O realinhamento interno das Forças Armadas e a tentativa de quebra de hierarquia

As FFAA não devem ser compreendidas como bloco monolítico, mas como corporação com diversas clivagens internas que procuram atualizar ou reafirmar seu ideário que se forjou há um século

Farei um breve fio sobre o que aparentemente ocorre no interior das Forças Armadas (FFAA) brasileiras em relação ao alinhamento – parcial ou total – ao bolsonarismo. Consultei analistas, pesquisadores e interlocutores do Alto Comando. Lá vai:

Rudá Ricci, cientista político e presidente do Instituto Cultiva

O ideário e organização internos das FFAA brasileiras tem origem em cooperações com Alemanha e França. No início do século XX, militares se alinharam à concepção alemã. Uma comissão esteve na Alemanha e de lá trouxe a organização e ideário de defesa nacional.
A revista A DEFESA NACIONAL teria sido um dos resultados deste alinhamento, fundada por Euclides Figueiredo, Bertoldo Klinger, Genserico de Vasconcelos e Augusto de Lima Mendes.
Dos anos 1920 a 1940, portanto, um longo período de 20 anos, os militares brasileiros tiveram forte formação francesa. Foi ela que instalou o conceito de desenvolvimento nacional como missão das FFAA.
Esta concepção europeia sobre o papel das FFAA foi alterada depois do regime militar. Alteração que não se relaciona com investimentos. Os governos do período da Nova República que mais investiram na modernização e profissionalização das FFAA foram o de José Sarney e de Lula.


O realinhamento interno mais recente foi provocado pela entrada dos EUA no Brasil – via Paraná, daí a “República de Curitiba” –, a missão de paz no Haiti, a aproximação da Fundação Getúlio Vargas-RJ (FGV-RJ) ao Alto Comando e à reação às Comissões da Verdade.
Em 2009, Brasil e Paraguai assinaram acordo para combater o tráfico de drogas nos dois países, durante o encontro Estratégia de Cooperação Policial Brasil-Paraguai 2009, que ocorreu em Foz do Iguaçu (PR). O objetivo era desenvolver ações nas áreas de capacitação de agentes, investigação e troca de informações.
A localidade onde ocorreu o evento é importante porque os EUA disseminavam a informação de que o Al Qaeda teria uma base operacional em Foz do Iguaçu. Por ali se forjava uma parceria do governo brasileiro com a DEA, a agência americana de combate às drogas.
Esta foi a porta de entrada para o início das ações ofensivas à esquerda e ao projeto de desenvolvimento autônomo do Brasil. A Agência Pública chegou a noticiar que a diplomacia americana manteve reuniões com o governo brasileiro, via Ministério da Justiça.
O acordo possibilitava que oficiais da DEA viessem trabalhar no Brasil a partir de 2009 sem autorização do Itamaraty, que se opunha à medida.
Já a missão do Haiti foi outra iniciativa que forjou uma ponta-de-lança do Exército, um núcleo duro de intervenção política articulado com ações agressivas e violentas neste campo de disputa. Foram 13 anos desta missão agindo no Haiti.


Desde o início, em 2004, a operação internacional foi liderada por um general do Brasil. Entre 2004 e 2007, a presença da missão brasileira foi constante nas favelas mais violentas do país: Bel Air, Cité Militaire e Cité Soleil. O objetivo era expulsar gangues locais.
Em dezembro de 2011, a Rede Nacional de Defesa dos Direitos Humanos (RNDDH) denunciou que agentes estiveram envolvidos “em casos de estupro, roubo, assassinato e detenções ilegais e arbitrários” e citou uma dezena deles. O envolvimento de três brasileiros em agressão contra jovens foi investigado. Um jogo da Seleção Brasileira de futebol no Haiti procurou melhorar a imagem da missão brasileira.
Durante a gestão de José Viegas Filho como ministro da Defesa de Lula (2003 e 2004), a FGV-RJ, importante polo de formulação liberal do Brasil, passou a desenvolver palestras para o Alto Comando das FFAA. Daí vem o alinhamento ao pensamento liberal.
Mas o ponto central desta guinada aparentemente bolsonarista dos militares foi o que consideram descontrole dos andamentos das Comissões da Verdade instaladas durante a gestão Dilma Rousseff. Forjava-se acordo com as FFAA para que fizessem pedido de desculpas pública sobre os atos praticados durante o regime militar. Mas, o caldo entornou quando a figura de Eduardo Gomes foi atingida. Após a divulgação do relatório final da Comissão Nacional da Verdade (VNV), o Clube Militar divulgou uma nota exigindo medidas judiciais contra os “crimes” cometidos pela comissão. A nota sustentava que a CNV teria enveredado para a calúnia e difamação.
Contudo, toda esta história recente não gerou alinhamento automático ou sólido com Jair Bolsonaro. Hoje, as FFAA estão divididas ao longo de sua hierarquia.


