Por Rudá Ricci, cientista político
Faltam pouco mais de dois pontos percentuais para Lula se aproximar da vitória no primeiro turno das eleições deste ano. Na última pesquisa XP/IPESPE, divulgada há poucos dias, Lula mantém 47,8% dos votos válidos, situação inalterada em relação à versão anterior deste levantamento.
De onde sairiam esses 2,2 pontos percentuais?
Há várias possibilidades. A primeira, junto aos jovens, nordestinos e mulheres. São segmentos de eleitores que tendem a votar em Lula. Portanto, seria possível criar uma onda favorável que carregasse indecisos.
Em março, Lula aparecia como candidato preferido de 48% das intenções de voto feminino no primeiro turno na pesquisa Genial/Quaest. Contudo, 6% das eleitoras brasileiras continuavam indecisas, o dobro do percentual de eleitores indecisos do sexo masculino.
O mesmo instituto de pesquisa indicava uma vantagem estarrecedora de Lula sobre Bolsonaro no Nordeste: 64% a 18%. Datafolha de março indicava 55% de intenção de voto pró-Lula e 20% pró-Bolsonaro, mas apenas 2% de indecisos na região.
Lula também aparece com ampla dianteira na preferência do eleitorado entre pessoas de 16 a 24 anos: 51% das intenções de voto no 1º turno, segundo o PoderData (instituto que sempre apresenta dados menos favoráveis à Lula) de abril. Contudo, apenas 3% deste segmento de eleitores apresentavam alguma indecisão naquele momento.
Por aí, temos uma indicação que para Lula conquistar o que falta de eleitores para vencer as eleições no primeiro turno, teria que investir no eleitorado feminino. Entretanto, não se trata de um eleitorado coeso em termos de ideário ou concepção política. Saúde e meio ambiente são temas destacados pelas mulheres brasileiras como de sua preocupação, segundo pesquisas realizadas nos últimos quatro anos. Contudo, uma gama de outros assuntos dificilmente centrais nas campanhas políticas povoam as suas aflições, como amor e relacionamento (60% das respostas), humor (55%), sexo (53%) e animais de estimação (48%). Definir um discurso focado neste eleitorado exige um enorme investimento em pesquisas e segmentação temática.
Por aí aparece uma outra possibilidade importante: o eleitor de Ciro Gomes. No final de abril, pesquisa do Instituto FSB para a BTG Pactual revelou que 61% dos eleitores de Ciro admitiam votar em Lula. Ora, Ciro têm hoje, dependendo do instituto de pesquisa, entre 6% e 8% da intenção de voto do total de eleitores brasileiros. São eleitores mais coesos em termos de ideário que o eleitorado feminino. E mais focados na pauta tradicional da disputa eleitoral nacional: economia e política.
O perfil do eleitorado de Ciro, segundo o Datafolha, é um pouco mais masculino que a média, com uma proporção de gente de mais idade também acima da média. Quase 60% deste eleitorado está no Sudeste. Ciristas rejeitam Bolsonaro: apenas 8% avaliam positivamente o governo, contra 23% no conjunto e 80% dos eleitores do pedetista afirmam não gostar do atual presidente da República.
Como se percebe, o eleitorado cirista é o que aparece mais coeso e preparado para dar a vitória a Lula no primeiro turno.
Mas, como convencê-lo e atraí-lo sem parecer soberba ou sadismo revestido de tentativa de convencimento? Abrindo portas para Ciro Gomes estar no governo lulista. É a maneira mais clara e objetiva para o eleitor de Ciro Gomes compreender que votar em Lula não será traição ou abandono às suas convicções e escolhas.
Evidentemente que não basta oferecer, com sinceridade, algum lugar nobre na campanha e no governo. É preciso deixar nítido que a eleição no primeiro turno se reveste de escolha plebiscitária: entre a continuação de um governo fascista e a retomada da normalidade democrática, entre o descaso atual e o investimento social e no desenvolvimento, entre as balizas da convivência civilizada e a barbárie. Em suma, uma forte campanha pelo voto útil neste momento.
O início tem que ser esta campanha. O voto útil, neste momento, é o resgate do Brasil para a maioria dos brasileiros. É um cartão vermelho aos fascistas, extremistas, olavistas e incompetentes que tomaram o Estado Brasileiro.
Se tivermos clareza e determinação, o anúncio desta campanha pode ser seguido de tentativas de Boulos, Freixo e Flávio Dino – dentre outras lideranças do campo progressista – em tentar demover Ciro de sua intenção e até mesmo o PDT de ter candidatura à presidência da República. Um convite à frente ampla pela reconstrução nacional. Uma demonstração forte e coesa neste sentido.
O passo seguinte seria uma campanha de aproximação com os ciristas, desfechada nas redes sociais por militantes de base. Uma onda que pode se formar.
O fato é que tem que ser agora. Antes das convenções nacionais dos partidos. Justamente neste momento que parece ser o mais angustiante para a direção do PDT e eleitores de Ciro Gomes. A boca do jacaré está fechando, como dizia Brizola. Lula está à meio passo de fechar a fatura no primeiro turno.
Não se trata mais de Lula ou PT. Se trata de dar um basta nesta loucura que o país se meteu. Dar esperança de uma vida melhor para metade da população que não garante mais todas as refeições num dia. Fazer o Brasil voltar a ser Brasil.