Por Renê Gardim*
Se o Brasil começasse hoje, com investimentos pesados, dentro de 6 a 8 anos poderia ser quase que autossuficiente em produção de nitrogenados, produzir quase todo o fosfatado e uma boa parte do potássio que precisa em suas lavouras.
Esses compostos são os fertilizantes mais usados pelos agricultores e atualmente são importados. Um problema sério que ganhou importância com a guerra entre Rússia e Ucrânia.
O problema
Mas vejamos o que acontece. O problema da falta de uma produção local de fertilizantes é tão antigo quanto o lema assumido pelo agronegócio tupiniquim, no qual o Brasil é o celeiro do mundo. Tenho que reconhecer que temos potencial para isso. Há terras em abundância e um clima favorável, apesar dos problemas atuais provocados pelo aquecimento global.
No entanto, enquanto os produtores rurais, especialmente os de commodities (soja, milho, café e carnes) se vangloriavam de terem ampliado consideravelmente nossa produção com pequena expansão de terras agricultáveis, graças ao aumento da produtividade, nossos estrategistas de plantão, em especial nos governos federais, tomavam decisões que nos colocaram reféns do mercado internacional de fertilizantes e de agrotóxicos.
“Havia produção nacional de fertilizantes”
Chegamos a ter produção nacional. Administrada pela holding Petrofértil, da Petrobras, desde o momento seguinte em que foi constituída em 1977 pela Vale do Rio Doce, então propriedade da União, a Fosfértil tornou-se rapidamente a maior produtora nacional de matérias-primas para adubos.
Tínhamos uma parte relevante dos nitrogenados amônia e ureia produzida pela Petrobras na Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen) de Sergipe e Bahia, usando gás natural, e por uma outra fábrica de fertilizantes, em Araucária, no Paraná, que usava um outro processo com resíduos de refinaria. As unidades foram fechadas pela decisão de olhar em um curto prazo a rentabilidade.
Mas os cálculos de nossos governantes foram de que importar essas matérias-primas seria muito mais “rentoso”. Os preços internacionais eram mais atrativos do que os de nossa produção. Assim, em 1992, a Fosfértil foi privatizada. Começava aí a derrocada da indústria nacional de fertilizantes.
Assim, ficamos expostos aos humores do mercado internacional. E a questão dos fertilizantes foi sendo tratada de forma inadequada. Nossa demanda é basicamente de macronutrientes comonitrogênio, fósforo e potássio, conhecidos pela sigla NPK.
“Hoje o Brasil importa 85% dos fertilizantes que consome para sua agricultura“
Desta forma, hoje o Brasil importa 85% dos fertilizantes que consome para a sua agricultura. No ano passado foram 43 milhões de toneladas. As três principais cadeias – soja, milho e cana-de-açúcar – consumiram 73% desse total. E esse volume coloca o Brasil como o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo, atrás dos Estados Unidos, da Índia e da China, e nós consumimos algo em torno de 8,5% a 9% de todo o produto no mundo. Mas a diferença é que esses outros três países são grandes produtores e exportadores de fertilizantes, e o Brasil não.
“o Brasil como o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo, atrás dos Estados Unidos, da Índia e da China”
Por tudo isso, a curto prazo, não resta outra alternativa a não ser o país correr atrás de alternativas que supram os fertilizantes que importamos da Rússia e Belarus, devido à guerra.
Quadro de dependência
E esse quadro de dependência não tem quaisquer possibilidade de modificação, arrisco dizer, nem mesmo a médio ou longo prazo. Isso por falta de uma política séria de investimento.
Hoje, com o pré-sal, há uma grande quantidade de gás disponível, não faz mais sentido que não se tivesse já criado um plano estratégico para produzir fertilizantes nitrogenados a partir das imensas quantidades de gás natural disponíveis no pré-sal.
Já em relação ao fósforo e ao potássio, existem recursos no Brasil, mas nenhum projeto concreto tem sido desenvolvido em escala necessária. Porque também não foram desenvolvidos os estudos geológicos para descobrir mais recursos, fazer o seu estudo de viabilidade econômica para convertê-los em reservas e aí passar a produzir os fertilizantes aqui no Brasil.
Soluções possíveis
Portanto, há soluções possíveis para alavancar a produção de fertilizantes no Brasil, reduzindo os custos, aumentando a produtividade, gerando mais empregos.
“É preciso revisar as políticas públicas”
Mas é preciso revisar as políticas públicas. E não estou falando do Plano Nacional de Fertilizantes, apresentado pelo governo federal duas semanas depois do início da guerra entre Rússia e Ucrânia, que mais se parece com um projeto eleitoreiro, feito às pressas, para mostrar que há ação para mudar a situação.
Só vamos realmente mudar essa situação com seriedade e projetos reais e factíveis.
(*) Jornalista há 36 anos, atuou na Folha de Londrina, Jornal de Londrina e RBS. Foi editor de economia e agronegócio no DCI. Contato pelo e-mail [email protected]
3 respostas
E há os biofertilizantes derivados de macroalgas, que poderiam ser obtidos em dois meses de cultivo, caso se desse o devido espaço e recursos a essa atividade.
Sim, o Brasil tem todas as condições de avançar na produção de todos os tipos de fertilizantes. Mas isso interessa a quem????
Artigo excelentes….