O alto comando avalia muito negativamente a destruição que o governo federal vem fazendo em relação a todo esforço de retomada da credibilidade das FFAA dos últimos 30 anos.
Bolsonaro aposta – como sempre apostou, desde sua época como deputado federal – no baixo oficialato, nos aspirantes a general ou naqueles que buscam algum benefício público, mesmo não tendo muita chance de atingirem o topo da carreira militar.
Muitos generais afirmam que tanto o projeto de autonomia das Polícias Militares, quanto a tentativa de promoção acelerada das carreiras do baixo oficialato foram meros balões de ensaio, ou melhor, sinais de agrado a esta hierarquia intermediária das FFAA e PMs.
Em 7 de dezembro, Jair Bolsonaro baixou decreto alterando a norma de promoção para o posto de coronel, antes, definido pelo critério de antiguidade e merecimento. O decreto durou dois dias. A grande imprensa avaliou como desorganização do governo. Não era.
Por este motivo que Bolsonaro viaja pelo país para participar de formatura desse segmento intermediário das FFAA. Algo não muito comum para um presidente da República. Bolsonaro tenta ter seu apoio militar do “baixo clero”.
Então, o que sugiro é compreendermos as FFAA não como bloco monolítico, mas como corporação com diversas clivagens internas que procuram atualizar ou reafirmar seu ideário que se forjou há um século. Disputa que se acirra com o aumento de seu poder político.

Do mesmo autor:

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

COMENTÁRIOS

31 respostas

  1. Por isso defendo a extinção, sem tardar das forças armadas, são obsoletas, custam mais de cem bilhões ao ano e sempre estão preocupados com a corporação. Não defendem a constituição (vejam a confissão de Villas Boas), não defendem a nação (recentemente entregaram o pré sal e Alcântara) e não defendem o povo (60 mil assassinatos por ano e estão liberando armas sem nenhum controle). Pensam apenas em suas promoções e em seus ganhos.

    1. As Forças armadas brasileiras custam precisamente 147, 8 bilhões de reais por ano. É o 12° maior orçamento do mundo. Mais de 70% é desperdiçado no pagamento de salários e pensões. O que se arrecada por ano com a contribuição dos militares da ativa não cobre a despesa mensal com o pagamento das pensões das filhotas solteironas desocupadas dos militares.

      1. Outro que não sabe o que está falando, só repete a mesma ladainha

        1. Sabe sim, pois existem casos na minha família
          Privilégios que o presidente Lula deu fim!!!

      2. Ventríloquo de comunistas… aliás…
        Não caio mais nessa fé direita ou esquerda…
        Sou exercito brasileiro!
        Nacionalista…

      3. Vc tem que se informar mais antes de falar bobagem….as filhas solteira não recebem pensão desde 2001( governo Fernando Henrique)… Desse valor gasto 78% é para o exército fazer obrar em estrada e elevação do Rio São Francisco. Porque nosso querido presidente barba roubou tudo através da Odebrecht. Para a marinha dar a única assistência hospitalar atravéz de seus navios hospitalares, e a aeronáutica fazer ajudas humanitárias em enchentes, deslizamento de terras etc…
        Mais um emprenhado pelo ouvido c um monte de bobagens da esquerda que em seus governos só roubaram o povo.

    2. Total desconhecimento da missão das FFAA, repete o que te disseram um dia e não procurou saber o que é verdade ou não, abra sua mente e pesquise antes de falar sandices.

    3. Mais um ignorante, falando sem propriedade… Pois é, desprovido de conhecimento do papel constitucional das Forças Armadas… Sai do mundo dos néscios, estude sobre… Conheça com profundidade e depois… Faça uma propositura consistente…

    4. Deixar de falar besteira. Vc sabe e todo Brasil sabe quem controla o país. Apaga essas coisas e se embase realmente quando for opinar alguma coisa.

