Arte contra a barbárie – Mulheres resistem na poesia

O coletivo Mulherio das Letras, criado em 2017, conta hoje com adesão de mais de seis mil mulheres brasileiras residentes no Brasil e algumas no exterior. Nos últimos dias 2, 3 e 4 de novembro, realizou o II Encontro Nacional no Guarujá, SP, reunindo cerca de 200 de suas integrantes. Do primeiro, realizado no ano passado em João Pessoa, na Paraíba, participaram aproximadamente 500 mulheres, todas ligadas à literatura e ao livro, como poetas, ficcionistas, dramaturgas, tradutoras, pesquisadoras, críticas, editoras, livreiras, ilustradoras, designers e jornalistas, muitas das quais ativistas culturais e sociais, ligadas a movimentos e coletivos.

Maria Firmina dos Reis e Patrícia Galvão – Pagu, mulheres de reconhecido destaque nacional, foram homenageadas através de exposições, palestras e debates, no primeiro e segundo encontro, respectivamente.

Realizados com o apoio e infraestrutura das respectivas Prefeituras Municipais locais, os encontros tiveram caráter inovador, organizados de forma coletiva e horizontal, longe do modelo adotado como padrão de festivais e feiras de literatura que ocorrem em todo o Brasil.

Trata-se de uma iniciativa pioneira, marco no cenário da literatura brasileira na luta por maior visibilidade da produção literária da mulher na literatura e na luta por direitos que teve na figura da escritora Maria Valéria Rezende, residente em João Pessoa, figura extraordinária de nossas letras, uma de suas principais ideólogas e motor inspirador em todas as etapas do coletivo.

As incontáveis discussões realizadas nos encontros nacionais bem como em inúmeros coletivos regionais decorridos durante o ano, através de rodas de conversas, palestras e oficinas, acabaram também por conduzir a debater as distorções da atual conjuntura brasileira e vêm balizado propostas e passos decisivos ainda a percorrer, transformando o coletivo em verdadeiro movimento.

Uma delegação de Natal, RN, composta por Rejane Souza, Jeanne Araújo, Eliety Marry e Gilvania Machado, representando o coletivo Nísia Floresta, propôs e foi aprovada por unanimidade, a realização do III Encontro Nacional do Mulherio das Letras na cidade de Natal, em outubro de 2019. O fato se reveste de simbologia, levando-se em conta que o Rio Grande do Norte elegeu este ano uma mulher para Governadora, Fátima Bezerra, a única mulher eleita governadora no país, tendo recebido a maior votação da história daquele estado.

 

Ao final do Encontro, uma Carta Aberta (abaixo) foi redigida, aprovada e já começou a circular nas redes sociais e blogs alternativos.

 

CARTA ABERTA DO II ENCONTRO NACIONAL DO MULHERIO DAS LETRAS – GUARUJÁ 2018

 

“A esperança é cortada, mas se regenera”. (Pagu)

 

O Mulherio das Letras, criado em 2017, é um coletivo feminista literário, diretamente interessado na expressão pela palavra escrita e oral, com adesão de mais de seis mil mulheres brasileiras residentes no Brasil e no exterior, que se propõe a discutir as questões da mulher nas áreas da arte e da cultura.

 

As mulheres reunidas neste encontro, diante da atual e grave conjuntura do Brasil, se comprometem a defender as seguintes pautas:

 

  1. O exercício pleno e irrestrito da democracia;
    2. A liberdade de expressão;
    3. A garantia e ampliação das políticas públicas para o livro, a leitura, a literatura e as bibliotecas;
    4. Salvaguardar os direitos das mulheres, bem como fortalecer e dar visibilidade à literatura produzida por elas;
    5. Comprometimento com a defesa da diversidade étnica, de gênero, de classe, de orientação sexual, bem como com a inclusão das mulheres com deficiência;
    6. A defesa da educação e, especialmente, da universidade pública, gratuita, laica, de qualidade, inclusiva e aberta à comunidade;
    7. A resistência ao sucateamento e desmantelamento dos equipamentos culturais e instituições públicas.

 

Paralelamente, o Mulherio das Letras realizará ações efetivas nos níveis regional, nacional e internacional, no sentido de manter permanentemente mobilizado o Movimento.

 

Comissão de redação:
Cátia Moraes
Dalila Teles Veras
Giovana Damaceno
Lindevânia Martins
Patrícia Vasconcelos
Rejane Souza
Rosana Chrispim

 

Carta aprovada com acréscimos e supressões na leitura pública deste documento no encerramento do Encontro.

Guarujá-SP, 4 de novembro de 2018.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

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