“Que 2022 termine de levar embora Bolsonaro e seu bando. Que tenhamos força e amor pra boicotar as empresas e o sistema que destrói o planeta e são a causa da crise climática. Que tenhamos solidariedade com as vítimas do desgoverno, do clima, dos genocídios, da pobreza e das guerras”
São Paulo, dia primeiro de janeiro de 2022.
Aqui estou mais um dia, sob o olhar sanguinário do vigia… Opa! Peraí que eu troquei as letras.
Apesar de que, pensando bem, a quebrada se sente mesmo como o autor da música Diário de um detento: trancada e sob a mira da polícia o tempo todo.
Apesar disso, e a contragosto do desgoverno necrótico, pra quem morte é lucro – é sacrifício alheio para o bem da elite vampira e sem coração no qual a gente possa enfiar uma estaca… Apesar disso, 2021 foi sim um ano de esperança.
Mesmo que o desgoverno tenha tentado impedir as vacinas – e eu aposto que ele tomou sim a dele… ali, no miudinho… Mesmo apesar disso, a população brasileira vacinada vai indo muito bem, obrigada.
2021 foi também o ano dos reencontros. Ainda tímidos e pouco à vontade, eles trouxeram afeto e calor humano pra quem conseguiu participar dos poucos eventos e encontros particulares, suspensos durante as fases mais agudas da pandemia.
Na quebrada, de fato, os reencontros não foram possíveis. Ou porque a vida seguiu quase normal, no modo permanente de “sobrevivência”, ou porque a enchente levou, como no Sul da Bahia, nossas casas e nossas famílias, ou então foi a Covid e suas ramificações, ou, ainda, porque a polícia nos matou. (E eu tô com mó saudade. O meu neguinho não vai mais voltar.)
A questão é que 2021 trouxe um pouco de esperança, mas ele acabou e a nossa sorte ainda não virou completamente. E só porque somos fortes é que seguimos existindo.
Porque a gente é tipo formiga, é o enxame, é a zica. A família está unida e a despeito de tudo isso continuaremos a nos multiplicar. A Bahia resiste. O povo preto e pobre resiste.
Que 2022 termine de levar embora Bolsonaro e seu bando.
Que tenhamos força e amor pra boicotar as empresas e o sistema que destrói o planeta e são a causa da crise climática.
Que tenhamos solidariedade com as vítimas do desgoverno, do clima, dos genocídios, da pobreza e das guerras.
Que o ano bom traga alegrias, reencontros, liberdade, saúde e amor. Literatura a gente garante.
Feliz ano novo a você que me lê e trilha comigo essa caminhada rumo a dias melhores.
Feliz ano novo a você.
Dinha (Maria Nilda de Carvalho Mota) é poeta, militante contra o racismo, editora independente e Pós Doutora em Literatura. É autora dos livros "De passagem mas não a passeio" (2006) e Maria do Povo (2019), entre outros. Nas redes: @dinhamarianilda
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