Pesquisas não captaram voto útil de última hora em Bolsonaro

Os brasileiros se surpreenderam neste domingo (2) com o resultado das eleições, o que explica discrepância com as últimas pesquisas ?

Neste domingo (2), o resultado da apuração final dos votos surpreendeu o público, já que as pesquisas apontavam outro caminho. Na última pesquisa do Datafolha, divulgada no sábado (1), Bolsonaro aparecia com 36%, pela margem de erro, poderia ter de 34% a 38%. Já Lula (PT), aparecia com 50% dos válidos. A pesquisa Ipec, divulgada também no sábado, mostrava Bolsonaro com 37% e Lula com 51%. O resultado da apuração, que acabou 100% nesta terça (4), mostra, entretanto, o presidente com 43,20% dos votos, 5 pontos acima da margem de erro, e Lula com 48,43%. Para diretora do Datafolha, Luciana Chong, a pesquisa de sábado também pode ter provocado uma antecipação do segundo turno, o que significa a transferência de votos da terceira via para Bolsonaro.

Por Emanuela Godoy

Guilherme Boulos (PSOL), deputado federal mais votado por SP, também comentou nesta segunda (3), no Roda Viva, que essa discrepância com as pesquisas pode apontar uma migração de última hora de votos da terceira via para Bolsonaro. No caso das pesquisas presideneciais, Ciro Gomes (PDT) aparecia com 5% e Simone Tebet (MDB) com 6% no último Datafolha. Entretanto, na apuração final, os dois somaram 7%. A explicação de Boulos e outros analistas é que, após a pesquisa de sábado, antipetistas que preferem Bolsonaro ao ex-presidente, resolveram já fazer o voto útil no primeiro turno. A mesma coisa teria ocorrido em SP com eleitores de Rodrigo Garcia (PSDB), que alcançou apenas 18,40% dos votos.

Para Luciana Chong, essa é a explicação para a diferença entre as pesquisas e o resultado final: Bolsonsaro recebeu voto útil de última hora. O número de eleitores que estava inclinado a mudar de candidato ainda era alto durante a última pesquisa:  “A (última) pesquisa (do Datafolha) foi concluída no sábado. Naquele dia ainda tinham 13% que podiam mudar de voto. Entre eleitores do Ciro, chegava a 41%. Entre os eleitores da Tebet, 37%”, disse. A conclusão de Chong é que o eleitor de Ciro majoritariamente não queria votar nem em Lula, nem em Bolsonaro, ou seja, não tinha tanta identificação com o pedetista.

Nas pesquisas para o governo, sobretudo em São Paulo, os números também foram pouco certeiros. No Datafolha de sábado (1), Haddad aparecia com 39% dos válidos, Tarcísio com 31%, e Rodrigo Garcia com 23%. Já o Ipec mostrava Haddad com 41% dos válidos, Tarcísio com 31% e Rodrigo com 22%. Após a apuração, entretanto, o resultado foi outro. Tarcísio com 42,32% e Haddad com 35,70%. Pelo Datafolha, o resultado de Haddad está perto da margem de erro, já pelo Ipec, já está 3 pontos abaixo da margem, o que não significa muito. Por outro lado, Tarcísio, candidato bolsonarista, apaerece em disparado com quase 10 pontos acima da margem de erro.

Felipe Nunes, da Quaest, lembrou que as pessoas precisam parar de olhar as pesquisas como “um descritivo de corrida de cavalo”. “É preciso olhar por dentro. Na véspera, Quaest detectou que 44% achavam que Bolsoanro mereceia 2ª chance. O sentimento estava ali guardado”.

Outra análise

Para Marcelo Soares, jornalista de dados, “a média dos resultados dos institutos de pesquisa mais sérios só ficou fora da margem de erro para um candidato: aquele que passou mais de quatro anos insuflando seus eleitores contra pesquisas”. Soares explica que o crescimento de Bolsonaro no primeiro turno em relação as pesquisas pode ser entendido como uma recusa dos bolsonaristas em responder esses institutos. Acontece que os estudos se baseiam na opinião de quem topa responder. Sendo assim, se há um boicote por parte dos apoiadores do presidente, isso acaba refletindo nas pesquisas. Para o analista de dados, como os demais candidatos, em média, não ficaram fora da margem de erro, essa seria uma das explicações plausíveis.

Durante o mandato de Bolsonaro, institutos de pesquisas foram atacados inúmeras vezes pelo presidente e por sua família. No 7 de setembro, na Avenida Paulista, seu filho Eduardo Bolsonaro discursava contra o “Datafalha” e dizia que o pai venceria em primeiro turno: “Aqui tem data povo”. “Quem aqui acredita em pesquisa eleitoral?”, perguntava o deputado. “Eu não”, respondia, aos gritos, o povo ali aglomerado. A desconfiança com o resultado das pesuisas se difundiu entre seguidores do presidente no período eleitoral. Pesquisas sérias como Datafolha e Ipec foram colocadas em cheque por bolsonaristas, embora não gerassem desconfiança para o restante da população, que assistiu durante os últimos anos uma pequena margem de erro nesses estudos.

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