Quando acordei cedo, fiz o café, acendi o cigarro, olhei para o céu, encostado no tanque de roupas. Olhei para o chão e o vaso de plantas, onde cresce um pé de ora-pro-nóbis e suas folhas comestíveis.
De repente vi um pequeno ser, tão pequeno que quase não o via. Parecia afoito com algo, alguma coisa precisava ou queria descobrir. Curioso peguei a máquina fotográfica e uma objetiva indiscreta. Olhei na cara daquele indivíduo, lindo, tão cheio de alegorias.

Tive a impressão que era de alguma corte, algo de realeza, pois era tão bonita sua fantasia. Sei que era lagarta, daqui uns dias, borboleta. Ocorreu-me que talvez ele tivesse problemas maiores que os meus, outras questões em suas necessidades o atormentava, talvez muito mais urgentes que as minhas.

Por um fio, às vezes ficava ela, parece que brincava também a lagarta, nem asas tinha, mas voava. Pensei naqueles que todos queimam quando fogo no mato se põe. A barbárie está em muitos lugares.
Ela não tinha muito tempo a perder, pois nem a mim dava atenção ou valor, apenas cuidava de si. Bonito esse mundo, pensei comigo, de mim tirava a urgência da vida. Desejei-lhe boa sorte, agradeci as poses e a sinceridade entre nós que ali se revelara.

Bem sei que voar um dia, borboleta ser, está além daquilo que vou viver e morrer também. No lado esquerdo de meu coração selvagem, minha natureza é vã e o pensamento é nuvem.