    5. Tú és tão estúpido que chega dar nojo”
      Não existe nação sem exercito”
      Sou a favor de que o exercito receba o dobro de dinheiro…pois eles os militares são os únicos que trabalham neste país…
      A classe política é falida… não tem mais concerto, seria o mesmo que concertar um doce de merda… não dá…tem que jogar até a vasilha fora.
      Agora se você não gosta do exercito eu vá embora do país.. porque você goste ou não… daqui para frente este país será resgatado , sairá da paraplegia nas mãos deles..
      Resgate de cidadania e tradição!
      Um país para um povo de bem!
      Os maus intencionado…vazem!!?

    6. Para de falar merda, não sabe nada que tá falando, se acontecesse uma invasão hj as Forças armadas estariam prontas, mas pessoas igual vc fala oq ouve é não oq vê .

    7. Não sei em que mundo você vive pois dá pra ver que você não conhece as FFAA do seu País. Pare de falar besteira, só fale do que você conhece.

    8. Francisco dos anjos ou do capeta vc é a meba da pulga fala besteiras demais porqe vc não forma um grupo e vem acabar com FA eu estou te esperando idiota esquerdopatas

  2. Apaga esse lixo que dá tempo, Sou Militar do Exercito Brasileiro,e que eu saiba e vejo é proibido militares falarem de política dentro da OM,ou expressar algum lado político,E outra que você sendo paisano nem tem moral pra falar do Exercito Brasileiro, você não foi e nem é militar,as Forças Armadas, É um “mundo”Bem diferente da sociedade.

  3. Nunca li tanta besteira assim…
    Esses “esquerdistas” não tem jeito…
    É por isso que essa “imprensa” está perdendo totalmente a credibilidade e andam “desesperados” atrás de “assinantes” pra não falirem…

    1. São parasitas da nação, e servem somente pra falar asneiras, pintas meio fio!!!

  4. Abobrinha e menosprezo a classe. Reportagem inútil e totalmente fora da realidade

  5. Matéria de alguém que realmente não entende nada das Forças Armadas brasileiras. Que historinha pífia! Bolsonaro sempre foi às formaturas militares, desde seu primeiro mandato.

  6. Essa gentinha medíocre que fala mal das FFAA deveria dizer aqui quem vacina as pessoas que residem nas regiões mais longínquas do Brasil. Deviam dizer quem transporta mantimentos e salva vidas nas calamidades públicas. Devia dizer quem é acionado para as ruas quando o tráfico está dominando a polícia. Vocês não sabem ou fingem não saber o tanto de coisas que as Forçado Armadas fazem, seus ignorantes!

  7. Exercito brasileiro é uma força minolitica…a ideia de corromper os baixas patentes até que o Bolsonaro teve… más foi interceptado pela igreja verde oliva do santo fuzil..está tríade Hugo chaves conseguiu usando o baixo escalão e o povo de cabresto . exercito povo e caudilho…
    O nosso exercito é sim uma força minolitica…
    O exercito de ontem é o mesmo de hoje…os homens passam… más a instituição permanece.
    Brevemente o céu do Brasil será todo estrelado.
    E o sopro das oliveiras chegará!
    Adssumos!
    Aço!

  8. Nunca li tanta baboseira num texto só… O que vocês tem na cabeça… ?

  9. Quanta idiotice, não se pode chamar esse lixo de reportagem de contra-informação, no máximo de reportagem barata e uma tentativa pífia de iludir o povo!

  10. Como tem imbecis neste país! Esquerdistas mal informados, mal intencionados, preguiçosos, não tem coragem/ disposição para a leitura . Chega a dar dó.

  11. Como sempre Rudá as próprias esquerdas se esquecem que “pau que dá em Chico, dá em Francisco também. Parabéns pelo artigo! Sandra Starling

  12. Rudá: me esqueci de algo muito importante para entender o problema da militarização de espaços urbanos: a doutrina da Defesa Social de MARC ANCEL e o último documento das FFAA do Cone Sul numa reportagem antiga de Clovis Rossi na FSP( 1986 ou 1987)- 17a Conferência realizada em Mar del Plata, 1987. Utilizei disso muito para tentar torear a PM na Constituinte mineira. Qual não foi meu espanto quando o prefeito Célio de Castro criou em BH à Secretaria de Defesa Social e a vereadora Neila Batista, do PT foi sua titular. O PT nunca se interessou em ouvir os que a hierarquia interna queria “rifar”….

POSTS RELACIONADOS