Artistas pedem a impugnação do edital de fomento publicado por André Sturm

Galeria Olido, 16/03/2017. Foto: Beto de Faria.

Na tarde da útima quinta-feira (16), trabalhadores da arte se reuniram mais uma vez com a Secretaria Municipal de Cultura para saber quais as razões de cancelamento do 22º Edital de Fomento à Dança e para exigir a impugnação do novo edital, publicado na última terça-feira (14),  de forma arbitrária e sem nenhum diálogo com a classe artística e a sociedade.

O novo edital trouxe cortes significativos em relação ao previsto na Lei, simbolizando um retrocesso a tudo que foi conquistado pelos artistas da dança, desde 2005, quando a Lei de Fomento à Dança foi criada. Além disso, foi apresentado um estudo sobre o novo edital, elaborado por advogados e artistas da dança, que questionou juridicamente cada modificação realizada no novo edital.

O Secretário Municipal de Cultura, André Sturm, não compareceu à reunião que estava agendada desde segunda-feira (13) e enviou sua assessora de dança, Lara Pinheiro, que chegou escoltada por vários guardas civis municipais (GCMs). Ela não soube responder a nenhum dos questionamentos jurídicos feitos pelos advogados e artistas, demonstrando a fragilidade do novo edital. Além disso, as justificativas que deu sobre o cancelamento do 22º edital foram fracas e não convenceram os mais de 200 trabalhadores da arte que lotaram o auditório do Cine Olido. Diante da sua incapacidade de argumentação a tantos desmandos jurídicos, a assessora sugeriu aos trabalhadores da arte que formassem uma comissão e se reunissem com o próprio secretário. Ela saiu do Cine Olido sob vaias e escoltada pelos GCMs.

“O edital que nasceu e sobrevive, há onze anos, contra a barbárie mercadológica sucateadora, mostrou outra vez seu poder. O poder de coesão – de unir artistas dos mais diferentes caminhos e logradouros em um único objetivo: defender a pesquisa, a criação e a liberdade artística. Hoje, todas as batalhas internas da classe foram postas de lado, hoje, a ameaça é uma. Diante da tamanha força, da classe da dança unida, a assessora se minimizou em si mesma, incapaz de qualquer argumento, e saiu covardemente escoltada por vários policiais armados”, afirma Diogo Granato, artista da dança.

Já Gal Martins, durante sua fala na reunião com a assessora, enfatizou que a força está nas diferenças. “A gente observa o quanto esse momento é histórico e nos fortalece. O Fórum Permanente de Danças Contemporâneas: Corporalidades Plurais, formado na sua maioria por mulheres, e mulheres negras, acredita que a discussão da especificidade é potência e não fragilidade. E o que está acontecendo aqui hoje é o exemplo disso. Então, governo, não utilize isso contra a gente, porque já se viu que a dança e a potência que ela está na cidade, nas periferias, é muito maior do que esses jogos e essas manobras políticas”, afirmou Martins.

Anelise Mayumi Soares, outra artista da dança presente no ato, concorda: “Todas as diferenças, de todas as frentes desse movimento plural, que é a dança, em uníssono pedem a impugnação do edital, publicado na última terça-feira (14).”

O deputado estadual José Américo (PT), que, em  2004, quando vereador, foi autor do projeto de lei que criou o Fomento à Dança, articulou uma reunião com o secretário André Sturm que deveria ter acontecido no mesmo dia, mas a mesma foi cancelada. Sturm foi, segundo o deputado, convocado às pressas para uma reunião com o prefeito João Doria. O secretário remarcou a reunião para hoje, sexta-feira (17), às 16h30, na Secretaria de Cultura, que fica localizada na Galeria Olido.

O Programa Municipal de Fomento à Dança, que foi criado em 2006, a partir da Lei de Fomento (2005), tem como objetivo principal subsidiar grupos, selecionar projetos de trabalho continuado em dança e difundir a produção artística da dança independente, promovendo o acesso da população à produção artística e aos bens públicos.

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