A corrupção como infecção que afeta nossa sociedade

Reprodução - blog.saude.gov.br (um dos mosquitos transmissores da malária)

Maior número de identificação de casos de uma doença pode não significar que ela esteja aumentando, mas sim que passou a haver uma melhor eficácia no ato de diagnosticá-la.

Dizer que agora há mais corrupção do que no governo FHC é o mesmo que dizer que em nossos dias há mais mortes por doenças diversas que matavam desde os primórdios da humanidade, mas que só foram identificadas com a medicina moderna.

Ou seja, o fato de termos mais consciência hoje dos casos de corrupção não significa necessariamente que não havia corrupção antes. Ao contrário, pode significar que hoje a corrupção é mais combatida.

A malária (uma doença que ataca o fígado causada pelo parasita Plasmodium) afeta populações humanas — mais intensamente — há pelo menos 10.000 anos. Quando uma pessoa era atingida pela malária, dificilmente se sabia o que de fato acometia o doente. Sentia-se os efeitos, mas não se sabia o que de fato estava ocorrendo dentro do organismo da pessoa.

Somente em finais do século XIX os cientistas/médicos Patrick Manson eRonald Ross conseguiram identificar o parasita que atacava o fígado das pessoas e que causava fortes febres nos que contraíam a doença.

Isso significa que Manson e Ross inventaram a malária? Significa que ao identificarem o Plasmodium e seu ciclo de vida e de reprodução no organismo humano eles se tornariam os responsáveis pelo surgimento, ou pelo aumento da doença – como consequência de terem ajudado a diagnosticar mais facilmente a malária? Certamente que não!

É necessário separar o aumento da percepção em relação a um problema (como é o caso da corrupção) de um real aumento do problema. Como se faz necessário considerar que antes da descoberta científica da malária (ou maleita para os mais antigos), milhões de pessoas devem ter morrido ao longo da história da humanidade por causa dessa doença sem que ninguém ficasse sabendo.

A diferença da corrupção de hoje com a de ontem é que a nossa mídia tradicional se esforça em esconder a corrupção do passado e se alegra quando as autoridades (tal como fazia Geraldo Brindeiro — ex procurador geral da União do governo FHC que entrou para a história como “o engavetador geral da União”) engavetam, escondem ou “sentam em cima” de provas contundentes de governos que se posicionam mais à direita.

Há pessoas que de fato não prestam atenção em contextos e comparações como a que foi feita acima, há outras que fazem questão de ignorar considerações como as descritas, pois acham que se pensarem demais sobre o tema, serão obrigadas a adotarem uma postura mais ética ou menos hipócrita. Mas chega uma hora que não tem como ignorar.

A corrupção não nasceu no governo Dilma. A corrupção passou a ser investigada de fato e punida em seu governo, tal como a malária passou a ser combatida mais efetivamente a partir de 1880. Devemos mandar exumar os corpos de Manson e Ross para cuspir em seus cadáveres por conta da malária que ainda aflige o mundo?

Certamente que não!

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