Apagão no sistema do CNPq é síntese da destruição da ciência no Brasil

Segundo relatos na internet, a placa do único servidor que abriga a Plataforma Lattes queimou no sábado 24 de julho. MCTI não informa quando e se voltará ao ar e ninguém sabe se e quanta informação de todos os pesquisadores em atividade no País foi perdida

Quantos pesquisadores estão em atividade hoje no Brasil? Como as pesquisas se dividem por estados e regiões? Quantos são homens? Quantas mulheres? Quantos negros? Quantos pesquisam em nível de graduação? Quantos são doutores e doutoras? Quais são os Grupos de Pesquisa? Que tipos de projetos estão sendo realizados? Há convênios internacionais? Pesquisadores e pesquisadoras do país estão atuando em quais universidades? Todas essas questões e muitas outras estão, ou melhor ESTAVAM, disponíveis nos sistemas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, subordinado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – MCTI.

Desde sábado 24 de julho, devido a um problema ainda não oficialmente esclarecido pelo MCTI, todos os sistemas de informática do CNPq estão indisponíveis, incluindo a Plataforma Carlos Chagas (que controla as bolsas de pesquisa da instituição) e a Plataforma Lattes (de registro das atividades de pesquisa superior no Brasil como o Currículo Lattes, o Diretório de Grupos de Pesquisa, o Diretório de Instituições e Extrator Lattes). Com mais de 70 anos de atividade, o CNPq lançou em 1999 um dos principais sistemas públicos e gratuitos de registro de atividades de pesquisa do planeta, a Plataforma Lattes, exportado para vários países como Chile, Argentina e Portugal. Mas os investimentos em Ciência e Tecnologia, que já estavam caindo no começo do segundo mandato de Dilma Roussef, despencaram desde o Golpe de 2016 e estão sofrendo cortes históricos no governo negacionista e anticiência de Bolsonaro.

Assim, os sistemas do CNPq, que têm apresentado instabilidade há tempos, simplesmente saíram do ar no sábado e somente nessa terça, com a grita da comunidade acadêmica, o perfil oficial da entidade resolveu lançar uma nota oficial lacônica.

Horas mais tarde, finalmente a página da Plataforma Lattes trocou o ícone de “arquivo triste” e a mensagem em inglês “The connection was reset” por uma nova nota que não explica o problema e promete que não haverá prejuízo para ninguém. Mas segue sem previsões de quando o problema será resolvido.

Em áudio amplamente difundido pelas redes sociais e grupos acadêmicos, uma servidora não identificada do CNPq explica que houve a queima da placa do único servidor do CNPq e não há como prever a quantidade de informações perdidas. Podem ser de alguns minutos, dias… Ao que parece, o último backup completo dos sistemas do CNPq foi realizado em 2018, antes portanto do astronauta vendedor de travesseiros falsificados da NASA assumir o MCTI. Muitos pesquisadores na pós-graduação lembram, ainda, que este ano a Coleta Capes, que afere a produtividade acadêmica e dá nota aos programas de mestrado e doutorado, incluiu pela primeira vez a exigência de preenchimento do Google Acadêmico, transferindo aos professores a tarefa de alimentar gratuitamente com suas informações pessoais e profissionais um sistema privado transnacional sem qualquer controle da comunidade acadêmica.

O fato é que o apagão do CNPq reflete exemplarmente o desmonte de todas as instituições públicas do Brasil feito por um governo de destruição nacional e entrega do patrimônio brasileiro (sejam terras, empresas ou mentes) a qualquer preço. É a política de terra arrasada. Salve-se quem puder! Se isso está sendo feito no melhor programa de imunização do mundo bem no meio da maior pandemia em um século, ao custo de mais de 550 mil vidas e milhões de órfãos e sequelados, imagine então com algo tão vilipendiado por bolsonaristas como a pesquisa e as universidades?

COMENTÁRIOS

Uma resposta

  1. Quando imaginamos que não pode ficar pior, piora. Sem backup cara, SEM BACKUP!!! Como pode? Que descaso com a ciência. Vamos torcer para que dados importantes não tenham se perdido nessa patifaria.

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