Adolescentes na mira

 

Debate com Caru Alves de Souza, diretora do longa-metragem “De Menor”, abordou a redução da maioridade penal durante a #ViradaPenal

A cena se repete: o adolescente entra na sala do juiz, escuta o promotor, que faz a acusação, e a defensora pública, que defende uma punição mais branda. Cabeça baixa, mãos para trás e olhar no chão. É a mesma postura que adolescentes em conflito com a lei mantêm diante dos funcionários da Fundação Casa. O juiz pergunta, antes de definir a medida socioeducativa que será aplicada, se ele ou ela está disposto(a) a melhorar. É só nesse momento que os personagens levantam a cabeça. Por um breve instante, antes da fala do juiz, parece haver perspectiva para a vida novamente.

Corta.

 

As imagens, que retratam com precisão a rotina dos jovens que cometeram atos infracionais, fazem parte do longa-metragem “De Menor”, premiado trabalho da diretora Caru Alves de Souza. A exibição da obra ganhadora do Festival de Cinema de San Sebastián e do Festival do Rio de 2013, entre muitos outros prêmios, fez parte da programação da #ViradaPenal, que aconteceu no último sábado (9/5), por iniciativa da Rede de Intervenção Contra a Maioridade Penal.

Ao final, houve um bate-papo com Caru, diretora do longa, e a jornalista Maria Carolina Trevisan, repórter da rede Jornalistas Livres, que tratou da redução da maioridade penal. “O cinema tem a capacidade de atingir as pessoas”, explicou Caru, na conversa que aconteceu no B_arco Centro Cultural. “Mas tem um limite porque a arte não muda a realidade. O que muda a realidade são ações mais diretas”, completou.

Debate sobre De Menor e redução da maioridade penal. Foto: Júlia Griebel

O filme conta a história de Caio e Helena, irmãos que ficaram órfãos e vivem juntos. Ele é adolescente e ela é defensora pública. Vivem em Santos, litoral paulista, onde se passa a trama. A rotina profissional de Helena é pesada. Ela lida com situações delicadas e atua com eficiência na defesa dos direitos da infância. Em casa, exausta, remonta o vazio afetivo em uma relação carinhosa com Caio. Até que ele se envolve em um delito e toda essa lógica é colocada em xeque.

Foto: Júlia Griebel
 A realidade de meninos e meninas em conflito com a lei soma outras vulnerabilidades além do abandono familiar, retratado na narrativa que envolve os personagens principais de “De Menor”. “São adolescentes que conviveram com situações de extremo desamparo”, explicou Carolina.

“A maioria vive em áreas com baixos índices de desenvolvimento humano, exposta a violências diversas. São jovens com baixa escolaridade, geralmente submetidos ao trabalho infantil, privados de convivência familiar e comunitária saudável, que frequentemente foram testemunhas de homicídios e vítimas de abuso sexual na infância”, completou.

Um dos momentos mais contundentes do debate foi a participação do ator Rubens Sabino da Silva, que interpretou o traficante “Neguinho”, no filme “Cidade de Deus”. Para ele, a injustiça racial no Brasil é um dos graves fatores que excluem jovens negros da sociedade. “Como me sinto quando uma pessoa atravessa a rua com medo de mim?”, questionou.

Rubens Sabino e Tiago Bambini durante debate no B_arco. Foto: Júlia Griebel

Encarcerar esses meninos e essas meninas não resolverá o problema da violência. A luta precisa ser pela garantia de direitos.


De Menor
Direção: Caru Alves de Souza
Atores: Rita Batata, Giovanni Gallo, Caco Ciocler e Rui Ricardo Diaz
Produção: Tata Amaral e Caru Alves de Souza
Roteiro: Caru Alves de Souza e Fabio Meira

Para entender no que implicaria a redução da maioridade penal,acesse a cartilha produzida pelo Cedeca (Centro de Defesa da Criança e do Adolescente).

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