A Amazônia que está sendo entregue

O sol nasce na Amazônia fotos Cyro Assahira Jornalistas Livres

A região da Amazônia engloba um patrimônio cultural e ecológico único e os efeitos da mineração podem se estender muito além dos já gigantescos 47 mil quilômetros quadrados entregues à iniciativa privada.

O governo federal publicou, na quarta-feira (23) de agosto de 2017, o decreto que extingue a Reserva Nacional de Cobre e Associadas (RENCA) e possibilita que uma gigantesca área de 47 mil quilômetros quadrados na Amazônia, entre os estados do Pará e Amapá, seja explorada pela iniciativa privada.

Respiro da Floresta – foto Cyro Assahira

O decreto publicado carece de discussão embasada com o conhecimento produzido por estudos ambientais e sociais e passa ainda mais longe da consideração dos povos indígenas e tradicionais que devem ser diretamente afetados.

Juntos, inseridos, conectados, co-integrados e co-evoluídos com as florestas e seus processos naturais, estão aproximadamente 150 povos indígenas e dezenas de comunidades caboclas e ribeirinhas. A convivência entre os povos indígenas e a floresta já se estende por séculos. Hoje em dia já se sabe que a floresta foi moldada junto com estes povos, como exemplo, a distribuição das árvores e a composição do solo é resultado da convivência entre estas civilizações e o ambiente natural.

Comunidade de índios Tukanos, Desana e Tuyuka em São João do Tupé /AM – foto Cyro Assahira

 

As consequências da degradação da Amazônia, em diversos casos, são permanentes e de consequências globais, uma vez que a ecologia destas áreas podem estar relacionadas com processos de escala global. Algumas áreas são muito delicadas e pouco dinâmicas, podendo abrigar florestas de árvores milenares, um pequeno distúrbio nestes ambientes pode representar a quebra de um equilíbrio alcançado ao longo de séculos e resultar na morte desta floresta única.

 

Pôr do Sol no Rio Jari. Área que compreendia a RENCA – foto Cyro Assahira

A “área ex-RENCA”, uma área maior que o Estado do Rio de Janeiro (43,696 km²) e a Dinamarca (42,931 km²) engloba trechos da Amazônia que ainda carecem de estudos, principalmente com relação à ecologia destas florestas. As dimensões do real dano da exploração destas áreas podem ser perdidas e escondidas, mas os efeitos certamente serão sentidos e vão se estender muito além daqueles já gigantescos 47,000 km².

 

Bibliografia:

BRASIL. Decreto 9142/17. Extingue a Reserva Nacional de Cobre e seus associados, constituída pelo Decreto nº 89.404, de 24 de fevereiro de 1984, localizada nos Estados do Pará e do Amapá. Poder Executivo, Brasília, DF, 22 de agosto de 2017
CLEMENT, Charles R. et al. Origin and domestication of native Amazonian crops. Diversity, v. 2, n. 1, p. 72-106, 2010.
Instituto Sócio Ambiental – Quadro Geral dos Povos Indígenas Disponível em:< http:// https://pib.socioambiental.org/pt/c/quadro-gera/>. Acesso em: 25 de agosto. 2017.
LEVIS, Carolina et al. Persistent effects of pre-Columbian plant domestication on Amazonian forest composition. Science, v. 355, n. 6328, p. 925-931, 2017.
Portal Brasil. Área de 47 mil km² será destinada a atividades de mineração. Disponível em:< http://www.brasil.gov.br/infraestrutura/2017/08/area-de-47-mil-km2-sera-destinada-a-atividades-de-mineracao />. Acesso em: 25 de agosto. 2017.

 

 

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