Afinal, é professor ou pastor?
Por Dirce Waltrick do Amarante*
Arte: Giorgio De Chirico
Já era meu terceiro emprego em menos de dois anos: como engenheira química e antropóloga, havia trabalhado numa mineradora, mas tudo que eu propunha era feito da forma contrária. Cheguei à conclusão de que meus projetos não eram claros e que eu deveria me aprimorar, para o bem da empresa. Pedi exoneração.
Foi então que comecei trabalhar como colunista de um jornal de província, que estava falindo. De repente, o jornal decidiu virar porta-voz do governo. Minhas colunas passaram, não sei por que cargas d’água, a serem todas reescritas.
Foi então que uma tia, casada com um coronel e que por anos ficara fora das rodas sociais da cidade, mas que agora havia voltado com tudo e era figurinha carimbada nas festas, me convidou para fotografar os encontros do “Club du Vin”. Quando ela me falou o nome do clube, entendi que era o Clube do Vento, algo transcendente ligado à natureza. Nem imaginem a minha decepção.
Minhas contas se acumulavam e eu não tinha mais o que fazer; foi então que decidi ser professora, afinal, “Ser professor é quase uma declaração de que a pessoa não conseguiu fazer outra coisa”.
Engraçado, sempre achei que ser pastor é que era uma declaração de que a pessoa não havia conseguido fazer outra coisa na vida.
Enfim…
* Professora da Universidade Federal de Santa Catarina.