As vozes do III Festival Lula Livre

Neste domingo dia 2 de Julho, ocorre na Praça da República o III Festival Lula Livre. Milhares de manifestantes encaram o mal tempo e a intermitente e gelada garoa paulistana® para mandar um recado à (sic) justiça brasileira: O presidente Lula pode ter inimigos biliares em todas as instâncias do judiciário, dispostos a negar-lhe um processo minimamente imparcial, porém possui milhões de companheiras e companheiros dentre todos os estratos sociais, sobretudo entre os desfavorecidos economicamente, dispostos a defender por todos os meios seu legado de luta e trabalho pelo desenvolvimento do Brasil.

 

A despeito de um bombardeio midiático – uma campanha de difamação diuturna, implacável e aviltante sem paralelos – de quase 4 décadas, que minou sua popularidade entre uma parcela considerável da população, Lula mostra-se um estadista do raro tipo que grava seu nome e trajetória no coração do povo de seu País. Parcelas do poder econômico que inconformadas com o sucesso do peão do ABC sonham em destruir tal vínculo deveriam compreender, vendo manifestações como as de hoje, que não se trata apenas de uma tarefa árdua; convencer o povo brasileiro da má fé de Lula na condução de políticas que levassem à melhoria de vida da maioria da população é simplesmente impossível. Invistam milhões de reais – bilhões que sejam – não vai acontecer.

Tal sentimento pode ser facilmente constatado nos depoimentos das pessoas que formam a massa presente ao Festival; as amigas Ariadne, 19, auxiliar de escritório e estudante de ciências contábeis, Aline, 22, auxiliar de informática e Giorgia, 21, babá compareceram à República menos pelos shows e mais pela oportunidade de demonstrar apoio ao presidente. Nas palavras de Ariadne: “-Ele é muito importante para mim. Estamos sofrendo uma grande angústia com um governo que com certeza é fascista. Nos sentimos menores. O brasileiro parece que esquece que antes não tinha carro, não tinha casa. Agora se sente superior aos que não ascenderam de classe. Perdemos uma pessoa muito importante que olhava para o que realmente importa.” Para Giorgia trata-se de retribuir o auxílio de um companheiro: “Eu estou aqui pelo que ele fez pela gente. Fez tantas  coisas boas e as pessoas esqueceram disso. A gente tem que estar aqui mostrando onde a gente chegou até agora, não regredir, pegar o projeto que ele tinha e levar para frente.” “-A mulher negra já é marginalizada, no Brasil e no Mundo inteiro, e fica mais difícil quando o ódio tem a porta aberta. A gente se sente sempre ameaçada. Não que nós não nos sentíssemos ameaçadas antes – as pessoas tem o ódio na mente – mas com esse governo, em apenas 5 meses a gente vê muitos casos…As pessoas (racistas) estão se sentindo livres para fazerem o que quiserem agora, despejar o ódio com facilidade!” complementa Ariadne.

O populismo de direita bolsonarista também reflete nas questões econômicas, para a babá Giorgia: -“Eu falo por mim, que já estou há muito tempo procurando emprego e não aparece nada, como mulher e negra –  vejam as pesquisas – a taxa de desemprego é maior para a gente.” Ariadne complementa: – “Agora será mais difícil. O mercado de trabalho nunca tem a mulher negra num corte de poder nas empresas. Quando tem é uma porcentagem muito baixa. A maioria das pessoas em posição de poder adoram esse presidente (Bolsonaro) e são conservadoras. A gente vive isso – sempre viveu – mas agora será cada vez mais difícil.”

Diversas categorias profissionais compareceram ao Festival. Como sempre os combativos petroleiros – que assistem de camarote ao desmonte de uma das empresas estrategicamente mais importantes entre as estatais brasileiras e mais relevantes na composição do PIB e das cadeias produtivas e econômicas do Brasil; a Petrobrás – marcaram posição. Tiago Franco, diretor de base do Sindipetro SP apontou a importância do presidente Lula dentro da história recente da empresa: “- A gente veio defender o Lula. Estamos aqui por gratidão, não só gratidão como pelos nossos interesses, os recursos para a Petrobrás destinados no governo dele foram importantes para que nós conseguíssemos fazer descobertas e aumentar o parque industrial da cadeia de óleo e gás do Brasil, para essa riqueza ficar no Brasil e financiar saúde e educação para o desenvolvimento do País. A gente entende que a prisão de Lula é um ataque a toda e qualquer luta popular. Foi um recado da elite brasileira para o povo; se você lutar vão inventar qualquer coisa para te prender. Defender a liberdade do Lula é defender nossa liberdade para ser ativista. Você inventa um processo e sai prendendo e achacando empresários para que delatem e se possa criar um processo fraudulento… Colocaram ele lá (Lula na prisão) para impedir que as empresas nacionais se fortaleçam, que a riqueza nacional fique com o País e que o povo brasileiro seja sujeito de sua História. A prisão de Lula é um instrumento político.”

O companheiro de Tiago, Raul Amorim, estudante da UFSCAR e membro do Levante Popular da Juventude, também resaltou o caráter notoriamente político da prisão de Lula: “- É o preso político mais importante do Mundo nesse momento, não é só a gente que fala, não é só o Brasil que fala, o Mundo inteiro entende que a prisão dele não é apenas arbitrária; ela tem um objetivo.” Segundo o jovem: “- Ela tem o objetivo de destruir a soberania brasileira, ela tem como objetivo destruir tudo que foi construído nas últimas duas décadas, que não foi pouca coisa. Eles não estavam preparados para ver um Brasil andando pelas próprias pernas. O ataque ao Lula também é um ataque contra a educação, à saúde pública, às aposentadorias e à política como um todo. O Lula está preso, mas outros políticos também estão sendo ameaçados. No dia 14 (greve geral) a pauta Lula Livre estará presente.”

Ao contrário do que pregam os babuínos da horda digital conservadora diversas famílias, sem quaisquer ligações com movimentos sociais ou partidos políticos ajudaram a engrossar o caldo do Festival. A professora de dança e bailarina Camila, 28, carregava a sua pequena filha Clara, de apenas 7 anos nas costas, e ressaltou a importância da formação política (alô Escola Sem Partido) das crianças desde cedo: “-Eu trouxe minha filha por que eu acredito que as crianças tem de estar inseridas nas discussões como elas puderem. De uma forma protegida mas real. Elas fazem parte, elas tem voz. É importante apoiar os movimentos agora que eles estão cada vez mais fortes. Está mais do que demonstrado que Lula é um preso político e na História desse País nós não podemos mais permitir a existência de um preso político.”

 

Os shows de artistas como Chico Cesar, Fernanda Takai, Zeca Baleiro, Criolo, Emicida, Odair José, Anelis Assumpção, Thaíde, Otto entre diversos outros consagrados e conscientes representantes da arte brasileira sem dúvida animaram o público. Mas a grande estrela do Festival foi o povo resistente e com incrível capacidade de compreensão do momento que vivemos. Lula não está sozinho. Que esse bonito e importante evento seja o último necessário para clamarmos pela justiça e por sua liberdade.

#LULALIVRE

Fotos e texto; João Bacellar

 

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