Arco-íris, Guevara, unicórnio e caveira são ‘anti-família’ para colégio do interior de MG

Colégio Recanto do Espírito Santo, da conservadora Itaúna, volta a escancarar seus absurdos equívocos e preconceitos

O colégio particular Recanto do Espírito Santo, de Itaúna, no Centro-Oeste de Minas Gerais, divulgou, no dia 12, um comunicado para alertar sobre materiais escolares identificados como “ideologias anti-família”. O material mostra imagens da bandeira LGBTQIA+, de Che Guevara, caveiras e unicórnios, propondo uma reflexão “sobre a influência da moda” nos itens usados por alunos e o que significam as imagens impressas neles.

“Tal como acontece nas roupas, as estampas nos objetos que utilizamos também dizem muito a respeito do que vivemos e acreditamos. Aliás, a moda é um forte instrumento de identificação de grupos. Você já pensou que a escolha dos itens escolares também faz parte da formação das crianças? Antes de escolher, faça a si mesmo algumas perguntas: Qual o significado desta estampa? O que ela representa para meus filhos?”, destaca o comunicado.

Cidade conservadora

Não é de hoje que Itaúna, a apenas 84 quilômetros de Belo Horizonte, mostra seu caráter conservador e reacionário. A cidade de 94 mil habitantes já foi dominada pelas famílias de origem portuguesa Gonçalves e Pereira, sobrenomes que dão nomes às suas principais ruas. Em 1979, Itaúna chegou ao noticiário nacional por causa de uma sucessão de 12 suicídios de adolescentes. Ficou no ar a suspeita de que os jovens fizeram um pacto de morte por causa das frustrações que viviam diante de uma sociedade tremendamente conservadora, preconceituosa e opressiva. Qualquer gesto de rebeldia dos jovens fazia com que logo fossem rotulados como “maconheiros” etc.

Reprodução do site

Agora, o comunicado do colégio destinado à classe média da cidade mostra uma montagem em vermelho com o rosto de Chê Guevara, uma caveira e o símbolo “A”, relativo a alguns movimentos anarquistas. “Os cadernos e camisetas com caveiras (cultura de morte), foice e martelo e com o rosto de Che Guevara (grande assassino e revolucionário comunista), estão na moda há décadas. Mas hoje vejo também outros riscos”, diz o texto.

“As principais ideologias anti-família têm feito de tudo para se instalar em nosso meio e utilizam, principalmente, os materiais infantis e com estampas que parecem ingênuas. O arco-íris que é um símbolo de aliança de Deus com seu povo foi raptado pela militância LGBT, que o utiliza em suas bandeiras que têm, atualmente, seis cores: vermelho, laranja, amarelo, verde, anil e violeta”, diz o comunicado.

Unicórnio

A instituição de ensino afirma também que o unicórnio – que é “sempre apresentado como uma figura doce e encantadora” – tem um “perigo” em sua representação. O autor do texto diz que o animal folclórico é usado para “identificar alguém de gênero não binário”. “Ou seja, não se enquadra em nada e vive totalmente sem padrões. Resumindo, é mais um símbolo contrário à lei natural, contrário aos planos de Deus”. O autor diz ainda que um exemplo da utilização “perigosa” do unicórnio é “um Shake” dado pelo Burguer King em 2018 “especialmente para a parada gay em São Paulo”.

Pecado da sedutora

É importante lembrar que no ano passado a escola ficou conhecida ao publicar nas redes sociais uma mensagem que responsabilizava mulheres por violências sexuais e estupros sofridos, devido a roupas que usam. “Quando a mulher decide expor partes do corpo que deveriam estar cobertas, se torna uma sedutora, partilhando, assim, a culpa do homem. De fato, os teólogos ensinam que o pecado da sedutora é muito maior que o da pessoa seduzida”, dizia o texto. 

Diante do absurdo do texto, a mensagem foi excluída após repercussão negativa e o colégio alegou que “foi uma postagem indevida”. Pelo visto, não aprendeu ou não consegue conter seu conservadorismo e preconceito. “Apesar de concordarmos com a modéstia no vestir, o texto em questão deixou margem para interpretações que não são as do colégio”, se defendeu na época.

Em sua apresentação oficial no site, o Recanto do Espírito Santo diz que é “um colégio confessional católico que tem sua Identidade e Missão fundamentadas no Evangelho, em profunda sintonia com as orientações da Igreja Católica Apostólica Romana à luz do Carisma ‘Ser Recanto do Espírito Santo para transformar vidas em fontes de água viva’ da Comunidade Católica Recanto do Espírito Santo.”

“Apoiados no método educativo de Dom Bosco, na referência pedagógica de Hugo de São Vitor, na filosofia perene de São Tomás de Aquino e no Magistério da Igreja Católica, proporcionamos uma pedagogia adequada para nossas crianças, pois através da razão, religião e do amor, pilares do Sistema Preventivo de Dom Bosco; através da pedagogia vitorina que pressupõe que a vida do intelecto é precedido pelo desenvolvimento da vida dos sentidos; através da contemplação da verdade natural e revelada, objetos de estudo da filosofia perene; assim como por meio da formação humana, doutrinal e espiritual, tripé do Carisma Recanto do Espírito Santo; elas crescerão em plenitude nas virtudes, na sabedoria e na santidade, tornando-se além de bons cristãos e honestos cidadãos, pessoas capazes de transformarem vidas em fontes de Água Viva.”

Informa, ainda, que “a Associação Recanto do Espírito Santo é a mantenedora da Comunidade Católica Recanto do Espírito Santo e do Colégio Recanto do Espírito Santo. Tem como fundadores o casal Cristina e André, que junto de várias pessoas que se identificam com o carisma da comunidade, têm sido modelos de firmeza, coragem e disposição para anunciar o Evangelho de Jesus sem medir esforços.”

COMENTÁRIOS

Uma resposta

POSTS RELACIONADOS

110 anos de Carolina Maria de Jesus

O Café com Muriçoca de hoje celebra os 110 anos de nascimento da grande escritora Carolina Maria de Jesus e faz a seguinte pergunta: o que vocês diriam a ela?

Gaza, a humanidade possível

O passeio das crianças na praia. Os grafites de amor. Os bailes. Romancista resgata lembranças e imagens da vida que pulsa. Ali, onde há poucos dias Israel metralhou mais 112 e jornalistas são assassinados por drones, para que ninguém conte a história. Já são mais de 30 mil mortos e 70 mil feridos, ampla maioria civis como as crianças que andavam na praia

Quem vê corpo não vê coração. Na crônica de hoje falamos sobre desigualdade social e doença mental na classe trabalhadora.

Desigualdade social e doença mental

Quem vê corpo não vê coração.
Na crônica de hoje falamos sobre desigualdade social e doença mental. Sobre como a população pobre brasileira vem sofrendo com a fome, a má distribuição de renda e os efeitos disso tudo em nossa saúde.