AS TENSÕES QUE NOS UNEM E SEU TESÃO

Oficina

Era um velho de cabelos brancos, tal sábio dos grandes sertões. Abrem-se as portas do teatro e ao som de pequenos grilos, feito com o estalido dos dedos e a ponta das línguas, artistas nos inserem na fábrica de cultura, uma oficina e seus mistérios, uma usina e seus moinhos. Nada a esconder, há apenas o anúncio da boa nova, a voz dos que cultivam a terra.

Na oferenda em construção na rua imaginária Lina Bo que corta o teatro, homens elásticos e suas ninfas delimitam um círculo de terras misturadas com o solo da aldeia, das ocupações e da terra da resistência do Teatro Oficina. José Celso Martinez anuncia a todos, em voz calma e firme, o martírio da nação nesse momento, nossas aflições e dúvidas.

Oficina

À roda xamânica juntam-se Sônia Guajajara e Guilherme Boulos. O som de tambores e suaves percussões arrefecem as desilusões da nova ordem, querem todos saber o que fazer nesse momento das batalhas que nos unem.

A lucidez de Sonia Guajajara nos desconcerta, como salvar os rios, a terra quando a palavra de ordem agora é o desenvolvimento econômico? Aquilo que afeta a terra não afetará apenas os povos indígenas. Guilherme Boulos nos fala do despejo silencioso que se faz na grande cidade, onde o avanço de obras e aparelhos sociais como metrô e vias novas despejam os mais pobres para periferias mais distantes, pela valorização do solo urbano.

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Novamente a pergunta incide, o que fazer? Cultura. Cultura é a atitude que nos reporta e redime do medo e tempos incertos. Somos da cor da terra e a terra está embaixo do asfalto. Todos são convocados, na náusea desse momento de conflito, a romper o chão e fazer-se flor.

“É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.”

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

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