A voz de Gaza quer ser ouvida

Relato ilustra que desespero na Faixa de Gaza se espalha por todo o mundo para aqueles que tem conhecidos na região
Faixa de Gaza bombardeada

A atual situação em Gaza dispensa apresentações. O cenário atual é de pânico e desespero. A cada dois minutos, uma bomba cai nas cabeças de mulheres e crianças, o que representa um nível de bombardeio que supera um ano de ataques no Afeganistão. Folhetos chovem sobre um hospital que abriga centenas de civis, médicos e enfermeiros no interior, enquanto do lado de fora, milhares de outros civis aguardam, trazendo consigo mais feridos a cada minuto. Esses panfletos servem como alerta de evacuação devido a um iminente bombardeio. O Estado de Israel parece decidido a atacar um hospital, no qual todos, desde aqueles que aguardam atendimento até aqueles que prestam socorro, são suas próprias vítimas.

Por Lucas Siqueira*, dos Jornalistas Livres

Como se um hospital não fosse o suficiente, o Estado de Israel forçou o deslocamento de quase um milhão de pessoas no norte de Gaza. Essas pessoas fugiram apenas com seus documentos e alguns poucos suprimentos que puderam carregar nas mãos. Aqueles que optaram por permanecer em suas casas agora vivem com o constante medo de ataques aéreos. Além disso, aguardam a presença de soldados, tanques, fuzis e balas posicionados na fronteira. Este é um cenário de extermínio que nunca imaginei presenciar em toda a minha vida.

Amigos em Gaza pedem ajuda desesperadamente, e temos pouco a oferecer além de palavras de apoio, como “estamos com vocês” ou “não os abandonaremos”. Qualquer pessoa com familiares ou conhecidos em Gaza, em qualquer parte do mundo, dificilmente conseguiu dormir mais do que algumas horas durante esta semana.

Como podemos dormir quando um amigo nos liga para compartilhar sua situação? O que dizer a alguém que afirma: “Não vou abandonar minha terra; o que passar pelo meu povo passará por mim”? Ou a quem diz: “Não tenho para onde ir; morrerei em casa”? Infelizmente, eles têm razão, pois as pessoas que fugiram sob ordens de Israel foram bombardeadas no caminho.
No sul do país, as pessoas estão recebendo amigos, familiares e até estranhos vindos do norte. As casas estão superlotadas, com uma delas abrigando mais de 100 pessoas, todas enfrentando sem água limpa ou energia. Como podemos dormir após receber uma mensagem assim?

Estamos todos desesperados. Queríamos voar para lá e resgatar todos, carregá-los nos braços. Eu sei que não sou ninguém neste mundo, minha voz não tem relevância. Mas me diga, o que você faria se uma jovem que você mal conhece há alguns dias te chamasse de tio e dissesse: “Pelo menos, se eu morrer, saberei que fui amada por pai e mãe”? Você ligaria para todas as pessoas que conhece, esperando que alguém pudesse fazer algo. Pessoas boas ouvem e tentam ajudar, mas também se sentem impotentes. Então você envia mensagens para figuras públicas influentes, muitas das quais você votou, e mais uma vez, ninguém quer se envolver.

Você se sente responsável, com a sensação de que a próxima bomba pode cair sobre sua cabeça a qualquer momento. Você olha para o lado e vê outra pessoa desmoronando porque, como você, ela não recebe respostas. Você olha para a pessoa que ama em desespero por te ver desesperado e sente como se o coração batesse em um peito vazio, um buraco.

Você corre para atender chamadas, ouve as vozes desesperadas dessas pessoas e lê suas mensagens aflitas. Você liga a TV em busca de informações, mas está ciente de que o que é transmitido já está sob o controle dos mesmos atores responsáveis por essa tragédia. Então, recorre às redes sociais e depara-se com pessoas divulgando informações falsas. Quando você compartilha uma imagem de um amigo ou amiga em Gaza que pediu para ser ouvido, se depara com mensagens como “está colhendo o que plantou” ou “espero que uma bomba o atinja em breve”.

Meus amigos e amigas em Gaza não são terroristas! Eles são filhos, filhas, pais e mães desesperados por sobreviver. Eles não pedem muito; apenas querem viver mais um dia. Você tenta transmitir isso a todos que conhece, mas mesmo as pessoas mais próximas parecem achar que você está perdendo o juízo. Sinto como se estivesse compartilhando o sofrimento de todas as pessoas em Gaza, e a carga é muito para carregar, mas você para e pensa “preciso carregar, por todos aqueles que estão aguentando em Gaza”.

Um amigo liga e diz: “Só quero que minha voz seja ouvida”. Você responde: “Vou fazer o que estiver ao meu alcance para te ajudar, meu amigo”. Mas você se sente impotente porque sabe que também tem pouca voz no mundo. Continua tentando, mas a ajuda não chega, e todos os poucos que desejam ajudar estão na mesma situação. Então alguém aqui lhe diz: “Descanse” ou, pior ainda, “Por que você se envolveu?”.

Ninguém que está aqui, do outro lado do oceano, tentando ajudar, pediu para se envolver. Nos envolvemos porque as pessoas que poderiam fazer algo ignoraram a situação. Eu não pedi para me envolver; apenas o fiz porque alguém me disse: “O mundo inteiro nos esqueceu!” Esse mundo se transformou em algo que não quero mais ver, mas infelizmente não tenho opção para deixar, pois ainda tenho vozes falando comigo.A atual situação em Gaza dispensa apresentações. O cenário atual é de pânico e desespero.

