Engenheiros do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) de diversas áreas, incluindo pesquisadores, analistas de dados, engenheiros de software, cientistas de dados, engenheiros de dados dentre uma série de outros especialistas, divulgaram no último dia 17 uma carta aberta na qual expõem tecnicamente por que o “Relatório Técnico Logs Inválidos das Urnas Eletrônicas”, publicado pelos engenheiros Carlos Rocha, Márcio Abreu e Flávio Gottardo de Oliveira, também formados pelo ITA, não representam a voz dos engenheiros formados pela instituição, tampouco possuem o rigor científico e validação metodológica para serem levados em consideração.
Carta aberta de Engenheiros do ITA à população brasileira
17 de novembro de 2022
Considerando a credibilidade do nome da instituição do ITA (Instituto Tecnológico de
Aeronáutica), bem como o impacto que estudos elaborados pelos engenheiros da instituição
possuem, e no sentido de colaborar para enriquecer a discussão sobre a governança das
eleições no País, o grupo de signatários desta carta, composto por engenheiros formados no
ITA que atuam na área de Dados, decidiu se manifestar a respeito do documento “Relatório
Técnico Logs Inválidos das Urnas Eletrônicas” (disponível neste link), de autoria atribuída aos
engenheiros Carlos Rocha, Marcio Abreu e Flávio Gottardo de Oliveira – todos também
formados no ITA -, como reportado na matéria do Estadão (encontrada neste link) e de outros
meios de comunicação.
A seguir são apresentados os pontos que os signatários desta carta gostariam de esclarecer:
- Os engenheiros citados como autores do relatório não representam os engenheiros
formados na instituição, tampouco representam a instituição em si. Em outras
palavras, o relatório mencionado não possui nenhuma validação metodológica ou
revisão do ITA para garantir o rigor científico esperado da instituição. - O relatório citado se baseia em duas análises de dados incorretas, que repudiamos
em metodologia, profundidade e qualidade técnica:
a) Análise estatística:
A primeira se refere a uma correlação existente entre urnas com resultado final
favorável ao candidato Lula e modelos mais antigos de urnas. O relatório afirma que o
resultado das urnas deveria ser independente do modelo das urnas e utiliza disso
como motivação para o estudo. Essa afirmação é equivocada em diferentes esferas. Na
verdade, o relatório ao afirmar que existe viés para o candidato Lula sem considerar
dados geográficos, por exemplo, comete um salto lógico antes de exaurir todas as
hipóteses.
É completamente esperado encontrar algum tipo de viés em uma análise que
exclui urnas de acordo com algum critério (no caso, urnas de modelo mais novo), dado
que nem as urnas nem os votos são uniformemente distribuídos (detalhes do
armazenamento e da logística das urnas podem ser consultados neste link na seção
“Armazenamento e suprimento de urnas”). Uma simples analogia seria remover urnas
do nordeste, o que também traria vantagens ao candidato Bolsonaro, por exemplo. A
observação do relatório, com base no que é apresentado, serve apenas de indicativo
de que as urnas de modelos antigos não estão uniformemente distribuídas com
relação à distribuição populacional dos municípios brasileiros. Esses dados, dessa
forma, não são indicativos de nenhuma fraude ou erro por si só.
No quesito científico, é importante pontuar que diferente do que defende o
relatório, correlação não implica causalidade, e o relatório não oferece nenhuma
evidência de causalidade entre a versão das urnas e características de seus resultados.
Além disso, o relatório cita vagamente “[…] estudos que mostram indícios fortes de
interferência […]” sem apresentar referências ou passos lógicos que sustentem tais
afirmações.
b) Análise de logs:
A segunda se refere à “impossibilidade” de atrelar logs a boletins de urna, o que
impediria validar resultados das urnas pelos logs. O relatório conclui que essas urnas
deveriam ser desconsideradas na totalização de resultados. Essa impossibilidade
estaria baseada em um comportamento anômalo quanto ao número de identificação
(ID_UE) da urna ao ser logado. Apesar de que é possível que haja algum erro que
tenha resultado na despadronização desse número ao ser registrado, as conclusões do
relatório de que é impossível identificar a urna são distorcidas. As urnas possuem
outros identificadores que são utilizados em conjunto ao código identificador, como
código de município, zona e seção, que quando utilizados em conjunto permitem
relacionar logs a boletins de urna de maneira correta.
Assim, considerando que os logs foram disponibilizados corretamente e que
são identificados pela localização (combinação de município, zona e seção), não há
indícios suficientes para apontar irregularidades nos registros ou não há
impedimentos de análises, como defendem os autores do relatório.
Adicionalmente, o relatório não explora como uma possível falha no código
identificador logado teria qualquer influência sobre votos computados antes de
sugerir uma intervenção no processo eleitoral.
Conclusão técnica:
A conclusão técnica dos signatários é que o relatório é superficial, limitado e
não segue boas práticas de análises técnicas e científicas como criação e teste de
hipóteses, além de não utilizar dados relativos à localização das urnas (município, zona
e seção) – elemento chave para compreender e analisar o cenário eleitoral, tanto para
analisar a distribuição de votos no território nacional e possíveis vieses, quanto para
relacionar logs e urnas. Também apresenta conclusões questionáveis como “[…]
utilizou uma versão de código do programa diferente […]” em face a outras
possibilidades, como falhas de software ou hardware e configurações internas.
Códigos iguais de programas de urna eletrônica podem gerar logs de urna diferentes
em face de diferentes interações e ambientes de execução. - Assim como os autores do relatório, o grupo de engenheiros signatários desta carta,
não representa o ITA, sendo apenas composto por profissionais formados na
instituição que não possuem nenhum vínculo ou supervisão para se posicionar em
seu nome. De forma geral, os signatários e críticos do relatório possuem diferentes
orientações políticas e trabalham em áreas relacionadas a dados em geral (como
Ciência de Dados, Inteligência Artificial, Aprendizado de Máquina, Estatística e outros
temas correlatos). - O grupo de signatários desta carta se disponibiliza, de forma voluntária, a revisar e
esclarecer eventuais dúvidas relacionadas aos campos da estatística, da análise e da
ciência de dados seguindo os procedimentos científicos que sejam desdobramentos
desta carta. - Ao ser procurado e questionado sobre a autoria do relatório, o engenheiro Carlos
Rocha explicou que até o presente momento não há uma versão final, completa e
atualizada do relatório – que será disponibilizada apenas em dezembro. Todos os
comentários presentes nesta carta são baseados no relatório divulgado pela imprensa,
e aqui referenciado. No evento da publicação de um novo relatório, o posicionamento
dos assinantes desta carta poderá ser revisto. - A lista de engenheiros do ITA signatários desta carta encontra-se ao final do
documento no Anexo I.
Atenciosamente,
Signatários da carta.
Contato: [email protected]
3 respostas
Engenheiros que são contra as urnas não representam o ITA, engenheiros que são a favor das urnas, esses representam o ITA? Explica isso melhor.
Acho q vc não pegou essa parte do texto, no item 3 “… Assim como os autores do relatório, o grupo de engenheiros signatários desta carta, não representa o ITA…”
São pessoas FORMADAS no ITA. Não apresentaram relatorio tecnico, apenas falacias. Ciencia se refuta com ciencia…. O resto é panfleto pra vender jornal.