A Polícia precisa ser controlada pela sociedade, ou vira Milícia!

Matar sem culpa - Foto de Marlene Bergamo
Ouvidor da Polícia, Benedito Mariano

O ouvidor da Polícia de São Paulo, sociólogo Benedito Domingos Mariano, tornou-se “persona non grata” dos deputados integrantes da chamada Bancada da Bala na Assembleia Legislativa de São Paulo. Não houve um único dia nesta semana em que um desses deputados não proferisse discurso violento contra Mariano, chamado sempre de “Inimigo da Polícia”. Para culminar a ofensiva, nesta sexta (12/4), o Diário Oficial publicou projeto de lei do deputado estadual Frederico D’Ávila, do PSL, o partido de Jair Bolsonaro, que pretende simplesmente extinguir a Ouvidoria da Polícia e, portanto, o posto de Mariano.

O que deixou os deputados major Mecca, coronel Nishikawa, coronel Telhada, Conte Lopes e Frederico D’Ávila especialmente furiosos foi o fato de Benedito Mariano ter divulgado uma estatística assustadora: em março de 2019, a polícia militar matou 46% mais pessoas do que em 2018! Se, em 2018 foram 52 mortes causadas por PMs, em 2019 esse número saltou para 76!

 

 

Foram 76 pessoas mortas depois de SUPOSTAMENTE

terem atacado ou atirado em policiais.

 

 

A palavra supostamente foi grafada em letras maiúsculas porque o mais provável é que a maioria dessas mortes nunca seja devidamente investigada.

Veja que absurdo: 3 em cada 100 mortes em supostos confrontos com PMs são investigadas pela Corregedoria da Polícia. A esmagadora maioria (97%) dos inquéritos, porém, corre dentro dos Batalhões em que os PMs envolvidos com mortes trabalham. Ou seja, são os amigos e companheiros mais próximos que investigarão se a conduta policial foi correta ou não. Isso, obviamente, facilita a impunidade.

Benedito Mariano defende que todos os casos deveriam ser investigados pela Corregedoria, já que ela dispõe de técnica, procedimentos e recursos necessários para isso.

Os deputados da Bancada da Bala não podem nem ouvir falar em punição a PMs violentos. Ao contrário, defendem que os policiais tenham uma espécie de “Licença para Matar”.

Esses deputados, defensores da tese segundo a qual “Bandido Bom é Bandido Morto”, ganharam poderosos aliados com a eleição de Bolsonaro e Doria, que em campanha disse que o policial deve “atirar para matar” e que os policiais que matarem devem ter, pagos pelo estado, “os melhores advogados” disponíveis.

Criada em 1995 pelo governador Mario Covas (PSDB), a Ouvidoria da Polícia de São Paulo é o único órgão de que a sociedade dispõe para controlar a atividade policial. É com a Ouvidoria que a população pode contar para obter informações sobre a ação da polícia, conseguir encaminhamento para denúncias contra maus policiais, cobrar providências. Independente da hierarquia da Secretaria de Segurança Pública, da PM e da Polícia Civil, a Ouvidoria é a representante da sociedade diante da instituição policial.

Defender a Ouvidoria e o Ouvidor Benedito Mariano é defender o direito de a Sociedade saber o que se passa dentro dos quartéis e delegacias. É defender um mínimo de transparência em uma instituição tão poderosa quanto a Polícia.

O Rio de Janeiro, Marielle e Anderson, além de tantas vítimas anônimas, sofreram e sofrem os efeitos trágicos de policiais atuando descontroladamente e sem prestar contas de seus atos à Sociedade. Vira milícia. Daí, tudo pode. Inclusive, virar bandido!

COMENTÁRIOS

4 respostas

  1. Marielli não foi morta por polícias da ativa, mas por traficantes a quem defendia.
    Supostamente ao publicar essa estatística esta baseada em dados oficiais e não cita a fonte. suposta,mente, esse argumento não é válido. supostamente escondeu a estatística oficial de massacres PERPETRADOS POR DESAJUSTADOS SOCIAIS( porque não cumpre a lei editada pela sociedade) aos policiais. Supostamente, vc defende bandido ao invés de mulher e homens honestos e trabalhadores pagantes de impostos, lutando por ganhar dinheiro e ter os bens de consumo honestamente. Criminoso contumaz não é filho de chocadeira, é gente, merece respeito e tem direito a vida, no entanto,faz escolhas e o Estado PARA PROVER SEGURANÇA É O POVO REPRESSOR, QUANDO A ESCOLA DO AMOR DEIXA DE SER A FAMÍLIA, para ser isento não diga que os pares julgam os pares fazem inquérito pelos pares. para ter seu argumento validade publique as estatísticas que embasaram s eu raciocínio. evite a falácia de lógica, fala´cia da autoridade, da argumentação emocional, da distorção das premissas. noticie fatos invés de opinião senão, penso não é jornalismo. Noticie fatos e publico ledor forme seu juízo de valor. ou isso que publicou é doutrinação partidária?

  2. Agradeço a matéria e fico feliz em ter sido criticado por vocês. Isso só solidifica ainda mais minha convicção que estou no caminho certo. Quem não gosta de polícia é só ladrão.

    1. Prezado deputado Frederico d’Ávila: o senhor deveria apoiar a Ouvidoria. É ela quem mais denuncia as péssimas condições de trabalho dos policiais, muitas vezes levados ao limite do desespero que é o suicídio! Se o senhor defende a polícia, deveria defender o trabalho da Ouvidoria e do Ouvidor, Doutor Benedito Mariano!

  3. Sugiro a esses que reclamam das mortes em confronto por policiais que sejam voluntários e acompanhem os policiais, em sua operações. Quando os bandidos sacarem suas armas ou começarem a atirar, que esses, pelo exemplo, mostrem como tem que ser feito para neutralizar os meliantes, sem matá-los….só então os levarei a sério…fora isso é só mimimi de quem espera que os policiais arrisquem suas vidas para preservar a dos bandidos…

POSTS RELACIONADOS

Na frequência do ódio

Na frequência do ódio

O Café com Muriçoca, que passa a ser toda quinta-feira, reflete sobre a perseguição política e o cerceamento ideológico a quem rejeita a riqueza como estilo de vida aceitável.

As crianças e o genocídio na Palestina

As crianças são as mais vulneráveis, além de constituem metade da população que compõem a Faixa de Gaza, território considerado a maior prisão a céu