A onça na cidade

O mundo começou com grandes catástrofes que resultaram do mau uso do poder e por desentendimentos entres os seres que habitavam a terra; após, os deuses antigos reconstruíram o mundo. Quem mantém a ordem são os pajés, chamados Guardiões dos Cosmos – escreve Denilson Baniwa em sua rede.

Denilson Baniwa, do povo indígena Baniwa é natural do Rio Negro, interior do Amazonas. É publicitário, artista visual comunicador, web ativista e ativista dos direitos indígenas e atualmente reside no Rio de Janeiro.

As atitudes do comunicador são surpreendentes, da arte ao pensamento, das interrogações às afirmações.

 

A violência sexual, aborto mata mais meninas indígenas que tiros. Acrílico recortado eletronicamente e serigrafado. 2017. 120 cm de altura.

 

Prossegue Denilson em suas redes:

A destruição do mundo é uma possibilidade presente, pois está marcado pelo mal que ainda vive dentro das pessoas. Estamos vivendo esse tempo onde a destruição dos seres humanos é bem provável, pois estamos destruindo tudo o que encontramos pela frente: os oceanos cheios de lixo, as florestas que viraram pastos sem vida, as cidades poluídas, as doenças que são derivadas do estilo de vida atual, as violências proporcionadas pela manutenção do Poder.

É provável que este mundo vá acabar logo, se não formos mais conscientes. A notícia boa é que logo após a destruição, haverá uma renovação onde o próprio mundo irá se curar, pois o veneno do mundo é o ser humano, onde reside toda sorte de maldade.

Música Nativa

 

Desde os anos pré-Constituição de 1988 que os povos indígenas viam a importância de se apropriarem dos meios de comunicação com debates presentes em suas discussões e esses meios já eram utilizados em prol do Movimento Social Indígena. Nos tempos atuais, esta necessidade permanece presente e se faz cada vez mais importante, pois através destas tecnologias e conhecimentos é possível realizar o reconhecimento e monitoramento territorial, a divulgação das questões indígenas dentro e fora do país, criar redes de povos onde possam unir ideias e estratégias, dentre outras possibilidades que são possíveis por meio das novas tecnologias.

Sobre índios usarem celular não serem mais índios: essa crença diz respeito ao desconhecimento sobre o que vem a ser identidade cultural. O progresso tecnológico da humanidade vem contribuir em diversos setores da sociedade e é instrumento a serviço dos seres humanos. Já a identidade cultural está ligada à história de um povo, seus signos, suas pertenças, visões de mundo, cosmologia e o sagrado. Dessa forma a utilização de “modernidades” ou novas ferramentas não significa o abandono ou a perda da cultura indígena, pode, inclusive, ajudar a fortalecer a identidade e transpor mudanças que ocorreriam naturalmente ou forçadamente pela violência externa.

Por fim o artista reza sua prece:

Pai Nosso que estás nos céus,

Neste dia 19 de abril,

Nos livre das professoras e professores que pintam seus alunos com canetinhas hidrocor

Nos livre das escolas que colocam cocares de papel nas crianças

Pai Nosso, que estás nos céus

Não deixem as professoras ensinarem para as crianças que o Dia do Índio é uma homenagem aos povos originários

Mantenha longe de Nós aqueles que repetem as palavras:

Índio, Oca, Tribo, Selvagem, Pureza e Exótico

Afaste de Nós os bu-bu-bu feito com a mão na boca

Senhor, perdoem aqueles que por desconhecimento nos fazem uma imagem estereotipada

Mas livre-os do desconhecimento e do preconceito que os fazem acreditar que ainda somos os indígenas de 1500

Amém!

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