por Franklim Peixinho
Três Yabás e duas filhas de santos foram protegidas por Exú. “Exu matou um pássaro ontem, com uma pedra que só jogou hoje”, este provérbio que ressalta as qualidades desta divindade dos caminhos, astuto e protetor, se concretiza/exemplifica quando uma branca, racista, usada por Exú, protegeu a obra “Orixás”- pintada pela artista Djanira – da sanha facista e irracional de uma horda branca que invadiu o Distrito Federal.
Njila é o caminho do justo e não as trilhas da barbárie, que foram há muito tempo anunciadas nas “anedóticas” tiradas racistas, homofóbicas e sexistas do ex-presidente. Os discursos de ódio a conta gota, tornaram-se caudalosos; institucionalizaram-se e acenderam o que há de mais podre da nossa herança colonial portuguesa-europeia. Os opressores interseccionais se despudoraram, e sem cerimônias, têm orgulho em destilar o ódio a negros, mulheres, LGBTIQIA+, nordestinos e pcd’s.
Assim prosseguem…
Ao ocuparem os espaços estatais – aliás, já ocupam há muito tempo, por exemplo, o judiciário branco e hetero, em uma sociedade racista, sexista e homofóbica, como a brasileira, produz violências, que são mais eufemísticas, mas, não menos perversa –; eles – os extremistas de direita – se arrogaram em um passo a mais, qual seja, profanar a imatura democracia brasileira de forma expressa e não mais de modo latente. Assim foi o governo Bolsonaro, e assim segue o conjunto de gente negacionista, inimiga da cultura, que, messianicamente, odeia tudo que representa a diversidade de pensamento.
Esta irresponsabilidade não republicana, em que tudo é justificado ou se legitima, mesmo o mais abjeto ato de violência, também ancorada no privilégio da branquitude, transforma bravatas em tiros de fuzil, temperados com granadas em agentes da Policial Federal, como também alimenta a crença de que a um povo branco, vestido de verde amarelo tudo pode, até porque foram conduzido por “cordeiros da paz” – quase todos brancos, vestidos de agentes da segurança pública do Distrito Federal -, que ora confraternizavam com acenos aos terroristas, ora indicavam o caminho para a prática dos crimes, ora demonstravam o aval para os atos criminosos de extremistas bolsonaristas. Mas houve exceções, poucas.
Um manifestação não branca, oriunda dos movimentos sociais, termina com a morte de pessoas não brancas – Carajás, por exemplo –, mutilações, como o caso do senhor que ficou cego em Recife no ato contra Bolsonaro, ou ainda, quando das intervenções policiais, a cor ou objetos “perigosos” são o sinal verde para execuções sumárias, a exemplo dos “80 tiros” em um homem negro que ia para um chá de bebê, ou o assassinato, dias atrás, de um homem negro, que andava na favela carregando um pedaço de pau, ambos os casos na cidade do Rio de Janeiro.
As forças de segurança pública no Brasil têm espírito branco/racista, embora seja formada por negros – principalmente do sudeste para cima -, que executam a necropolítica contra seus pares étnicos. Diante disso, além de uma formação antirracista, é preciso “desbolsanarizar” a segurança pública em relação a “legitimação” sobre os ataques à democracia e à república, e extirpar a leniência étnica com determinada casta de bandidos. Ser marginal branco no Brasil, garante conselhos, fotos sorridentes para as redes sociais, e uma tolerância paternal por parte dos agentes públicos de segurança. Já o não branco – negro, pardo e indígena -, Abdias Nascimento, Sueli Carneiro, Achile Mbembe nos oferecem o destino que nos é dado pelo estado racista brasileiro: morte e prisão.
Extremistas marginais depredaram prédios públicos e obras de artes com perfurações, como em a “As Mulatas”, quadro do modernista Di Cavalcanti. Numa interpretação “dadaísta” – forçada até – creio que os néscios fizeram uma autofagia da sua incultura, ao atacar representações negras da obra, sob o título racista “Mulata”.
Recuperemos as “Mulatas” – é… assim foi concebida – porque Njila/Exú protegeu os “Orixás”.
Leia também:
Atenção Lula: Bolsonaristas não desistiram de destruir Brasília
Bolsonaristas ameaçaram matar repórter dentro do Senado