Por Carlos Eduardo Alves (*)
Meu pai era um são-paulino fanático. Uma de suas histórias preferidas era sobre o dia em que foi recepcionar na Estação da Luz, com uma multidão tricolor, Leônidas da Silva, o Diamante Negro, que o São Paulo contratara do Flamengo. Mas seu Ubaldo era sábio no futebol e amava Pelé.
A primeira vez que ouvi aquele nome ainda era criança pequena e devo ter achado engraçado. Morávamos em Lins, no interior de SP, e não havia televisão lá. Minhas lembranças que conservo da infância era o velho me chamando para ouvir pelo rádio, de sua cama, “o jogo do Pelé”. E ele sempre duvidava do locutor quando ouvia que Pelé falhara em alguma jogada.
Cresci um pouco e comecei a amar o futebol por causa de Pelé. Afinal, se até torcedor do São Paulo era doente por craque do Santos, o cara devia ser bom mesmo. Lembro que com uns 7 anos de idade o tio Oscar disse que levaria eu e meu primo Renato para ver um jogo de Pelé em Bauru. Chorei na emoção pura de criança.
Vi apenas quatro vezes Pelé em estádio. Mas vi centenas de seus gols por YouTube e TV. Meu pai tinha razão. O cara marcou mais de 1200 gols numa época em que os gramados eram horríveis, a bola e o equipamento esportivo pesavam toneladas, a medicina esportiva engatinhava e, principalmente, não havia cartão amarelo, quer dizer, os jogadores habilidosos eram muito mais caçados do que hoje.
Pelé fazia gols de direita, de esquerda, de bicicleta, de cabeça e até de bunda. Driblava e deixava zagueiros sentados com sua ginga genial. Inventou até uma crueldade com os adversários: chutava a bola de propósito na perna do rival e corria para pegá-la adiante. Assim, transformava os marcadores em parceiros involuntários de tabelinhas que geralmente terminavam em gols.
Pelé é o único jogador que ganhou três Copas do Mundo. A primeira aos 17 anos e fazendo dois gols na final. Detalhe: um dos gols começou dando um chapéu no zagueiro dentro da área. Não é à toa que foi reverenciado como o “Atleta do Século” passado.
A genialidade de Pelé abriu as portas da maioridade para o futebol brasileiro, sempre perdedor antes de 1958. Foi capa das mais importantes revistas do mundo, não somente as de Esportes. Era o Rei negro, o soberano que arrastou milhões de súditos brancos. De longe, é até hoje o brasileiro mais famoso do mundo, o nosso embaixador. Quantos, no Exterior, não ouviram “Pelé” quando se anunciaram brasileiros?
Isso tudo aconteceu há mais de 50 anos e ele continuou lenda. O cara que reinventou o futebol e tornou o Brasil campeão. Meu filho de 18 anos acaba de me ligar chorando. É um apaixonado por futebol e por Pelé. Choramos juntos. Mas o menino me consolou aos soluços; “Pai, Pelé não vai morrer nunca para quem gosta de futebol”. Pelé é tão grande como jogador que me fez chorar de alegria aos 7 anos e agora une minhas lágrimas às de meu filho. Pelé, o Rei do Futebol.
(*) Carlos Eduardo Alves, o Cadu, é jornalista, um amante do futebol e um apaixonado pelo Santos
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