

– Um homem negro foi espancado até a morte dentro de um supermercado desse. Dia 20 novembro é o dia da gente relembrar a memória de Zumbi dos Palmares. Zumbi dos Palmares foi um desses homens negros que morreram para lutar pela liberdade do povo preto, assim como o João Alberto dessa semana. Sabe porque a gente relembra a memória de Zumbi dos Palmares ? Porque se fossem pelo que nos ensinam nas escolas diriam que o fim da escravidão foi obra de um princesa branca”, disse.

“A libertação só será completa quando o povo negro estiver no poder e é por isso que a gente luta”

Aline Juliette, advogada e mestranda da UFRN

Advogada e mestranda da UFRN, Aline Juliette destacou que a libertação do povo negro só será completa quando pretos e pretas ocuparem espaços de poder em pé de igualdade com os brancos:

– No dia da Consciência Negra nós brasileiros e brasileiras negras ainda enfrentamos um debate de que não existe racismo no Brasil e de que temos uma democracia racial… a importância de ter essa multidão reunidas em várias cidades, incluindo Natal, e das pessoas negras dizerem que nossas vidas têm valor. E que mesmo que tentem negar o racismo e a opressão que a gente sofre, as desigualdades de oportunidades nós sabemos que temos valor, lutamos por representatividade, por oportunidades e estar aqui reunidos coletivamente mostra que não é uma luta individual. O acesso de pessoas negras a espaços de poder não se trata de uma questão meritocrática, de quem quer, consegue. Se trata de uma luta coletiva por libertação, uma libertação que não aconteceu com a lei Áurea, uma libertação que não aconteceu com outras políticas. A libertação só será completa quando o povo negro estiver no poder e é por isso que a gente luta”, disse.

Vidas negras importam e fogo nos fascistas

Um carrinho de compras foi usado como símbolo dos protestos contra Carrefour / Foto: Rafael Duarte

Por volta das 18h30, os ativistas desceram e fecharam a BR-101 na altura do Carrefour. O trânsito ficou parado, mas não houve incidentes. Cantando e relembrando figuras como Marielle Franco, Zumbi dos Palmares e Dandara, o público formado em sua maioria por jovens negros e negras permaneceu no local por aproximadamente 1 hora e 30 minutos. A polícia rodoviária federal chegou para controlar o trânsito, desviado pela marginal.

“Vidas negras importam” e “fogo nos fascistas” foram as frases mais repetidas durante o protesto.

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