A cada dois minutos, uma bomba cai nas cabeças de mulheres e crianças, o que representa um nível de bombardeio que supera um ano de ataques no Afeganistão. Folhetos chovem sobre um hospital que abriga centenas de civis, médicos e enfermeiros no interior, enquanto do lado de fora, milhares de outros civis aguardam, trazendo consigo mais feridos a cada minuto. Esses panfletos servem como alerta de evacuação devido a um iminente bombardeio. O Estado de Israel parece decidido a atacar um hospital, no qual todos, desde aqueles que aguardam atendimento até aqueles que prestam socorro, são suas próprias vítimas.

Como se um hospital não fosse o suficiente, o Estado de Israel forçou o deslocamento de quase um milhão de pessoas no norte de Gaza. Essas pessoas fugiram apenas com seus documentos e alguns poucos suprimentos que puderam carregar nas mãos. Aqueles que optaram por permanecer em suas casas agora vivem com o constante medo de ataques aéreos. Além disso, aguardam a presença de soldados, tanques, fuzis e balas posicionados na fronteira. Este é um cenário de extermínio que nunca imaginei presenciar em toda a minha vida.

Amigos em Gaza pedem ajuda desesperadamente, e temos pouco a oferecer além de palavras de apoio, como “estamos com vocês” ou “não os abandonaremos”. Qualquer pessoa com familiares ou conhecidos em Gaza, em qualquer parte do mundo, dificilmente conseguiu dormir mais do que algumas horas durante esta semana. Como podemos dormir quando um amigo nos liga para compartilhar sua situação? O que dizer a alguém que afirma: “Não vou abandonar minha terra; o que passar pelo meu povo passará por mim”? Ou a quem diz: “Não tenho para onde ir; morrerei em casa”? Infelizmente, eles têm razão, pois as pessoas que fugiram sob ordens de Israel foram bombardeadas no caminho.

No sul do país, as pessoas estão recebendo amigos, familiares e até estranhos vindos do norte. As casas estão superlotadas, com uma delas abrigando mais de 100 pessoas, todas enfrentando sem água limpa ou energia. Como podemos dormir após receber uma mensagem assim?

Estamos todos desesperados. Queríamos voar para lá e resgatar todos, carregá-los nos braços. Eu sei que não sou ninguém neste mundo, minha voz não tem relevância. Mas me diga, o que você faria se uma jovem que você mal conhece há alguns dias te chamasse de tio e dissesse: “Pelo menos, se eu morrer, saberei que fui amada por pai e mãe”? Você ligaria para todas as pessoas que conhece, esperando que alguém pudesse fazer algo.

Pessoas boas ouvem e tentam ajudar, mas também se sentem impotentes. Então você envia mensagens para figuras públicas influentes, muitas das quais você votou, e mais uma vez, ninguém quer se envolver. Você se sente responsável, com a sensação de que a próxima bomba pode cair sobre sua cabeça a qualquer momento. Você olha para o lado e vê outra pessoa desmoronando porque, como você, ela não recebe respostas. Você olha para a pessoa que ama em desespero por te ver desesperado e sente como se o coração batesse em um peito vazio, um buraco.

Você corre para atender chamadas, ouve as vozes desesperadas dessas pessoas e lê suas mensagens aflitas. Você liga a TV em busca de informações, mas está ciente de que o que é transmitido já está sob o controle dos mesmos atores responsáveis por essa tragédia. Então, recorre às redes sociais e depara-se com pessoas divulgando informações falsas.

Quando você compartilha uma imagem de um amigo ou amiga em Gaza que pediu para ser ouvido, se depara com mensagens como “está colhendo o que plantou” ou “espero que uma bomba o atinja em breve”. Meus amigos e amigas em Gaza não são terroristas! Eles são filhos, filhas, pais e mães desesperados por sobreviver. Eles não pedem muito; apenas querem viver mais um dia. Você tenta transmitir isso a todos que conhece, mas mesmo as pessoas mais próximas parecem achar que você está perdendo o juízo.

Sinto como se estivesse compartilhando o sofrimento de todas as pessoas em Gaza, e a carga é muito para carregar, mas você para e pensa “preciso carregar, por todos aqueles que estão aguentando em Gaza”.

Um amigo liga e diz: “Só quero que minha voz seja ouvida”. Você responde: “Vou fazer o que estiver ao meu alcance para te ajudar, meu amigo”. Mas você se sente impotente porque sabe que também tem pouca voz no mundo. Continua tentando, mas a ajuda não chega, e todos os poucos que desejam ajudar estão na mesma situação. Então alguém aqui lhe diz: “Descanse” ou, pior ainda, “Por que você se envolveu?”.

Ninguém que está aqui, do outro lado do oceano, tentando ajudar, pediu para se envolver. Nos envolvemos porque as pessoas que poderiam fazer algo ignoraram a situação. Eu não pedi para me envolver; apenas o fiz porque alguém me disse: “O mundo inteiro nos esqueceu!” Esse mundo se transformou em algo que não quero mais ver, mas infelizmente não tenho opção para deixar, pois ainda tenho vozes falando comigo.

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