Ativista ambiental executada é homenageada em conferência do PCdoB mineiro

No sábado, 23, o Partido Comunista do Brasil de Minas Gerais (PCdoB-MG) homenageou Rosane Santiago Silveira, ativista torturada e executada no dia 28 de janeiro, na cidade de Nova Viçosa (BA). A solenidade ocorreu durante conferência extraordinária do partido, no plenário da Câmara Municipal de Belo Horizonte. Os comunistas reuniram-se para discutir a incorporação do Partido Pátria Livre (PPL) ao PCdoB.

Comunistas entregam flores aos filhos de Rô Conceição. Da esquerda para a direita: Jô Moraes, ex-deputada federal; Lyra Santiago, filha; Késsia Teixeira, presidenta da União da Juventude Socialista de BH; Thales Santiago, filho; Tuian Santiago, filho; Pedro Camargo, Secretário de Formação do PCdoB de Ouro Preto. Foto: Luana Ramalho

Rô Conceição, como era carinhosamente conhecida, é natural do Espírito Santo, mas passou a maior parte da vida em Belo Horizonte (MG). Vivia em Nova Viçosa há 18 anos, onde era membro suplente do Conselho da Reserva Extrativista (RESEX) de Cassurubá, e lutava contra a produção e transporte fluvial de eucalipto dentro da área de proteção, que degrada o bioma do manguezal, ameaçado de extinção.

Em Belo Horizonte, Rosane participou ativamente do movimento por moradia estudantil da Universidade Federal de Minas Gerais, integrando a ocupação estudantil Moradia Borges da Costa. Militava em movimentos culturais, sindicais e de defesa dos direitos humanos. Foi criadora da cantina natural do Diretório Acadêmico do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, onde eram promovidos eventos artísticos, produção de alimentos conscientes e ponto de encontro de gerações de amigos e militantes.

Tuian Santiago Cerqueira, filho de Rosane, médico, agradeceu o gesto do PCdoB e do PPL. “é um grande ato da memória de uma pessoa que dedicou a vida para a luta”, afirmou. Ele também descreveu o ativismo ambiental de Rosane na RESEX de Cassurubá: “Minha mãe, nos últimos anos, lutava pela preservação de uma reserva extrativista. Lutava contra o dito progresso do capitalismo, com plantação de monocultura de eucalipto, transporte de madeira dentro da área da reserva, dragagem dos rios, morte de fauna e da flora.” Por fim, Cerqueira reforçou a provável natureza política do crime cometido: “Todos os indícios levam a crer que a motivação foi política. A própria polícia diz que foi um ato premeditado, bárbaro e com requintes de crueldade”.

Cerqueira revelou, ainda, parte de um diálogo de Rosane com um amigo registrada em áudio: “Eu vim pra reflorestar tudo aqui de árvore, mas não eu sozinha. Não estou aqui para impor nada. Realmente eles nunca quiseram saber de montar associação, mas vamos precisar se quisermos fazer alguma coisa. Há 22 anos tento montar a associação [de proteção da Ilha da Barra Velha] se tivesse, a Barra Velha já estaria maravilhosa. Mas graças a Deus estamos vivos e ainda podemos fazer”.

Sob grande comoção do plenário, a homenagem prosseguiu com o depoimento de Fernando Vaz, Sociólogo, amigo e antigo companheiro de militância de Rô. “Esta conferência pauta a unidade da resistência e ao mesmo tempo este momento triste, que é mais uma demonstração de força, arbitrariedade e falta de humanidade que estamos vendo no país. Este episódio é resultado de uma postura institucional, que intensifica e legitima ações de extermínio praticadas por estas pessoas. Foi um extermínio com traços muito claros de tortura. Precisamos saber o que fazer, as pessoas estão sendo mortas”, desabafou.

Vaz pontuou que a história de Rosane está intrinsecamente ligado à história da UFMG. Eles militaram juntos na universidade por moradia estudantil e por creche. “Ela lutava para ser mãe, para ser trabalhadora, ter dignidade com seus filhos, um relacionamento com seu marido. Coisas que só quem é mulher no nosso país entende com profundidade. Estive com Rosane no final do ano e ela tinha um sorriso no rosto que era sua marca. Nunca a vi reclamando de nada na vida, só correndo atrás de pagar suas contas e lutar pelas coisas que ela acreditava”, concluiu.

Na sequência, foi lido um manifesto (confira a íntegra no link) em homenagem a Rosane, que foi aclamado pelos presentes. “Rosane, alguns de nós a conheceram, muitos de nós não tiveram este privilégio, mas nós TODOS não te esqueceremos JAMAIS! Rô Conceição, presente!!”, encerra o texto. Os três filhos da ativista – Lyra, Tuian e Thales Santiago – acompanharam a solenidade e receberam flores, ato que encerrou a sessão solene.

Veja mais:
Da Rede Brasil Atual:
_ Ativista assassinada em Nova Viçosa tinha recebido ameaças de morte. (Entrevista com Tuian Santiago Cerqueira)
_ Polícia Civil amplia investigação de tortura e morte de ativista ambiental

Do Brasil de Fato:
Investigadores do assassinato de ativista na Bahia ignoram hipótese de crime político

COMENTÁRIOS

Uma resposta

  1. Nesse pais…60.000 pessoas são assassinadas por ano…é uma pena e uma tristeza que apenas alguns sejam lembrados…

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