Por Juliano Moreira, especial para os Jornalistas Livres
O posicionamento “anti-vacina” do tenista sérvio Novak Djokovic lhe custou a participação no primeiro grande torneio do ano, o Aberto da Austrália, no qual já foi nove vezes campeão.
Talvez a disputa mais longa da carreira do atual número 1 do mundo, que curiosamente se deu fora das quadras, ficou marcada por mentiras, falta de empatia e o descaso com a pior crise sanitária dos últimos anos.
O jogador sérvio, que não é vacinado, recebeu uma isenção médica para competir baseada na informação de que ele havia recentemente se recuperado da Covid-19. Contudo, ao chegar em Melbourne, cidade sede do torneio, ele foi informado pela imigração de que não tinha provas suficientes que possibilitassem a sua entrada no país.
O governo australiano aponta para a possibilidade de Djokovic ter submetido uma declaração de viagem falsa, segundo a imprensa local. É publicamente sabido que o tenista não tomou nenhuma dose da vacina contra a Covid-19.
Ao mesmo tempo em que o atleta afirma ter contraído o vírus, fotos em seu Instagram mostram que ele participou de eventos na Sérvia e na Espanha sem usar máscara durante o período em que supostamente estava contaminado. Irresponsabilidade?
Djokovic foi mantido em um hotel-detenção por cerca de duas semanas. Nesse período, o ministro da Imigração da Austrália, Alex Hawke, optou por cancelar o visto do jogador. O caso, então, foi ouvido por um plenário do Tribunal Federal do país que decidiu, neste domingo (16/1), por unanimidade, pela deportação do astro sérvio.
Para boa parte da mídia esportiva mundial, a imagem do atleta saiu completamente desgastada desse turbilhão. O maior problema é que essa não é a mesma opinião compactuada por muitos australianos (e brasileiros que vivem no país) – os auto-intitulados “freedom fighters” – que agora o classificam como herói.
O tabloide local “Herald Sun” noticiou que grupos anti-vacinas prometeram lealdade apaixonada ao tenista. O grupo de extrema direita Reignite Democracy Australia, que tem um extenso histórico de promoção de desinformação sobre a Covid-19, afirmou que Djokovic se tornou “o farol de esperança para todo o movimento pela liberdade”.
Em postagem no Twitter na sexta-feira, o grupo acusou o governo de cometer um “grande erro” ao lidar com o tenista, agora tido como líder do movimento contrário a vacinação.
“Uau, Novak acabou de se tornar o farol de esperança para todo o movimento pela liberdade? Se ele está determinado o suficiente para ser o número 1 no tênis, aposto que está determinado o suficiente para ser livre também! Governo australiano, você cometeu um grande erro, você exagerou”, diz o tweet.
O micro-partido Informed Medical Options também adotou Djokovic como seu garoto-propaganda – usando-o na tentativa de promover a ideia de que as medidas de segurança da Covid são politicamente orientadas.
Segundo o Herald Sun, o líder do partido, Michael O’Neill, que administra um retiro de saúde alternativo, argumentou que o primeiro-ministro do país, Scott Morrison, estava usando Djokovic para “alimentar a moeda do medo” em torno da Covid-19.
Em Sydney, o ex-deputado liberal Craig Kelly, que participou de um protesto contra a vacinação, chamou o tenista de “prisioneiro político do regime de Morrison”.
Kelly, líder do partido de direita Austrália Unida, disse que estava com vergonha de ser australiano depois que o visto de Djokovic foi cancelado.
“O primeiro-ministro colocou o tenista Novak Djokovic em detenção hoje”, disse ele. “Hoje, o tenista número 1 do mundo é um prisioneiro político do regime de Morrison”, afirmou.
De acordo com o jornal “The Sydney Morning Herald”, pelo menos mil pessoas participaram do ato, protestando contra as medidas sanitárias do governo e agitando bandeiras da Austrália e da Sérvia.
Os manifestantes também exibiram cartazes com mensagens como “A liberdade não precisa de passaporte”, “Não tire as mãos de nossos filhos” e “Sem vacinas são os novos judeus da década de 1940”.
Vários manifestantes também mostraram cartazes com as palavras “Proteja a liberdade de escolha” e o logotipo do partido de extrema-direita One Nation.
2 respostas
Matéria muito boa. Esse tenista é um imbecil…jogou a carreira dele fora. Precisamos de mais informações sobre a regiões da Oceania da Ásia nos noticiários.
A pergunta que se põe é a de saber a que ponto o alegado direito de ser livre vai. O tenista é livre, na terra dele, de ir e vir. Mas ele não tem direito inalienável de entrar em outras terras e colocar a saúde de outras pessoas em risco. A liberdade dele é mais importante do que a saúde dos outros?