Assembleia de Deus quer acabar com o voto livre e secreto

Em reunião da Assembleia de Deus, em São Paulo, dirigentes de igreja criticaram candidatura do ex-presidente Lula
Jair Bolsonaro com o presidente da Assembleia de Deus em São Paulo, pastor José Wellington Bezerra da Costa - Marcos Corrêa/Divulgação Presidência da República
Jair Bolsonaro com o presidente da Assembleia de Deus em São Paulo, pastor José Wellington Bezerra da Costa - Marcos Corrêa/Divulgação Presidência da República

Assembleia de Deus em São Paulo, liderada pelo pastor José Wellington Bezerra da Costa, decidiu nesta terça (4), em reunião interna, que irá punir membros que “defenderem pautas de esquerda dentro da cosmovisão marxista”. A Folha de S. Paulo teve acesso aos áudios da reunião, que revelam que um dos principais objetivos dos dirigentes da igreja era impedir voto em Lula. No mesmo dia, um pouco antes da decisão, Jair Bolsonaro havia visitado o espaço, quando participou de um culto para fies.

Por Emanuela Godoy

Durante a leitura da carta que determina punição para fieis que abraçarem ideais de esquerda, houve ataques diretos ao ex-presidente Lula. Para a Confradesp (Convenção Fraternal das Assembleias de Deus de São Paulo), a anulação de suas condenações na Lava Jato não teria validade e o petista não seria inocente. Um dos pastores presente afirmou também que “todas as religiões demonistas estão dando apoio expresso a esse candidato (Lula) que se apresenta a estar competindo agora no segundo turno com o presidente Bolsonaro”, e pediu que isso fosse adicionado na carta.

Curiosamente, a mesma Assembleia de Deus que acha que Lula não defende os preceitos do cristianismo, não se escandaliza ao ver Bolsonaro, Hamilton Mourão e Carla Zambelli em cerimonias da maçonaria, mesmo que a igreja tache tais práticas como demoníacas.

Recentemente a campanha de Bolsonaro tentou associar um influencer satanista, Vicky Vanilla, ao petista, o que foi uma manobra para tentar escandalizar os evangélicos. Vanilla, na verdade, é bolsonarista.

Convenção Fraternal da Assembleia de Deus no Estado de São Paulo – Foto: Reprodução/ Instagram

A resolução que pune membros de esquerda foi aprovada em uma reunião de dirigentes durante a 49ª Assembleia Geral Ordinária da Confradesp. Com o título “Carta convencional do plenário da 49ª Assembleia Geral da Confradesp”, o texto defende que a visão da esquerda é contrária aos “preceitos éticos e morais defendidos pela Assembleia de Deus”. Quem defende essas ideias subversivas estaria desconstruindo a família tradicional e promovendo a legalização do aborto, embora o próprio Bolsonaro já tenha defendido que o aborto deveria ser uma escolha do casal.

Mas não para por aí, além de se manifestar contra esses posicionamentos, a carta expõe que a Assembleia não aceitará membros que defendem a agenda da esquerda, que são “ideologias contrárias (…) aos princípios morais e éticos da Confradesp”.

Todos que “comprovadamente já não mais aceitam a palavra de Deus” e seguem “filosofia em choque com princípios cristãos”, afirma um integrante da diretoria da Confradesp (Convenção Fraternal das Assembleias de Deus do Estado de São Paulo), “poderão ser representados no conselho de ética e disciplina para a aplicação de medidas disciplinares”.

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