AINDA BEM QUE AQUI NÃO TEM GREVE!

Estou pensando como é legal ser negro aqui no Vale do Ribeira, um lugar tão pacífico e calmo que me sinto mal em abordar questões polêmicas como preconceito racial, injúrias, cânions econômicos, qualidade de ensino, pena que os quilombos são tão longe, etc. Preocupa-me pensar que a abordagem destes assuntos possam abalar a tranquilidade existente e eu me sentir responsável por alguma mudança deste estado de paz.

Então resolvi não falar em questões polêmicas para não abalar o sistema de paz reinante.

Liguei a TV e o noticiário falava da greve dos caminhoneiros. É melhor não assistir isso, pensei, para que não venha influenciar o que eu quero escrever. Peguei o celular e explode na tela um ataque da polícia aos caminhoneiros em Santa Catarina. Procurei me reconfortar com um amigo, um ex-policial, e ele me diz que o ataque é necessário.

Espantei-me e perguntei, mas porque é necessário?  Ele respondeu: A polícia precisa usar as bombas de gás lacrimogêneo, pois os estoques estão para vencer e é preciso abrir novas licitações no estado.

Fiquei abismado com a informação, mas como aqui tudo é muito tranquilo, levei na brincadeira e ri (KKKKKKK)

Resolvi pegar um livro que jogaram em minha garagem no início da semana para dar uma olhada. O título é O Poder da Esperança o Segredo do Bem-Estar Emocional.

Aí eu consegui fechar a ideia, pela casualidade do casamento das informações, a calma reinante não é fruto do ambiente em si, mas uma consequência da disseminação do conceito que o poder da esperança nos garantirá dias melhores. E esta esperança estabelece uma estado de letargia e transmite uma sensação de calmaria em todo o Brasil.

Por isso que as pessoas são tão dóceis e indiferentes aos problemas que assolam alguns grupos específicos no país.

Deixei de lado o livro e liguei a TV novamente e o jornal pergunta: quando o país voltará à normalidade?

Mudei o canal e Ciro Gomes, que se apresenta como possível candidato a presidência do Brasil, diz ter a solução, e para isso não será nem ruim, nem bom, mas será bom e ruim quando for preciso.

Aí caiu minha ficha eu tenho que ser ruim, ser bom, alimentador de esperança, enérgico para manter o giro, e demonstrar que estes comportamentos tem como finalidade mantermos ou nos encaminharmos para a normalidade. Mas como viver e pensar desta forma com propostas tão antagônicas.

Então hoje eu resolvi me expressar conforme esta conclusão.

Então, esta semana os caminhoneiros pararam em protestos, devido às altas taxas de impostos cobrados que interferem diretamente em suas atividades, e que por tabela sofremos. Grande parte da população apoiou até que, a partir de certo momento passaram a se sentir prejudicados pelos efeitos da paralisação, passaram a questionar se o protesto era algo a ser apoiado ou não.

Conversando com uma pessoa que encontrei em um espaço público, ele disse que concordava com a greve. Afinal, se não houvesse prejuízo ninguém teria se manifestado para que o governo tomasse providências.

Aí eu pergunto por que ninguém se preocupa com o negros e pobres ou com o pobres negros?

A resposta me parece simples. Não se preocupam porque os prejudicados não fazem nada que incomode aqueles que estão vivendo numa estabilidade inalterada há séculos. A partir do momento que esta massa se conscientizar que se pararem, o Brasil também num efeito tipo cascata, irá parar. Aí será que a calmaria irá se transformar em um tremendo alvoroço e forçarão o estado a tomar providências?

Mas não quero que pensem que estou estimulando uma greve dos afrodescendentes. Sabemos que os afrodescendentes no Brasil ultrapassam a 90%. Assim acho que não seria greve, seria uma espécie de adormecimento coletivo. Então vamos pensar na possibilidade de apenas os negros e pardos fazerem greve, assim parariam apenas 54% da população, o que faria com que a outra parte 46% tivessem que trabalhar mais do que o dobro pelo mesmo salário.

Ah, muitos poderiam dizer, em compensação os 54% ficariam sem salário e sem o atendimento às suas necessidades básicas. De fato isto poderia ser uma penalização com o objetivo de furar a greve, mas a resposta poderia ser: já estão tão acostumados a lutarem pela sua sobrevivência e passarem necessidade. Acredito que aguentariam mais tempo do que os que estão nas camadas privilegiadas.

Já pensaram nisso, uma greve dos negros e pardos?

Ah! mas acho que eu fui muito ruim neste pensamento, livrai-me dele, pois existe esperança de que a igualdade de oportunidades se estabeleça de forma que todos se sintam felizes e esperançosos e possam viver na mais perfeita calma e harmonia. Desfrutando da beleza que o nosso país e a nossa cidade nos contemplam ao acordarmos e passearmos pelas margens do rio Ribeira, pelas nossas belas ruas, praças verdejantes e praias.

Ainda bem que aqui não tem greve!

Data importantes que devemos conhecer no mês de junho:

05 – Dia de Solidariedade ao Povo Moçambicano
06 – Morre o jamaicano Marcus Garvey, mentor do Pan-africanismo / 1940
21 – Nascimento de Luís Gama – jornalista, poeta, abolicionista / 1830
21 – Nascimento de Machado de Assis / 1839
24 – Nascimento de João Cândido, o “Almirante Negro”, líder da Revolta da Chibata
25 – Independência de Moçambique, África / 1975
26 – Independência da Somália / 1960
30 – Independência do Zaire, África/ 1960

Por Luiz Antonio Silva-X (Facilitador do Movimento Poder Negro Vale), direto da cidade de Registro/SP Vale do Ribeira e colaborador do Jornal Empoderado

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