Por Renê Gardim
O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) anunciou recentemente que a inflação para a população mais pobre ficou 30% maior que a dos mais ricos em 2021. Isso não chega a ser surpresa. Mas exatamente como a inflação pode pegar muito mais quem ganha menos? É simples e trágico: a desigualdade no Brasil é tamanha que o nível de produtos consumidos pelas duas classes é impressionantemente diferente.
Ou seja, a cesta de consumo dos mais ricos é muito mais completa, pois eles podem usar o dinheiro para comprar bens, fazer viagens aéreas, manter automóveis e bancar seu lazer. Assim, tudo depende da sua cesta de consumo. Apesar de todos os itens terem a mesma variação para todas as faixas de renda, o peso muda conforme o salário mensal.
Grande parte dos trabalhadores formais recebe este valor. Já trabalhadores informais, nem isso. No entanto, uma família que tem uma renda de R$ 20 mil, por exemplo, compromete 3,5% do valor, restando R$ 19.286,14 no mês. Isso é apenas um exemplo. Certamente esta família irá gastar mais com alimentação e de melhor qualidade e variedade. Mesmo assim, resta o suficiente para moradia, educação e lazer. O mesmo não dá para dizer das famílias mais pobres.
É preciso lembrar que uma renda de R$ 20 mil não coloca essa família no topo da pirâmide social, onde estão os verdadeiramente ricos e que até mesmo ganham com a inflação. Esses são os milionários e, acima deles, os bilionários. Algo inimaginável para quem está na base da pirâmide sustentando os demais.
Só para fazer mais um exercício de comparação, se uma pessoa tem R$ 5.000 e dá R$ 0,50 para alguém, doou 0,01% do seu dinheiro. Já um milionário com R$ 5 milhões que doa 0,01% do dinheiro que possui deverá entregar R$ 500. Já outro, este um bilionário, com R$ 5 bilhões daria para a outra pessoa R$ 500 mil. Estes são os motivos pelo qual a alta de alimentos, que aliás estão “sobrando” no Brasil, impacta muito mais profundamente os mais pobres. Afinal, enquanto uns têm demais, outros não sabem se terão o que comer amanhã.