A classe média vai ao shopping. Protestar?

Fotos: Adolfo Garrourx

 

Pode reclamar, xingar, espernear etc. Não é tentativa de desqualificar o protesto, seus participantes ou demandas, mas, neste domingo, 16 de agosto, na avenida Paulista, quase só tinha classe média e branca. Pronto. Simples assim. Eu vi com esses olhos aqui. Percorri quase 2,5 km entre os manifestantes e a conclusão é apenas uma: este protesto era da elite. Homens e mulheres de todas as idades, porém brancos, um festival de bermudas bem passadas, sapatênis sem meias e quilos lábios preenchidos. Sem contar o botox, é claro.

Bem mais vazio que o primeiro grande protesto deste ano organizado pela chamada “nova direita”, quando a estimativa mais crível apontou a presença de 450 mil pessoas, hoje, segundo o Datafolha cerca de 135 mil pessoas estiveram na Paulista (contra 350 mil apurados pela Polícia Militar. Sim, a conta feita pela entidade já virou piada, saiba mais aqui). Mas, mais do que o número em si, a avenida estava vazia era de entusiasmo.

Nem todo o verde coordenado perfeitamente com azul, branco e amarelo — o stylish da galera da direita na Paulista é digno de cenografia de novela da rede Globo — conseguiu disfarçar que a alegria de outrora já não habitava tais paragens. Não vi, em nenhum momento, a execução das tão faladas coreografias do impeachment, ou as elaboradas palavras de ordens, mas contei inúmeras camisas polos de grifes, maxi-bijoux, tonalidades infinitas de louros e muitas dezenas de saltos altos.

Marcado para começar às 14h, o protesto começou a perder público antes das 15h. Participantes aproveitavam a oportunidade de estar na região para caminhar com a família, almoçar em um dos inúmeros restaurantes, ou ver vitrines. Um dos principais points foi o recém-inaugurado shopping Cidade de São Paulo. Na verdade, se eu fosse dono do empreendimento mudaria a data de abertura do lugar para este domingo, 16 de agosto de 2015.

Quem frequenta a avenida Paulista diariamente, na altura do número 1.230, percebeu que o empreendimento construído no terreno da ex-Mansão Matarazzo, ainda andava vazio, algumas lojas não-inauguradas, tapumes, público ralo etc. Mas, no que depender da manifestação de grupos da direita como “Vem pra Rua” e Movimento Brasil Livre (MBL), a sorte do local mudou.

Logo após às 15h, os corredores do local foram invadidos por uma onda de pessoas trajando verde e amarelo, que lotou da praça de alimentação aos sanitários de limpeza impecável, passando por lojas, quiosques e demais atrações. Garanto, que “nunca antes na história deste país, aquele lugar viu tanta gente”. Em um ano de economia errática, a direita pode ter salvo de um destino medíocre na régua do capitalismo (mais) um shopping da avenida Paulista. Desta última manifestação fica uma lição: para um protesto, a direita organiza um belo de um rolezinho.

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